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A mostrar mensagens de fevereiro, 2014

A última Von Trapp

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Morreu ontem Louise Von Trapp, com 99 anos, a última sobrevivente daquela família Von Trapp que todos aprendemos a conhecer e a amar com o filme "Música no Coração". Sim, eu sei que o filme era lamechas, mas todas as criaturas da minha geração cresceram com aquelas paisagens e aquela música no coração. Vi o filme quando era pequenita. Era uma época em que a violência ainda não nos entrava em casa a toda a hora, através da televisão, nem estavamos habituados a conviver com mortos-vivos ou monstros. Foi um dos primeiros filmes que vi que retratava o nazismo, e como ele mudara pouco a pouco as pessoas. Lembro-me que nunca tinha ouvido falar dos nazis, e foi ali que percebi o perigo dos regimes que querem criar um homem novo através do medo. Chorei, claro, mas também sabia as músicas de cor! A família de cantores tem a sua vida um tanto romanceada, no filme, como é habitual! Na verdade, eles não fugiram a meio da noite, pelas montanhas, mas fugiram realmente graças à música,

A calçada lisboeta

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Poucas coisas me maravilham tanto em Lisboa como os desenhos a preto e branco das nossas ruas! Damos por eles quando os pisamos, mas é quando os olhamos de cima que toda a sua beleza nos atinge. São como rendas pousadas no chão. Fazem-me lembrar aqueles bonecos que a minha mãe recortava, em papel dobrado, quando eu era pequena; eu ficava fascinada, quando ela desbobrava o papel e os bonequinhos surgiam, destacados sobre o fundo escuro da mesa, todos de mãos dadas ou a dançar numa roda perpétua... A calçada portuguesa é bem mais antiga do que os bonecos recortados da minha mãe. Tal como a conhecemos, começou no século XIX, na Costa do Castelo, no Rossio, nos Restauradores (ao tempo, o Passeio Público). Hoje, é um traço distintivo da cidade, que todos os turistas reconhecem e apreciam e todos os lisboetas amam. Há alguns anos, a Câmara Municipal de Lisboa criou um curso de calceteiros, para que esta belíssima arte não se perdesse. Colocou até uma estátua de um calceteiro,

Vou ali ao sol e volto já!...

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Fomos há pouco tempo surpreendidos com a notícia de que a Coreia do Norte teria enviado um astronauta ao sol. Nesse país de mirabolantes encenações já nada surpreende mas, mesmo assim, há notícias que são demasiado incríveis. O locutor da Central de Notícias da Coreia do Norte teria afirmado: "Estamos muito satisfeitos em anunciar uma missão bem sucedida de colocar um homem no Sol . A Coreia do Norte tem batido todos os outros países do mundo. Partiu para o Sol Hung Il Gong  de 17 anos, é um herói. E merece uma recepção de herói quando voltar para casa mais tarde, talvez esta noite”. O jovem herói, sobrinho do líder coreano, teria viajado de noite para evitar as queimaduras solares, trazendo comprovativos da sua viagem. A notícia só pode ter provocado gargalhadas de troça e incredulidade. Ninguém, no seu juizo perfeito, poderia acreditar numa coisa destas. E, realmente, soube esta semana que a notícia tinha sido inventada por um site de notícias cómicas, do mesmo tipo d

Fredo Mergner

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De origem húngara, veio para Portugal em 1977, com 24 anos. Era um exímio guitarrista e, numa rápida pesquisa pela internet, facilmente encontramos músicos que falam de Fredo Mergner como uma referência, alguém que ouviram e que se tornou uma influência marcante na forma como tocava a guitarra clássica. Integrou vários projetos. O mais conhecido foi o projeto "Resistência", onde tocava com músicos como Pedro Ayres Magalhães, Fernando Cunha, Tim. Ainda no último concerto da banda, no Campo Pequeno, subiu ao palco com a sua guitarra. No sábado passado, encontrei-o nas Escadinhas do Duque, em Lisboa, a tocar guitarra. Rodeado por pessoas que o ouviam, encantadas, sem provavelmente o reconhecerem. Gostei muito de o ouvir, mas... ficam muitas perguntas por responder. O que faz Fredo Mergner tocar numa rua de Lisboa, num frio fim de tarde de fevereiro? Toca porque lhe apetece? Toca para sobreviver? Diz Fredo: "Fiz a minha evolução em Portugal. As minhas influências, rec

Chapéus de chuva

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Este inverno, Lisboa ganhou um novo tipo de mobiliário urbano. Por todo o lado se veem chapéus de chuva abandonados. Partidos, virados ao contrário, meios abertos meios fechados. Brancos, pretos, amarelos, azuis, com bolas ou com riscas. De todas as cores, embora tenha começado a perceber que o bordeaux é uma cor favorita para guarda chuvas. Estes guardaram mal da chuva, ou talvez a chuva tenha sido demasiada para as suas capacidades. Por isso, jazem pelas sargetas e baldios da cidade, abandonados. Dou por mim a pensar se teriam voado das mãos dos donos, ou se teriam sido atirados pelo ar num daqueles acessos de mau humor que o efeito conjugado da chuva e do vento geralmente provocam em nós. Seja como for, aí estão eles pelas ruas da cidade. Isolados ou em pequenos grupos, como se ainda quisessem cumprir alguma função de abrigo. E demoram tempo a ser recolhidos pelos serviços camarários. Ficam ali, encharcados e partidos, a uma qualquer esquina, a lembrar-nos que o inverno ainda est

Depressão das festas

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Ouvi pela primeira vez esta expressão, depressão das festas, no final do ano transato. Duas palavras, depressão e festas, que parecem não condizer uma com a outra. Mas talvez não seja assim tão estranho. Não preciso pensar muito para me lembrar das frases, frequentes, que antecedem o Natal: "Vai ser uma trabalheira!" ou "Tomara que já tenha passado!" O que se passa connosco, afinal? Tenho para mim que as pessoas não se sentem bem quando há uma pressão social ou cultural muito intensa num determinado sentido. Estas alturas do ano em que, desde a publicidade até aos media, todos nos bombardeiam com imagens de famílias felizes, enormes, numa alegre confusão à volta de uma mesa cheia de iguarias, num ambiente de luzes e calor, onde se espera que todos partilhem um coração tão luminoso como as luzinhas da árvore de Natal, podem ser muito stressantes! Por muitas razões. Assim, de repente, lembro-me de algumas: - Morte ou desaparecimento de alguém que nos era mui