Figuras de Lisboa

Todas as cidades têm a sua história, que não é construída apenas com as pedras, as ruas, as casas. Também é feita pelas pessoas que lá vivem e trabalham e que, com as suas características, dão à cidade a sua personalidade particular, a sua cultura, a sua face humana.
O Museu da Cidade decidiu, e muito bem, organizar uma exposição, a que chamou "Lisboa tem Histórias". Aí, mostra vivências, histórias e costumes protagonizados por figuras míticas, anónimas ou pouco conhecidas, mas que deram o seu contributo para a singularidade lisboeta. Ontem era o último dia e eu lá consegui ir até ao Museu da Cidade, no antigo Palácio Pimenta, no Campo Grande.
Havia animações teatrais. Fui recebida pela Madame Villaret, modista do Chiado no século XIX, perita em espartilhos e mamas postiças. Atrás, a leiteira de Alfama, Albertina de Jesus, dava o toque popular e ensinava os pregões tradicionais. Ainda me lembro de ouvir alguns pregões, quando era pequenita, como o "Ó viva da costa!" Não me imaginava (e quem me conhece, se calhar, também não!) a gritar um pregão. Mas, ontem, lá fui no ambiente e apregoei o melhor que consegui o pregão que me calhou em sorte: "Mexilhão, para o almoço da criada e do patrão!" , que, como é evidente, desencadeou uns quantos comentários brejeiros!
A exposição mostra-nos uma quantidade de figuras que fizeram parte da história da cidade, algumas bem singulares, como o Luciano das Ratas, que recolhia objectos valiosos e matava ratazanas nos esgotos da Baixa, para onde entrava na maré vazia (fez isto ao longo de vinte anos, até 1903). Ali encontramos Mateo Agustin, o aguadeiro galego, Madre Paula, a religiosa do Convento de Odivelas que era amante do rei D. João V, as Manas Perliquitetes. Conhecemos a Estanqueira do Loreto, que tinha a sua loja de tabacos junto à Igreja do Loreto e tinha um nariz tão grande que o poeta Bocage a incluiu entre as suas "sete maravilhas do Chiado". Figura excêntrica e escandalosa da Lisboa do início do século XX, a Preta Fernanda nasceu em Cabo Verde, mas veio para Lisboa, foi modelo de escultores, e acabou a frequentar os círculos sociais mais exóticos, a participar em touradas, enfim, a escandalizar meia-cidade. Por fim, não podia faltar nesta exposição o arquitecto e fotógrafo Victor Palla, que publicou em 1959 o livro "Lisboa, Cidade Triste e Alegre", que se tornou uma referência internacional. 
Todos estes personagens (e muitos outros que não referi) contribuiram para criar a personalidade da cidade. Parabéns ao Museu da Cidade por os dar a conhecer aos lisboetas e os devolver à vida, por alguns momentos.


Comentários

  1. Olá, Teresa
    Parece-me que foi uma iniciativa interessante por parte do Museu da Cidade. De facto, todas as cidade têm a sua história, tal como a "nossa" Alcochete, já goza de alguns personagens bem conhecidos. Quem sabe um dia o museu não pegue na dica...
    Bj

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  2. Há anos que não visito Lisboa.
    Gostei imenso de ler este teu artigo sobre a exposição "Lisboa tem Histórias" no Museu da Cidade, exposição essa, que muito gostaria de ver.
    Só me lembro muito vagamente de ouvir falar das Manas Perliquitetes, das outras figuras da cidade nada sei.

    Páscoa Feliz!

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  3. Ana
    Sim, por aqui há umas figuras típicas e uns figurões, que só visto!
    Bjs

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  4. Ematejoca
    Claramente, está na hora de voltares a visitar Lisboa, com aqueles olhos de turista que nós reservamos para o estrangeiro. Vais ver que vale a pena!
    As manas Perliquitetes: quando eu era pequena ainda se dizia, quando uma rapariga andava bem vestida e vaidosa: "Vai toda perliquitetes!" Só ontem percebi porquê!
    Bjs

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  5. Teresa

    é bom passear consigo por Lisboa!

    a minha querida cidade cheia de histórias recontadas por quem a ama.

    Uma boa Páscoa para si

    um beijo

    Manuela

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  6. Manuela
    É impossível ser lisboeta e não amar Lisboa, não é? A cidade cresceu, tem problemas, mas quem lhe conhece e reconhece as histórias, os recantos, os encantos, tem de a amar. Eu tenho escrito bastante sobre Lisboa. Gosto de o fazer e de mostrar que Lisboa tem muito mais do que filas de trânsito; é preciso é saber procurar.
    Bjs

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  7. Excelente iniciativa. Esta é sem dúvida a faceta de Lisboa que mais nos cativa. Afinal, o que seriam os bairros sem assuas gentes?
    Boa Pascoa!
    Bjs

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  8. Olá Vagamundos
    Os bairros de Lisboa ainda têm muitas coisas castiças!
    Bjs e Boa Páscoa para vocês também.

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  9. Obrigado pela notícia. Parece incrível, mas não sabia! Agora, vou agendar uma ida lá, porque me parece uma excelente iniciativa.
    Uma Páscoa Feliz

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  10. Obrigada pela dica.
    Vou já lá amanhã!
    Boa Páscoa

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  11. Carlos, Há.dias.assim
    Lamento dizer-vos mas acho que a exposição terminou esta semana. Também me parece que teve pouca divulgação, eu só soube da iniciativa por uma amiga, no final da semana passada.
    De qualquer forma, os jardins de buxo do Museu da Cidade também merecem uma visita: além dos pavões, que por lá andam sempre, há agora uma exposição de animais do Rafael Bordalo Pinheiro, organizada e continuada pela Joana Vasconcelos.

    Há.dias.assim
    Não consigo entrar no teu blogue. Faz uma alarde de vírus, com aviso sonoro e tudo. Vê o que se passa.
    Bjs

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  12. Teresa,

    A cada leitura que faço dos seus posts, conheço um pouco de Portugal. Quando acompanhamos uma notícia de outros países através da imprensa não é com a mesma intimidade de quem realmente mora (de corpo e alma) no lugar.

    Beijos e um ótimo final de semana.

    P.S: Muito obrigado pelo comentário que você deixou no meu post do dia 29 de março. Obrigado mesmo.

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  13. OFF TOPIC: Teresa! Vim esclarecer a pergunta que fez no seu último comentário!!! É que num post anterios, intitulado "CONTATOS CORDIAL" eu citei seu blog, mas em vez de colocar Teresa, troquei por Valéria, que era uma amiga que citei logo abaixo... daí Lis me avisou e eu corrigi!rs
    Foi só desatenção minha.
    Esclarecido?
    Um abraço!
    Jr.

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  14. Uma amiga falou-me sobre este Museu no Sábado, mas ainda não o conheço.

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