Outros tempos, outras enxurradas
De vez em quando, a Natureza esquece a brandura com que nos vai embalando, ano após ano, e mostra do que é capaz. Desta vez, a vítima foi a ilha da Madeira. Uma tromba de água, a somar-se a dias e dias de chuvas quase contínuas, originou enxurradas de água e lama que, precipitando-se do cume dos montes nos leitos das ribeiras, levaram tudo à sua frente. Houve casas arrastadas pela força da água, carros amachucados como brinquedos de papel, estradas arrancadas e transformadas em rios furiosos. Houve mortos e feridos, apanhados pela enxurrada ou pelo que a água e a lama arrancaram e arremessaram pelas encostas abaixo. Houve, com certeza, espanto e desespero.
Esta tragédia fez-me lembrar uma outra enxurrada, há mais de quarenta anos. Nessa noite de finais de Novembro de 1967, a chuva que assolava Lisboa transformou-se numa tromba de água, que trouxe também a morte e a desolação à região de Lisboa. Lembro-me de ver a minha mãe a arranjar coisas para levar para a Cruz Vermelha. Eu era pequenita, mas recordo-me de querer dar as minhas bonecas, condoída com a ideia de que meninas da minha idade tinham ficado sem nada. Lembro-me bem de ouvir os meus pais a comentar que, com a destruição e o mar de lama que eram visíveis em muitas zonas de Lisboa e arredores, o número de mortos e desalojados que os jornais referiam parecer estranhamente pequeno. De facto, sabemos hoje que nessa época de ditadura e censura prévia nos meios de comunicação, tanto impressos como audio-visuais, os números e os factos da tragédia foram muito diminuídos, para não criar alarme na população. Também sabemos hoje que a mesma censura não queria que se discutissem as construções em leito de cheia, a falta de planos de emergência, assim como as condições vulneráveis em que viviam muitas pessoas, que tinham migrado do campo para a cidade grande, para os arredores da capital.
E hoje, aprendemos alguma coisa? Agora, é o momento de juntar forças e apoios para ajudar a ilha da Madeira, não é altura de procurar culpados e fazer acusações. Mas é uma oportunidade para reflectir em certos aspectos do planeamento urbanístico que, como temos a memória curta, tendemos a esquecer em pouco tempo. Mas a Natureza encarrega-se de nos relembrar que tem de ser respeitada. O seu espaço tem de ser preservado. Sob pena de passarmos o tempo a chorar sobre os seus efeitos quando se enfurece.
(Todas as fotografias aqui incluídas são imagens referentes às cheias na região de Lisboa, em 1967, e foram retiradas do Google)
Uma tragédia, o que ocorreu na Madeira.
ResponderEliminarA Replública tem de ser solidária.
Saudações
É impressionante!A natureza estámostrandoo que pode fazer, manda aviso, não sãoouvidos depois chegam fortes tragédias..`Pena!beijos,chica
ResponderEliminarEntão Teresa, esses acidentes naturais tem ocorrido com mais frequencia pelo mundo todo.Passmos também por isso aqui no Brasil há poucos meses , numa cidade praiana. Houve dslizamento de terras e a enxurrada levou resorts e casas a beira do mar ,causando muitas mortes.
ResponderEliminarHá sim de socorre-los e que os órgãos competentes saibam planejar melhor programs pra essas situações de risco.
Lamento por todo o povo da ilha.
abraços
Só recentemente soube dessa tragédia em Lisboa há tantos anos. É verdade, são nestas alturas que se deviam tirar lições, mudar estratégias e pensar no futuro a longo prazo... mas depois, interesses económicos e outros se sobrepõe e esquecem-se todos até à próxima tragédia... depois a natureza, manifesta-se noutra tragédia qualquer, nem que seja para nos mostrar quem manda... E seremos sempre impotentes... mas isso não minimiza responsabilidades de tentar controlar ao máximo os seus efeitos... Beijinho
ResponderEliminarA tragédia da Madeira foi enorme.
ResponderEliminarMas eu recordo-me perfeitamente dessa noite diluviana na região de Lisboa que teve um número de vítimas ainda maiores e os meios de socorro não eram o que são hoje; a zona mais atingida foi, salvo erro, a de Odivelas.
Teresa,
ResponderEliminarAcho que já me decidi. O meu Óscar vai para as filmagens de video amadores realizadas na Madeira, durante este fim de semana. Talvez assim, não seja tão fácil esquecer a força da natureza. Tv assim se aprenda qq coisa.
Bj
JPD
ResponderEliminarEu acho que a República está a ser solidária. Até está a dar um ar de seriedade muito agradável.
Bjs
Chica, Lis
ResponderEliminarEstas tragédias terríveis estão realmente a acontecer cada vez com mais frequência, com a natureza a fazer os seus avisos de forma cada vez mais estridente. Lembro-me de ver essa tragédia do Rio de Janeiro há algum tempo na televisão. Tão estranho, no meio do verão!
Nada para que não tivessemos sido avisados.
Agora, há que preparar os planos de emergência o melhor possível, e tentar melhorar o que puder ser melhorado.
Bjs
Eva
ResponderEliminarEu lembro-me dessa noite,em Lisboa. Mas depois disso já houve outras desgraças idênticas (lembro-me do baixo Alentejo).
Há que reflectir e aprender.
Bjs
Pinguim
ResponderEliminarNão é para comparar tragédias, claro, são o que são, infelizmente.
Mas essa noite foi marcante. Sim, acho que a zona mais afectada foi essa, Odivelas, Caneças.
Bjs
Ana
ResponderEliminarTalvez tenhas razão.
No entanto, para a blogagem, acho que tens de escolher um dos filmes premiados com os Óscares.
Bjs
Em 1967 ainda não vivia em Portugal. Soube da tragédia aqui relatada pelas notícias que me chegavam.
ResponderEliminarAgora acompanho a tragédia que se abateu sobre a Madeira.
É tempo da República estar unida e solidária, como já o escrevi no meu blog. Tem que se arregaçar as mangas no apoio aos necessitados e na tarefa de reconstrução.
Mas...
Hoje, como ontem, não sendo já a censura da ditadura, é a tacanhez das mentes de alguns políticos a não permitir que se respeitem as leis da Natureza, que se projecte e construa reordenando correctamente o território, que se salvaguardem as populações mais vulneráveis às inclemências do tempo, como no Curral das Freiras, que conheço bem.
A reconstrução da Madeira está em marcha, ou pelo menos, para isso apontam as indicações que nos chegam das autoridades da República e da Região.
É, porém, doloroso, ouvir já algumas vozes em defesa, ou tentando branquear, erros do passado como as construções em leitos de cheia, as rotundas sobre ribeiras e a desflorestação. A ganância pelo lucro fácil e o desprezo pela Natureza e pela vida humana, afloram!
E muito mais haveria para dizer...
Bjs
Carlos
ResponderEliminarE muito mais haveria para dizer, sem dúvida.
Mas a última palavra vai sempre ser da Natureza.
Bjs
Ser solidário com a tragédia e as gentes da Madeira é o que há a fazer no imediato.
ResponderEliminarNa reconstrução (e sempre e em tudo...digo eu)repensar que a intervenção humana tem de estar de acordo com as leis da natureza.
Beijos
Olá,
ResponderEliminarPor mais que o Homem imagine, desenvolva, invente ou construa, a Mãe Natureza, mais cedo ou mais tarde, exerce o seu controlo e toma as suas decisões sem perguntar ou pedir licença.
O Homem ao longo dos séculos de desnvolvimento tem utilizado a Natureza em seu benefício directo e muitas vezes egoísta.
Inlelizmente, o "pagamento do arrendamento"´por vezes é muito oneroso e pesado.
Neste país já há muito tempo que todos sabem de tudo. Todos temos opinião sobre tudo, e mais uma vez, as primeiras a virem a terreiro "botar faladura" foi para dizer "... eu já sabia que mais cedo ou mais tarde ...." ou então, " ... eu já tinha avisado ... ".
Na Vida somos regidos pelo principio de Murphy e as suas respectivas leis.
Chega de arautos da desgraça, meus amigos trabalhem ou então deixem trabalhar que quer fazer alguma coisa por este país e pelo Mundo.
Fartos de avisos estamos todos. Acho que o Povo da Madeira merece sempre, mas pelo menos nesta hora mais respeito e apoio.
Um beijo,
MagyMay
ResponderEliminarConcordo, para já é preciso ajudar. E depois tentar aprender alguma coisa com o que aconteceu.
Bjs
FAires
ResponderEliminarFartos de arautos da desgraça estamos nós, não é?
Infelizmente, e como bem dizes, o pagamento do nosso arrendamento à Mãe Natureza, às vezes, é bem alto.
Bjs
Impõe-se um grande respeito pela Ilha da Madeira, pelos madeirenses, e pelas forças naturais a que foi anormalmente submetida.
ResponderEliminarA impotência perante os elementos, devia colocar-nos num plano de humildade que anule o defeito humano de julgar que pode controlar a Natureza nas mais variadas e múltiplas maneiras!
É tempo sim, de aprendermos alguma coisa!(...)
Lembro-me da "cegada" de Copenhaga, e abomino que agora se discutam construções modernas que alegadamente espartilharam a livre passagem da corrente das águas desenfreadas!
Localidades se veem, sem qualquer engenharia 'vanguardista', que foram igualmente no arrastão!
Não se mantenha a habitual 'lenga lenga' de que a culpa não pode morrer solteira!
Logo que algo acontece, aparecem inquiridores e acendedores de fogueiras medievais de triste memória, em busca de cabeças a abater.
Cada cidadão, ou aldeão, do Mundo é co-responsável pelas alterações climatéricas que, volta e meia, arrasa nos vários 'cantos' do planeta!
Em vez de querermos domar a Natureza, se nos adaptássemos, a sujássemos menos, ou nada,... se nos integrássemos nela em vez de a desbaratar, se nos aliássemos e soubéssemos ser melhores inquilinos deste enorme condomínio,... então... jamais se diria que ela nos "castiga", porque, queiram ou não, ela é,
afinal, nossa Mãe!
[Gostei de ler a Teresa no Blogue 'Berdades' de que também sou seguidor.
Cumpts.
César Ramos
César
ResponderEliminarTem razão no que diz. Todos somos responsáveis por tudo perante todos (esta frase não é minha, é de Henry Dunant, fundador da Cruz Vermelha, mas agora aplica-se bem).
Bjs
Querida Teresa, é tragédia aí, tragédia aqui, estamos realmente vivendo um pesadelo. Não sei se tem acompanhado as recentes enchentes aqui na minha cidade (São Paulo), sem contar os seguidos terremotos que assolaram nossos irmãos chilenos. Conheci a Ilha da Madeira, há quatro anos atrás e, como escrevi no blog do César, foi um dos lugares mais lindos que meus pés já pisaram e fiquei arrasada quando vi as imagens da tragédia pela televisão. Divido com o povo português essa consternação. Grande abraço!
ResponderEliminarSueli
ResponderEliminarPois é, o que se está a passar com o planeta? Está tudo maluco? Quando falavam das mudanças climáticas, as pessoas aligeiravam, e agora aí estão, não é?
Bjs