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A mostrar mensagens de março, 2012

Slow Blog

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A ideia surgiu no NY Times, com um manifesto chamado "Blogging at a Snail's Pace". Surgiu da ideia de recusar a blogagem rápida que, como a "Fast food", destruidora de tradições e alimentação saudável, também não favorece a reflexão e a estruturação do pensamento. Surgiu do movimento "Slow Food", contra o imediatismo, a pressa, a favor da reflexão, da preparação, da exposição de uma ideia sem pressas nem cortes, amadurecendo as ideias antes de as expor. Achei muito interessante esta ideia. Sinto também esta contradição entre as postagens rápidas, em que se baseiam as redes sociais, e o gosto pela escrita, pela explanação de uma ideia, de um raciocínio, de uma análise da realidade. Não se consegue analisar muita coisa em 140 caracteres. Não que eu seja contra o Facebook, ou qualquer outra rede social. Todas têm o seu lugar e, se existem e têm sucesso, é porque são de algum modo necessárias. Também estou no facebook e gosto de lá passar, ver as fot

Os Sexalescentes

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Recebi, através da internet, um texto que achei muito interessante. Não sei quem o escreveu, por isso limito-me a reproduzi-lo tal como o recebi. Trata de uma nova realidade: a das pessoas que, estando agora na faixa etária à roda dos sessenta anos, têm uma atitude nova perante a vida, o trabalho, as relações familiares e amorosas, o lazer, a imagem que fazem de si próprias. É uma realidade quase revolucionária, mas de que mal nos apercebemos, uma revolução silenciosa. Na geração dos nossos avós, os sessenta anos representavam o limiar da velhice. Agora, representam o limiar de uma nova disponibilidade para o mundo, mais refletida, mais madura, mas nem por isso menos plena. Vale a pena ler. Está aparecendo uma nova faixa social: a das pessoas que andam à volta dos sessenta anos de idade, os sexalescentes: é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer. Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica, p

Do ramo mais alto da árvore

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Como fazia todas as manhãs, Pongo saltou para a árvore e trepou até ao ramo mais alto. Acomodou-se, esticou as patas, lambeu o dorso. Gostava daquele poleiro, um miradouro privilegiado sobre a quinta, de onde via tudo sem ninguém dar por ele. Não que lhe prestassem muita atenção quando andava lá por baixo: um gatarrão cinzento, de meia idade, sem muita paciência para as brincadeiras dos mais novos, não era uma companhia muito solicitada! Assim, acomodava-se ali em cima e observava tudo. Via as brigas dos cães e o alarido que faziam quando passava uma bicicleta pelo portão da quinta. Via os melros que depenicavam as sementes e os botões dos malmequeres. Ria-se com as manobras das lagartixas, que se escondiam atrás dos vasos de flores. Apreciava as brincadeiras dos gatitos mais pequenos, que por ali brincavam. Sim, porque havia sempre gatinhos pequenos na quinta. Uns desapareciam, outros cresciam e tornavam-se gatarrões como ele. Pongo gostava de observar as suas brincadeiras. Achava

Foi há 50 anos

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Há 50 anos, o Salazarismo continuava instalado de pedra e cal aqui na capital do império. Após a convulsão provocada pela vitória dos regimes democráticos na 2.ª Guerra Mundial, o regime português conseguira manter-se no poder e os brandos costumes continuavam. No entanto, os ventos da História sopravam em direções diferentes. A Guerra Colonial já incendiava Angola e os jovens portugueses começavam a interrogar-se e ao seu futuro. Faz hoje 50 anos, em 24 de março de 1962, os estudantes universitários de Lisboa pretendiam comemorar o Dia do Estudante, como já se fazia há anos. Mas o ambiente mudara. Desde o mês de novembro anterior que havia manifestações contra a Guerra Colonial, repressão e prisões de estudantes, embora pontuais. E, naquele dia de março, decidiu-se que as comemorações iriam decorrer, mesmo sem autorização do Ministério da Educação. O regime respondeu com o encerramento da Cantina e a invasão da Cidade Universitária. Centenas de estudantes foram espancados e presos.

Para a minha filha

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A minha filha faz hoje dezoito anos.  Como me faltam as palavras, pedi algumas emprestadas a  Sophia de Mello Breyner Andresen. Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas. Para ti criarei um dia puro Livre como o vento e repetido ...Como o florir das ondas ordenadas.

E lá chegou a primavera...

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Hoje começou a primavera. Com um dia de avanço, por ser este um ano bissexto. Confesso que tenho andado tão absorvida na crise, e na gripe, e no trabalho, que mal dei pela sua aproximação. Mas a passagem das estações é completamente indiferente a essas questões e, portanto, a primavera lá chegou, pontualmente, às 5 horas e 14 minutos desta madrugada. A chegada da primavera significa simplesmente que estamos no equinócio, isto é, um dos momentos do ano em que os dias são iguais às noites. E realmente, se não andarmos distraídos, reparamos que os dias são cada vez maiores. E que nas árvores começam a surgir os primeiros botõezinhos, ainda que envergonhados e mirrados pela seca. É a época da renovação, em que tudo renasce. Mas a crise esmagou-nos com tanta força que estamos com dificuldade em esticar os nossos ramos e renascer. A austeridade quebrou-nos a esperança. Tentamos manter as nossas raízes firmes na terra e esperamos que passe o mau tempo. No resto do mundo também se festeja

Portugal colorido

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Um destes dias, fui à minha costureira buscar umas calças que lá tinha deixado a arranjar. É uma rapariga russa, que veio para Portugal há uns cinco anos. É uma mulher despachada, mostra sempre boa-vontade em resolver os problemas, cumpre os prazos combinados com as freguesas. Abriu uma lojinha com um balcão, de onde emerge o seu rabo de cavalo dourado como um feixe de trigo, sempre atenciosa e educada. Fala com um sotaque característico, embrulhando os verbos e os substantivos, mesmo quando fala com os dois filhos, que andam na escola e já falam português melhor do que ela. Depois, passei pela lavandaria. Pertence a um casal argentino, que começou este negócio com muitas dificuldades. Prosperaram graças à simpatia e à competência, sempre prontos a tentar todas as estratégias para lutar contra alguma nódoa mais difícil. A filha mais velha já trabalha com eles, a mais nova ainda anda na escola. Nunca perderam o sotaque cantado e colorido e os olhos verdes da mulher ainda refletem com

Um encantamento... para sempre

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O texto que se segue é uma republicação. A Luma Rosa lançou uma blogagem coletiva com o título, sugestivo, de Amor aos Pedaços. A primeira fase é sobre o Encantamento, aquele momento em que sentimos que desperta em nós um amor incondicional, sem barreiras temporais ou de qualquer outra espécie. O momento de entrega a outro ser, um momento mágico, o início do para sempre! Este texto retrata um desses momentos: o nascimento de um filho. E aquela hora em que nos encantamos... para sempre! A   mulher abriu a porta do automóvel e dirigiu-se com dificuldade para a entrada do hospital. No guichet, a funcionária perguntou-lhe: - Está muito aflita? Traz acompanhante? Precisa de cadeira de rodas ou acha que consegue andar? Diga-me só o nome e a morada. Respondeu às perguntas e explicou que vinha com o pai. O marido tinha ficado em casa, com os dois filhos mais velhinhos. - Pode entrar, o elevador é ali à direita. Sai no 2.º andar, eu vou avisar, a enfermeira já vai estar lá

Postal de Lisboa XIX – Os Panteões Nacionais

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(A Igreja de Santa Engrácia vista de São Vicente de Fora) Diz o dicionário que o Panteão é o conjunto dos deuses, ou o local onde se presta culto aos deuses, mas, atualmente, é o nome dado ao edifício consagrado à memória dos homens ilustres e onde se depositam os seus restos mortais. Há em Portugal dois mausoléus aos quais foi dada a designação de Panteão Nacional: o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, porque aí se encontram os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I; o outro é a Igreja de Santa Engrácia. Esta Igreja começou a ser edificada em 1682, mas as obras só terminaram em 1966, dando origem à expressão “obras de Santa Engrácia” para algo que nunca mais acaba. O edifício é recuperado para Panteão Nacional em 1916, em plena Primeira República, colocando aí os túmulos dos nossos presidentes da República e de escritores portugueses. Aí estão sepultadas personagens tão diferentes como os nossos primeiros presidentes, Teófilo Braga e

As madrugadas

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É de madrugada que as tempestades assolam os quartos, onde tentamos dormir. É a hora de todos os pesadelos, quando os fantasmas rodopiam e se instalam à nossa volta. Li em algum lugar, algum dia, que não há mais escuro do que a meia-noite. Mas há, sim. Há aquela hora que não é noite nem dia, nem ainda madrugada. A hora dos nevoeiros, das figuras que passam fantasmagóricas na rua. A hora em que cada ruído assume um significado colossal, que nos deixa alerta, nem sabemos bem para quê. A hora em que cada pensamento que arredamos durante o dia, regressa, triunfante. Sim, porque os pensamentos indesejáveis fogem do sol como o diabo da cruz. Mas, a coberto das madrugadas, voltam e sentam-se à nossa beira. Para onde quer que viremos a cabeça, eles aí estão, repetindo as mesmas ideias, como uma ladainha que nos enreda e da qual não conseguimos sair. É a hora das tempestades.    (Van Gogh Noite Estrelada - Imagem retirada da WikipediaCommons)

Memória de celulóide

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Entrou no bar com a fotografia na mão como se fosse uma bússola, que a orientasse na procura do caminho. Parou um pouco à entrada, olhou as mesas cheias de gente que bebia, ria e tagarelava. Viu uma mesa pequenina livre e dirigiu-se para lá. “Uma Cuba libre, se faz favor.” Voltou a olhar para a fotografia, onde sorria um belo rapaz, de cabelos encaracolados e olhos claros. O padrão e o feitio da camisa datavam-na dos anos 70. Era a única fotografia que tinha restado de um verão, feito de banhos de mar e beijos salgados, muita risota entre sumos naturais na esplanada da praia, danças apaixonadas nas noites de discoteca. Depois do verão, as aulas e o afastamento. Ficou um nome e aquela fotografia, a demonstrar que tinha sido real. “Olá! És a Laura, não és?” Reconheceu logo a voz. E os olhos claros, embora agora escondidos atrás de uns óculos de armação escura e rodeados de papos. Trocaram sorrisos. As palavras não saíam com tanta facilidade como no chat do facebook, onde se tinham

As Meninas do Calendário

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Provavelmente, a única vantagem de estar doente é poder ler ou ver televisão com descanso e tempo. Ontem, dia internacional da Mulher, aconteceu, seguramente não por acaso, que passaram na televisão dois filmes muito interessantes e simbólicos da evolução da situação da mulher no último meio século. Durante a tarde, a FoxMovies (passe a publicidade) ofereceu a quem o quis ver "O Relatório Kinsey", um filme muito menos polémico do que o livro que lhe deu origem. O Relatório Kinsey foi provavelmente o primeiro grande estudo científico sobre a sexualidade e os comportamentos sexuais humanos. Só por isso, já merecia destaque. Mas o professor Kinsey atreveu-se a dedicar todo um livro apenas à sexualidade feminina, tratando com objetividade e naturalidade temas tabus como o orgasmo ou a masturbação nas mulheres. Na época, gritou-se "Escândalo!" e foi acusado de faltar ao respeito à mulher americana, lançando sobre ela esse olhar. Mais tarde percebeu-se que quem não r

Há gripes e gripes!

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E cá estou eu com gripe outra vez! Entre espirros e gemidos, dei por mim a refletir sobre a Gripe A. A famosa, temível, incontornável Gripe A que, qual peste negra, se anunciava como um flagelo irremediável em todos os telejornais do inverno de 2009. Andou meio mundo a comprar líquidos para limpar as mãos de todos os germes, que se traziam na carteira, e apareceram recipientes com gel para limpeza em todos os espaços públicos, desde casas de banho a aeroportos. Na minha escola, os miúdos utilizavam-no logo de manhã para pôr no cabelo, era uma alegria! Lançaram-se folhetos com indicações da mais elementar higiene, como deitar no lixo os lenços de papel usados. A Direção Geral de Saúde divulgava comunicados, com conselhos, explicações sobre os tipos de gripe, tabelas de óbitos a nível mundial. Aconselhava-se o uso de máscaras e a vacinação em massa. As escolas tiveram de fazer planos de contingência. E, afinal, chegou-se à conclusão de que aquela mortífera gripe, nesse inverno, tinha