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A mostrar mensagens de fevereiro, 2010

Estamos a destruir livros?

Esta semana, até parece que estou numa qualquer cruzada contra o nosso Ministério da Cultura, mas não é verdade. O que acontece é que acabo de tropeçar em mais uma notícia daquelas que nos faz questionar: "Onde está o Ministério da Cultura, quando precisamos dele?" Segundo descobri no Sebenta do Nando , há várias Editoras a destruir livros, dando como razão o facto de já não terem saída comercial. O método já não é a fogueira, agora é a guilhotina, sem dúvida um método mais discreto e ecológico. Mas... há no meio dos livros destruídos obras de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço, Vasco Graça Moura, Maria Teresa Horta e tantos outros autores importantes da Língua Portuguesa! Será que também já não têm valor comercial? E, mesmo que assim seja, não há outros fins mais dignos?  Estamos sempre a ser solicitados para campanhas de doação de livros para escolas em países lusófonos, por exemplo. Não seria possível doar esses livros e, com o patrocínio da nossa transpor

A Canção do Avô

Quando os nossos filhos crescem, por muito que estejamos preparados para isso, sentimo-nos sempre um tanto orfãos de filhos. Estamos habituados a cuidar, a transportar, a ensinar e, depois, há um dia em que descobrimos que eles cresceram. Continuam a precisar do nosso apoio mas, por vezes, são eles que nos ensinam , que nos mostram as novidades. Mostram-nos outras maneiras de ver a realidade à nossa volta, de a interpretar. E que bom que isso é! Esta semana, o meu filho deu-me a conhecer uma banda portuguesa, chamada Dead Combo. Composta apenas por dois intérpretes, faz uma música inovadora, embora vá beber às raízes da música portuguesa. Ao ouvi-los, lembramo-nos do fado, mas também se encontram reminiscências da música country e dos ritmos sul americanos ou brasileiros. As suas composições têm nomes como Putos a roubar maçãs ou Lusitania Playboys.   Neste fim de semana de mau tempo (mais um!), vale a pena descobrir os Dead Combo (ou será que só eu é que não os conhecia?). A minha pro

Defeitos, qualidades e truques de beleza

P arece que os desafios blogosféricos estão na moda. Talvez sejamos nós a querer sair das palavras, do anonimato destas redes virtuais. Talvez queiramos mostrar um pouco de nós, como se estivessemos a conversar na pastelaria da esquina. Não sei. O que sei é que a minha querida amiga Natália me desafiou a responder a estas perguntas e eu vou cumprir. Tenho de confessar que não foi fácil. Perguntas sobre produtos de beleza ou compras, deixam-me sempre baralhada, não costumo passar muito tempo a pensar nisso. Quanto a defeitos e qualidades, acho que não são lineares: podem ser positivos ou negativos, consoante a forma como os gerimos. Mas, pronto, vou tentar responder o melhor possível. 1 - Dois truques de beleza: ter o cabelinho bem arranjadinho; e um sorriso na cara. 2- Duas prendas que gostas de receber: livros, relógios e perfumes (desculpem, tive de acrescentar mais um!) 3- Local preferido para fazer compras:           Em sonhos? Roma e Nova Iorque.       Na realidade? O Cen

Viva la Muerte!

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Quem me vai seguindo por aqui, sabe que não tenho o hábito de fazer posts  de opiniões alheias. Mas, hoje, encontrei este artigo de opinião de Manuel António Pina no JN . E li-o incrédula. E, sinceramente, não tenho palavras para acrescentar às de Manuel António Pina. Este texto vai sem comentários meus. Mas espero pelos comentários de quem por aqui aparecer. " Só nos faltava esta: uma ministra da Cultura para quem divertir-se com o sofrimento e morte de animais é... cultura. Anote-se o seu nome, porque ele ficará nos anais das costas largas que a "cultura" tinha no século XXI em Portugal: Gabriela Canavilhas. É esse o nome que assina o ominoso despacho publicado ontem no DR criando uma "Secção de Tauromaquia" no Conselho Nacional de Cultura. Ninguém se espante se, a seguir, vier uma "Secção de Lutas de Cães" ou mesmo, quem sabe?, uma de "Mutilação Genital Feminina", outras respeitáveis tradições culturais que, como a tauromaquia, há que

Outros tempos, outras enxurradas

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De vez em quando, a Natureza esquece a brandura com que nos vai embalando, ano após ano, e mostra do que é capaz. Desta vez, a vítima foi a ilha da Madeira. Uma tromba de água, a somar-se a dias e dias de chuvas quase contínuas, originou enxurradas de água e lama que, precipitando-se do cume dos montes nos leitos das ribeiras, levaram tudo à sua frente. Houve casas arrastadas pela força da água, carros amachucados como brinquedos de papel, estradas arrancadas e transformadas em rios furiosos. Houve mortos e feridos, apanhados pela enxurrada ou pelo que a água e a lama arrancaram e arremessaram pelas encostas abaixo. Houve, com certeza, espanto e desespero.  Esta tragédia fez-me lembrar uma outra enxurrada, há mais de quarenta anos. Nessa noite de finais de Novembro de 1967, a chuva que assolava Lisboa transformou-se numa tromba de água, que trouxe também a morte e a desolação à região de Lisboa. Lembro-me de ver a minha mãe a arranjar coisas para levar para a Cruz Vermelha. Eu era pe

E o meu Óscar vai para...

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J á toda a gente sabe que eu gosto muito de cinema e, nesta época do ano, em que se aproxima a entrega dos Óscares, há muita coisa para ver e avaliar. A propósito desta cerimónia dos Óscares, a Vanessa do blogue Fio de Ariadne teve uma ideia interessante, que me parece valer a pena divulgar. Trata-se de uma Blogagem Colectiva sobre os filmes que já venceram a cobiçada estatueta desde o início da sua atribuição, em 1929.  Bem, eu vou participar, só não sei que filme escolher. Sabemos que nem sempre o júri vai ao encontro das nossas preferências (aconteceu-me isso no ano passado!), mas, de qualquer modo, ao longo destes anos, foram premiadas verdadeiras obras-de-arte. Basta recordarmos Danças com Lobos ou Forrest Gump,   África Minha ou Kramer contra Kramer . E, se recuarmos um pouco, podemos lembrar-nos de Casablanca, ... E tudo o vento levou , e tantos outros filmes que se tornaram clássicos da nossa vida.  É uma boa altura para os recordar. A Vanessa teve uma excelente ideia. Por is

O poeta cauteleiro

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( Estátua do poeta, em Loulé, junto ao café que costumava frequentar) Se fosse vivo, faria hoje anos, muitos anos, o poeta popular António Aleixo. É um pretexto tão bom como qualquer outro para o lembrar. Foi uma personagem singular da nossa literatura. Nascido em Vila Real de Santo António em 1899, não era um homem de letras, pelo contrário, era semi-analfabeto. Toda a vida foi uma pessoa simples mas com uma personalidade rica. Foi tecelão, servente de pedreiro, e por fim cauteleiro. Emigrou para França, regressou a Portugal. E é toda essa experiência de vida que ele reflecte nas suas quadras.  Andou de feira em feira a cantar as suas rimas, cheias de ironia, crítica social, mas também uma filosofia "aprendida na impiedosa escola da vida", como ele próprio dizia. Morreu de tuberculose, em Loulé, em 1949. A sua vasta obra foi sendo compilada por amigos e ficou como um modelo da nossa poesia popular. O ano de 2010 é o Ano Internacional da Luta contra a Pobreza e a Exclusão So

Uma Casa de Histórias

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Finalmente, fui espreitar a Casa das Histórias da Paula Rego, em Cascais.  Não sei se gostei mais do interior ou do exterior. A casa, em si, é belíssima. Uma construção em tijolo vermelho a fazer lembrar peças de Lego. Com telhados, mas sem janelas, como a concentrar-se no seu interior. Mas, quando entramos, o interior abre-se para o exterior, em enormes janelas que dão para pátios interiores e verdejantes. Os quadros e desenhos da Paula Rego esperam-nos no interior do Museu. São, como sempre, retratos e imagens de um universo ficcional poderoso, complexo e mesmo, por vezes, chocante. Paula Rego reconstrói a realidade de uma forma alternativa, com uma forte conotação sexual; vejam-se as ilustrações para contos infantis. Também as relações de poder são desconstruídas. O universo religioso tem uma leitura original, com as suas figuras femininas actuais e fragilizadas. De resto, toda a pintura de paula Rego se constrói à volta de figuras femininas que nos permitem múltiplas leituras. Ne

Um desafio

A Teresa. do blogue ...Continuando assim... fez-me este desafio, responder sinceramente a estas 25 perguntas. Pode parecer fácil, mas não é, há algumas que são complexas e que nos fazem pensar. Enfim, aqui vão as respostas possíveis.  Questão 1: Tens medo de quê? Tenho medo de não estar à altura do que eu espero de mim própria (isto faz algum sentido, sem ser para mim?)  Questão 2: Tens algum guilty pleasure? Doces, quanto mais doces e enjoativos melhor. É um milagre não ser um pote! Questão 3: Farias alguma loucura por amor/amizade? Já fiz algumas. Há algum tempo que não experimento. Questão 4: Qual o teu maior sonho? Responder paz, amor e felicidade é trapacear;) Continuar a ter sonhos e a acreditar que os vou realizar. Questão 5: Nos momentos de tristeza/abatimento, isolas-te ou preferes colo? Isolo-me. Decididamente. Questão 6: Entre uma pessoa extrovertida e uma introvertida, qual seria a escolha abstracta? Dependia da minha disposição, e de quem fosse a pess

Tudo pode dar certo!

C onfesso que sou fã do Woody Allen desde o primeiro filme que vi deste actor/realizador/comediante. Creio que estava na Faculdade e o filme foi "O Inimigo Público número Um" ou "O ABC do Amor". Desde aí tentei não perder nenhum. Houve uma fase mais conceptual, de menos interacção com o público, mas os seus últimos filmes são, novamente, daquele humor sarcástico e atabalhoado a que Woody Allen nos tinha habituado.  Agora, Woody volta a filmar em Nova Iorque, o seu caldo de cultura, o lugar que ele conhece e retrata como ninguém. Neste filme, mostra-nos a sociedade tal como ela hoje se tenta organizar, procurando novos esquemas familiares que dêem resposta às novas questões sociais. O protagonista do filme é Boris, um físico brilhante e desiludido com a vida - confesso também que tive saudades de ver Woody Allen a representar, este era um papel feito à sua medida. Boris põe tudo em causa, num desencanto que espelha uma sociedade que viu ruir os grandes ideais polític

Porque é dia de S. Valentim

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Porque hoje é dia de S. Valentim. Porque eu acho que um poema de amor cai sempre bem. Porque toda a gente já sabe que eu gosto da poesia de José Luis Peixoto.  Quando chegaste - esquálida e coberta de adjectivos que rejeitavas, que te seguiam - o silêncio deixou de ser solene. Atirámos frases inteiras às paredes, somos crianças, e rimo-nos. A história escreveu-se escreveu-se longe das nossas mãos. Não sabemos mais verdades do que a nossa. Existiu um dia, perdido, em que nos encontrámos. Podíamos celebrá-lo com discursos estruturados e insignificâncias. Preferimos comê-lo - é um bolo de creme. E porque o amor é uma e a mesma coisa, embora com facetas diferentes, este poema é dedicado aos homens da minha vida: o meu pai, o meu marido, o meu filho. O nosso amor é um bolo de creme.

Os Caretos

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Nunca fui uma pessoa muito carnavalesca, pelo menos desde as festas mascaradas da minha infância. Especialmente, não admiro as festas de Carnaval que tentam transplantar para aqui as tradições de outros países. Por exemplo, acho muito animado e entusiasmante o Carnaval brasileiro, resultado de uma síntese das festas portuguesas com as festas africanas. Têm lógica lá no Brasil, onde está um calor abrasador, nesta altura do ano. Mas já não entendo esta teimosia em pôr a desfilar meninas vestidas de penas e brilhos, a dançar o samba, nas avenidas das vilas portuguesas, quando aqui em Portugal ainda chove e faz frio. Não compreendo esta apetência por imitar o que é de fora, especialmente quando aqui em Portugal também temos tradições muito interessantes, que se estão a perder. Uma delas, típica desta época de Carnaval, é a dos Caretos, máscaras e disfarces utilizados no norte transmontano para, a coberto de uma personagem alternativa, lidar com as tensões do ano inteiro. Deixo aqui, com a

Pipocas!

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Considero-me uma pessoa tolerante. Acho que cada um tem o direito de ter os seus gostos, os seus pequenos vícios, de procurar ser feliz à sua maneira, desde que não me incomode a mim nem à Humanidade. No entanto, há algumas coisas com as quais embirro solenemente. Uma delas, é comer pipocas no cinema. É um hábito relativamente novo, que nós absorvemos com entusiasmo. Mas tem os seus contras. Por exemplo, a não ser que se vá à primeira sessão do dia, temos de entrar numa sala invariavelmente suja e caminhar sobre restos de pipocas. Não gosto. Mas há pior. Atrás de nós, senta-se sempre uma família carregada com três pacotes de pipocas, pelo menos. Não se limitam a comer, remexem nos pacotes como se tivessem esperança de encontrar um colar de pérolas, lá bem no fundo. O barulho é irritante, especialmente naqueles momentos do filme em que estamos todos concentrados no drama ou na acção que se desenrola lá à frente. Há sempre um "crrr, crrr" que nos desconcentra do que estamos a

Apetece-me uma janela!

Hoje, estou cansada. E apetece-me uma janela. Encontrei-a aqui , na poesia de Vieira Calado. Faz-me falta uma janela que dê para o jardim para que eu possa ver um jardim quando vou à janela. . Assim fosse a predestinação dos meus olhos. . Assim escusava de levar esta vida a desejar uma janela que apenas imagino e vejo com o jardim abstracto de meus olhos. .                 (Vieira Calado)

Invictus

O ntem, fui ver o filme "Invictus". Foi o filme mais inspirador que vi nos últimos tempos. Baseado na história, verídica, da participação da equipa da África do Sul no Campeonato Mundial de Râguebi de 1995, é acima de tudo uma bela história de como um homem pode tornar-se um líder e levar o seu país a unir-se à volta de uma ideia, um propósito, uma equipa. O homem é Nelson Mandela, magistralmente interpretado por Morgan Freeman. O capitão da equipa de râguebi é Matt Damon, o realizador é Clint Eastwood. E o país é a África do Sul, depois da libertação de Nelson Mandela e da sua eleição como Presidente da República. É o momento em que o país está à beira de uma guerra civil, que pode bem tornar-se uma guerra racial. Há que gerir as expectativas dos negros e os receios dos brancos, de modo a fazer vingar o sonho de uma África do Sul multirracial, o país do arco-íris. Só Nelson Mandela poderia perceber que podia unir o país através da equipa de râguebi dos brancos, simbolo do pr