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A mostrar mensagens de abril, 2010

A velha fábrica de arroz

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Q uem disse que fora da zona de Lisboa não havia iniciativas culturais interessantes? Bem, eu já tenho dito, por vezes. Mas, desta vez, venho falar de uma iniciativa que me pareceu muito interessante e à qual vou estar atenta. Em Ponte de Sôr, no Alentejo, a meio caminho entre o litoral e a fronteira espanhola, havia uma antiga fábrica de arroz, que ocupava vários pavilhões e que estava há muito tempo desactivada. Foi recuperada e, depois de alguns contratempos, reabriu como um Centro de Artes e Cultura. Assume-se como um espaço multidisciplinar de âmbito cultural que, por isso mesmo, integra  várias instituições, desde a Fundação das Casas de Fronteira e Alorna até ao Festival Sete Sóis Sete Luas, que abrange parceiros culturais de vários países da Europa. Também tem um Serviço Educativo, claro, que coordena actividades para as crianças do concelho. Mas, muito mais interessante, alberga um Teatro, o Teatro da Terra, que revitalizou o velho Cine-Teatro da cidade. O Centro conta tam

O feitio do meu coração

Hoje acordei assim. E as notícias deste nosso país  à beira-mar plantado não têm sido muito alegres.

A Neblina do Passado

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Ainda à boleia do  Dia Mundial do Livro , que se comemorou há pouco, resolvi dar uma olhadela aos livros que tenho lido nos últimos tempos e eleger aquele de que gostei mais. Como todos sabem, sou um tanto caótica nas minhas leituras e leio todo o tipo de coisas, desde que me despertem a atenção, por alguma razão. Geralmente, tenho um fraquinho pela literatura lusófona mas, desta vez, o meu eleito não é um autor lusófono. É Leonardo Padura e o seu livro A Neblina do Passado.  Comprei-o por curiosidade, porque ganhou o Prémio Dashiell Hammett 2006, da Associação Internacional de Escritores de Romances Policiais. No entanto, A Neblina do Passado  é muito mais do que um livro policial. É uma viagem pela história de Cuba nos últimos cinquenta anos e  uma visão, desencantada e realista, da vida quotidiana na Havana da actualidade.  Havana, Verão de 2003. Passaram-se catorze anos desde que o desencantado tenente Mario Conde abandonou a polícia. Durante esse tempo, Cuba sofreu muitas altera

Dia de balanço

Passam hoje trinta e seis anos sobre a revolução de 25 de Abril. As comemorações ocorrerão, como de costume, no mesmo modelo estereotipado e esvaziado a que já nos habituámos. Como de costume, a população irá aproveitar o bom tempo para ir à praia ou tratar das suas coisinhas. Apenas um ou outro ouvido mais atento irá ouvir o discurso do Presidente da República, que costuma agitar um pouco as águas.  Não é de admirar que a maioria da população não veja motivos para festejar. A maior parte das expectativas geradas pela Revolução não se concretizou. O Movimento dos Capitães, que fez a Revolução, tinha como objectivos os três Ds: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização. Descolonizámos mal, desenvolvemo-nos pouco e a nossa democracia é o que se vê. O nosso défice público só tem comparação nos tempos da Primeira República e muitos dos nossos políticos não têm a grandeza necessária para porem os interesses do país à frente dos seus interesses pessoais ou partidários. Esperemos que, um d

Uma boa notícia no Dia Mundial do Livro

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Aqui há tempos, insurgi-me neste blogue contra a destruição de livros, alguns de indiscutível valia, que todos os anos é efectuada pelas editoras portuguesas. Hoje, a Ministra da Cultura declarou que sentia vergonha dessa situação (só lhe fica bem ter vergonha!) e que, para possibilitar a doação dessas obras excedentárias, as iria isentar de IVA e Direitos de Autor. Assim, as Editoras poderão doar estas obras, sem custos para ninguém. Enfim, uma boa notícia. E, neste Dia especial para todos os que gostam das palavras e dos livros, deixo Palavras de outros, que humildemente faço minhas. Palavras para ler e pensar. "Toda a beleza recôndita do mundo converge na arte da palavra."                   (Gabriele d'Annunzio) "Que outros se gabem das páginas que têm escrito; a mim orgulham-me as que tenho lido. Não terei sido um filólogo, não terei inquirido sobre as declinações, os modos, a laboriosa mudança das letras (...), mas ao longo dos meus anos tenho professado

Dia da Terra

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( Logo da Google para o dia de hoje) Hoje é o Dia da Terra. Toda a efeméride é uma forma de lembrete e aí está ela, a Terra, a lembrar-nos como é poderosa. Nos últimos tempos, somos quase diariamente confrontados com notícias terríveis, de sismos e tsunamis, de tornados, inundações e deslizamentos de terras. Há milhares de pessoas que morrem, outras tantas ficam com as suas vidas, de repente, completamente desorganizadas, as habitações destruídas, os modos de vida alterados. Falamos das alterações climáticas e das culpas humanas. Choramos, batemos no peito e organizamos acções de solidariedade. Ultimamente, foi o vulcão Eyjafjöll (credo, que nome difícil de escrever!), na Islândia, que entrou em erupção e, com as suas nuvens de cinza, criou o maior caos nos transportes aéreos de que há memória, superior até ao que se seguiu aos atentados de 11 de Setembro. Além do transtorno nos transportes aéreos, teve reflexos que ainda estão a ser contabilizados, na economia, devido aos prejuízos n

Postal de Lisboa XIV - Os Cafés dos Poetas

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Tal como noutras cidades europeias, há espaços em Lisboa que são indissociáveis dos poetas e escritores que os frequentaram. O espaço que nos vem logo à memória é o café “Martinho da Arcada”, nas arcadas do Terreiro do Paço. As paredes estão cheias de invocações de Fernando Pessoa e dos seus amigos, com quem aí se encontrava. Ainda podemos ver qual era a mesa em que o poeta se costumava sentar. Mas encontramos também o mesmo poeta n’ “A Brasileira” do Chiado. Aí, a estátua de Fernando Pessoa senta-se comodamente na esplanada, parecendo olhar quem passa, como tantas vezes o terá feito em vida. No largo fronteiro ao Café, António Ribeiro Chiado, do alto do seu pedestal, aponta para o espaço com ar escarninho. É o poeta Chiado que, no século XVI, ao vir instalar-se nesta zona da cidade, acabará por lhe dar o nome. Caminhando para o Rossio, encontramos a bela fachada do café “Nicola”, que o poeta Bocage frequentava e que chegou a nomear nos seus versos satíricos. Ao fundo do café, um

Desflorestação

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A desflorestação resultante das alterações climáticas e da acção humana tem os resultados mais surpreendentes. Ora vejam. (imagem recebida por e-mail)

Pesadelo blogosférico

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Os autores da BlogGincana fizeram, este mês, um desafio diferente: contarmos algum problema que se nos tenha deparado no Blogger. Na verdade, nunca tive um problema complicado ou insolúvel. Desde que iniciei este blogue, os problemas limitaram-se a um comentário que não quer ser publicado, ou um tipo de letra que não quer mudar para o que eu escolho, ou uma fotografia que insiste em colocar-se onde lhe apetece. Nada de mais grave, que não se resolva com um pouco de paciência. Até à noite passada… Acordei com uma estranha sensação de angústia. Alguma coisa me levou até ao meu computador portátil, que esperava obedientemente, como sempre, em cima da mesa do escritório. Liguei-o e logo aí começaram as anomalias. A cor do ecrã variava entre o verde e o arroxeado. Depois de um bom bocado de tempo, consegui aceder ao Blogger, mas não passei daí: o meu blogue, pura e simplesmente, tinha-se evaporado. A cada nova tentativa de o abrir, o Blogger perguntava-me simpaticamente se queria criar um

Os tijolos da amizade

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A propósito do post que editei sobre a amizade entre a minha gata Sushi e o urso de peluche, uma das comentadoras ocasionais deste blogue, a Maré Alta , desafiou-me a fazer um post, precisamente, sobre o tema da Amizade. O que constrói uma amizade? Com que tijolos se edifica? Devo dizer que o tema é difícil e ambicioso. Já se escreveram tratados sobre o assunto e outros tantos se irão escrever, sem conseguirmos chegar a acordo. Se pensarmos nas inúmeras frases e provérbios que a sabedoria popular nos oferece, espelham bem esta ambiguidade do tema. Enquanto algumas frases exaltam o valor da amizade e os seus benefícios, outras apontam antes a sua raridade. Muitas frases alertam também para a fragilidade da amizade, que pode ser quebrada por razões, tantas vezes pueris, ligadas às relações amorosas ou ao dinheiro, por exemplo. Estou em crer que a sabedoria popular é certeira: a amizade verdadeira é rara e frágil e, como tal, preciosa. Confundimo-la vezes de mais com simples relações soc

Viver em Veneza

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P rometi ao Carlos, das Crónicas do Rochedo , eleger também a cidade da minha vida fora de Portugal. Depois de muitas hesitações, resolvi eleger Veneza como a minha cidade... fora do meu país. Há aquela razão óbvia, de ser uma cidade belíssima. Mas há também outras razões, que se prendem com os sentimentos e as emoções. Estive em Veneza por três vezes, em 1979, em 1982 e depois outra vez em 2005.  Cada uma destas vezes foi especial, embora por razões diferentes.  Este texto é também uma republicação (peço desculpa a quem já o leu!) de um post que editei no meu outro blogue, Olhares Viajantes , onde vou alinhavando as minhas impressões de viagens. (Vista da laguna de Veneza, a partir da Praça de S. Marcos) Há alguns anos, no decorrer de um curso internacional, coloquei a um velho professor veneziano uma questão que há muito tempo me intrigava: "Tem automóvel?" Ele abriu os olhos, espantado, e retorquiu-me: "Para quê?" (Um canal em Veneza, com gôndolas) De fact

O primeiro Postal de Lisboa

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O Carlos, das Crónicas do Rochedo , fez um desafio interessante para ser cumprido este mês: o desafio é fazer um post sobre a cidade da nossa vida. No meu caso, é fácil: acima de todas, Lisboa, claro, não a Lisboa dos centros comerciais e das filas de trânsito, mas a outra, dos recantos e encantos que só os alfacinhas sabem apreciar. Quanto às cidades estrangeiras, e depois de muita hesitação, escolhi uma cidade que, além de ser muito bela, tem para mim um significado especial por lá ter estado em circunstâncias muito particulares da minha vida. Mas só amanhã a vou divulgar. Este post é uma republicação do primeiro "Postal de Lisboa" editado neste blogue. (No barco, a caminho de Lisboa) Já visitei várias capitais, grandes cidades do mundo, mas, para mim, nenhuma se compara a Lisboa. Nasci na Maternidade Alfredo da Costa, já lá vão uns anitos, cresci entre a Penha de França e Benfica. Lisboa é a minha cidade. Consigo ver o que tem de belo e o que tem de p

Elogio da Sesta

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Há uma característica do mundo laboral português que me irrita solenemente e que, por infelicidade, se tem vindo a afirmar cada vez mais: é a síndrome do funcionário perfeito. O funcionário perfeito é um obcecado pelo trabalho. Não tem horário de trabalho, tem objectivos a cumprir. Se o trabalho não for acabado na empresa, será acabado em casa; afinal, para que se fizeram os computadores? O trabalhador excelente não precisa de tantos dias de férias; se tem direito a vinte e dois, tira quinze, a empresa não sobrevive sem o seu contributo. Há reuniões fora de horas? Que importa? O trabalho está primeiro. O preenchimento de dez relatórios e a avaliação de vinte planos (pelo menos) é seguramente mais importante do que o tal tempo de qualidade que nos mandam ter com os nossos filhos. É preciso ir ao médico com o mais velho, ao dentista, à escola do mais novinho? Azar, não se pode faltar. Mas... está na Lei! Qual Lei? Essa lei não se aplica ao trabalhador excelente, que põe o seu trabalho ac

Baterias Solares

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Já o tenho dito, funciono a baterias solares. Este inverno deixou-me com as baterias em baixo, mas agora recomeço a recarregá-las. Amo estes dias ensolarados de Primavera. A paisagem ainda não tem aquele ar cansado e sujo do fim do Verão, tudo tem um aspecto jovem, radioso, cheio de vida. Apetece-me agarrar o verde vivo das árvores, os tapetes de florinhas brancas, amarelas, azuis, roxas, que despontam por todo o lado. Sinto-me capaz de beber o azul puro e límpido do céu. Encho os olhos com os milhentos pontinhos brilhantes que cobrem as águas preguiçosas do mar. Tenho vontade de rodopiar, de braços abertos, enquanto o sol me bate na cara. Só não o faço porque não pareceria nada bem, numa senhora com um aspecto respeitável. Mas a minha alma rodopia, sem ninguém ver.

Postal de Lisboa XIII - As Vilas Operárias

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Um dos aspectos mais interessantes de Lisboa são os antigos bairros operários, as chamadas Vilas. Os Pátios ou vilas têm origem na civilização árabe, que tanto nos marcou, e permitem uma convivialidade intimista entre vizinhos, muito típica das sociedades mediterrânicas e também da sociedade lisboeta. (Arco de entrada da Villa Bertha) Voltam a surgir na capital nos finais do século XIX, princípios do século XX, durante o surto de industrialização que caracterizou esse período. Na verdade, agrupavam os operários que vinham trabalhar nas novas indústrias da cidade e, por isso, encontramos estas vilas nas zonas humildes ou periféricas, como por exemplo a Graça ou Alfama. Há várias que ainda existem, outras desapareceram. Recordo-me, quando era miúda, de brincar com amiguinhas que moravam na Vila Cândida, que se situava na mesma avenida onde eu morava. Ainda hoje existe a Vila Maia, a Vila Souza, o Bairro Grandella.  O que têm de especial, de diferente, é o facto de serem

Amizades improváveis

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Tenho uma gata chamada Sushi. Nasceu no quintal de um vizinho e eu apaixonei-me por aquela bolinha de pêlo branco e dei-lhe o nome (não sei bem porque é que decidi chamar-lhe Sushi!) ainda antes de saber se era rapaz ou rapariga.  No início, era muito tímida e arisca. Passou os primeiros dias debaixo dos armários da cozinha, a espreitar cá para fora com ar desconfiado. Depois, pouco a pouco, foi tomando posse da casa. E de nós todos, claro! Segue-me como um cachorrinho pela casa toda. Adora deitar-se ao meu colo ou, se estou  a trabalhar no computador, junto às minhas pernas. Também gosta de passear pelo meu quintal. Nunca se afasta muito, observa os melros e os pardais, brinca com as lagartixas, tenta apanhar as borboletas. Quando quer voltar para casa, mia para lhe abrirmos a porta. Tem um invejável reportório de miados diferentes, que utiliza conforme os desejos e as ocasiões e que já nos habituámos a distinguir. É uma companhia tranquila. Agora, arranjou um novo amigo. É um urso de

In memoriam

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(Texto produzido a propósito do desafio de Abril da Fábrica das Letras,  com o tema Abismo ) Foi andando cada vez mais devagar, até parar o carro junto ao murete de protecção da ponte. Abriu a porta e acercou-se da balaustrada, ainda sem a certeza do que queria ou não fazer. As águas cor de tinta-da-China, correndo numa forte torrente de princípio de Primavera, lá em baixo, chamavam-no, como um apelo à liberdade. Sentia a atracção do abismo, daquele abismo. Ninguém se desfaz da vida como de uma camisa velha. Mas ele olhava à volta, com os olhos da alma, e não encontrava outra saída. Tinha cinquenta anos e uma vida de procura. Não é simples “fazer a vida”. Os pais, os amigos diziam-lhe “Tens de fazer a tua vida”. Isso significava o quê? Desistir da música, dos sonhos? Arranjar um emprego a fazer, todos os dias, coisas de que não gostava? Sim, tinha-se convencido de que era essa a solução para “fazer a sua vida”. Tinha feito um curso superior, mas não tinha encontrado um emprego e, afi

Figuras de Lisboa

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Todas as cidades têm a sua história, que não é construída apenas com as pedras, as ruas, as casas. Também é feita pelas pessoas que lá vivem e trabalham e que, com as suas características, dão à cidade a sua personalidade particular, a sua cultura, a sua face humana. O Museu da Cidade decidiu, e muito bem, organizar uma exposição, a que chamou "Lisboa tem Histórias". Aí, mostra vivências, histórias e costumes protagonizados por figuras míticas, anónimas ou pouco conhecidas, mas que deram o seu contributo para a singularidade lisboeta. Ontem era o último dia e eu lá consegui ir até ao Museu da Cidade, no antigo Palácio Pimenta, no Campo Grande. Havia animações teatrais. Fui recebida pela Madame Villaret, modista do Chiado no século XIX, perita em espartilhos e mamas postiças. Atrás, a leiteira de Alfama, Albertina de Jesus, dava o toque popular e ensinava os pregões tradicionais. Ainda me lembro de ouvir alguns pregões, quando era pequenita, como o " Ó viva da costa!"