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A mostrar mensagens de janeiro, 2012

ReciclArte

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Vik Muniz é um artista plástico brasileiro, nascido em S. Paulo em 1961, e tem neste momento uma exposição retrospetiva no Museu Berardo, em Lisboa. Aproveitando os tempinhos livres no meio de uma formação, durante este fim de semana, fui lá espreitar e admito que fiquei fascinada. Tinham-me dito que Vik era um fotógrafo e um artista talentoso. Mas ele é muito mais do que um fotógrafo, porque o que é fascinante é o trabalho extraordinário que está por trás de cada imagem. Ele aproveita os materiais mais díspares e inesperados, de diamantes e caviar a açúcar, arame, brinquedos, desperdícios informáticos, até lixo. É com esses materiais que ele compõe as suas imagens realistas e fantásticas ao mesmo tempo. Vale mesmo a pena dar um salto até ao Centro Cultural de Belém, passear um pouco por aquele espaço tão agradável, e ver esta exposição que, devido ao seu sucesso, vai estar patente até ao início de março. A entrada é livre e o agrado é garantido. Depois da visita à exposição, acons

O Maestro José Atalaya da minha infância

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Num dos últimos posts que fiz, intitulado  A Música anda por aí,   mencionei um maestro que eu ouvia encantada na televisão, quando era pequenita, e que me acordou para a música chamada clássica, através das explicações e comentários que fazia das peças musicais. Algumas das pessoas que têm a simpatia de seguir este blogue e por aqui vão deixando as suas opiniões, perguntaram-me pelo nome desse maestro. Até avançaram com alguns nomes como hipótese. Confessei que não me recordava. Lembrava-me que era forte, tinha uma espessa barba escura e era um grande comunicador. A única vantagem de estar em casa com gripe é, precisamente, ter algum tempo livre para fazer leituras ou pesquisas e aproveitei para tentar encontrar na internet esse maestro que emergiu das minhas recordações de infância. Não foi preciso procurar muito. O nome tocou logo as campainhas da minha memória. As barbas espessas, agora já não escuras mas muito brancas, desfizeram as dúvidas. Era o maestro José Atalaya. Para se

O Mundo não se fez para pensarmos nele...

E, porque depois de tanta crise não me apetece pensar mais no estado do mundo, ou talvez apenas por causa da gripe... O Mundo não se Fez para Pensarmos Nele O meu olhar é nítido como um girassol.  Tenho o costume de andar pelas estradas  Olhando para a direita e para a esquerda,  E de, vez em quando olhando para trás...  E o que vejo a cada momento  É aquilo que nunca antes eu tinha visto,  E eu sei dar por isso muito bem...  Sei ter o pasmo essencial  Que tem uma criança se, ao nascer,  Reparasse que nascera deveras...  Sinto-me nascido a cada momento  Para a eterna novidade do Mundo...  Creio no mundo como num malmequer,  Porque o vejo. Mas não penso nele  Porque pensar é não compreender ...  O Mundo não se fez para pensarmos nele  (Pensar é estar doente dos olhos)  Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...  Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...  Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,  Mas porque a amo, e amo-a por isso,  Porque quem ama nunca sabe o que a

Crise

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Olhou para o papel que tinha à frente e sentiu que não lhe saía nada. O papel, como tudo, não era escolhido ao acaso, era amarelado, com linhas, macio. Mas, mesmo assim, não estava a ajudar. Rodou a esferográfica entre os dedos e perdeu-se nos seus pensamentos. Ainda ontem a mãe lhe tinha dito: "Gasto mais de cem euros por mês na farmácia. Cada vez sobra menos dinheiro da minha pensão!" Pois, também cada vez lhe sobrava menos dinheiro do ordenado. Era o supermercado e os passes para os autocarros dos miúdos. Era o dentista do mais velho, mais o médica das alergias do mais novo. Também precisava de ir ao médico, mas ía adiando, adiando, para um mês mais favorável, que parecia não chegar nunca. Pôs o papel de lado e foi buscar o portátil. Podia ser que, no ecrã do computador, as ideias se alinhassem com mais clareza e ligeireza. Enquanto esperava pela ligação, pensou no jantar. Não tinha deixado nada preparado, lá tinha de inventar qualquer coisa, com os ingredientes mais

Coisas de tirar o sono

Por acaso, juntaram-se ontem à noite, no mesmo serviço noticioso, duas notícias, digamos, complementares. Enquanto o nosso Presidente da República justificava as suas declarações sobre dificuldades em pagar as despesas com as reformas que recebe, uma idosa de Alfândega da Fé, com um problema oncológico, declarava que não podia ir às consultas ao Porto, porque não podia pagar o transporte dos bombeiros, a partir de agora feito às suas custas. Não vou fazer comentários aos rendimentos do Presidente da República. Na verdade, não me choca que ganhe dez mil euros; chocam-me muito mais os salários principescos de alguns gestores públicos ou futebolistas da nossa praça. Mas, será que falamos do mesmo país? Que abismo colossal em termos de "dificuldades em pagar despesas"! Os olhos daquela velhinha ficaram-me nos olhos. Refletiam incompreensões e interrogações. Aquela idosa não percebia porque é que, de repente, era ela que tinha de pagar pelos desgovernos da dívida soberana da Re

Ministros e cantoneiros

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Realmente, há coisas que nos deixam a pensar!... A revista inglesa The Economist resolveu, em 1984, fazer uma sondagem com previsões económicas para a década seguinte. Sondou grupos de pessoas, divididos por classes profissionais, entre os quais se encontravam  ministros, gestores de multinacionais, estudantes universitários e... cantoneiros da limpeza urbana. Dez anos depois, chegou à conclusão de que os que mais se tinham aproximado dos resultados corretos tinham sido os gestores e os cantoneiros.  Agora vão repetir a experiência. Consta que o Presidente dos Estados Unidos da América já anda aflito,  porque os cantoneiros prevêm que Obama não será reeleito. Mas o que me ocorre pensar é que os ministros andam decididamente muito mais afastados da realidade do que as pessoas comuns!

A Música anda por aí!

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Graças a uma colaboração entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Orquestra Metropolitana de Lisboa, a música anda por aí, por Lisboa, ouve-se nos bairros, encontra-se nos museus, espera-nos nos Palácios, até nos surpreende nos Paços do Concelho. Durante todo este mês há concertos dos solistas da Orquestra. Consegui assistir a dois. Um concerto dos instrumentos de sopro, em Benfica, e outro de cordas e flauta, no Museu do Oriente. O primeiro trouxe Vivaldi, Rossini, Gounod. O segundo foi um mergulho no génio de Mozart. Nos dois casos, os concertos foram comentados pelo musicólogo Rui Campos Leitão. No seu estilo descontraído, apresentou os instrumentos, contou pormenores da vida dos compositores e do contexto social, chamou a nossa atenção para aspetos da execução musical e das peças que, de outra forma, talvez nos passassem despercebidos. Enfim, fez-me lembrar uns concertos que eram transmitidos na televisão quando eu era pequenita, comentados por um maestro que tornava tudo tão fascin

A igreja mais antiga de Portugal

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A lápide lá está a atestar a data da edificação: 912. O que significa que esta igreja perfaz este ano 1100 anos e,  ao olharmos as pedras e os arcos que a compõem, vemos mais do que pedras e arcos. Vemos testemunhas de correrias de cristãos e mouros que, à época, ainda antes da formação de Portugal, disputavam estes territórios. Vemos uma demonstração de religiosidade sentida e que necessita de se afirmar, numa zona recém-conquistada aos infiéis. Vislumbramos uma época de recursos escassos e soluções tecnológicas ingénuas. Mas conseguimos adivinhar também uma época de trocas económicas e culturais, visível nas influências diversas e bem heterogéneas desta pequena igreja. Falo da Igreja de São Pedro de Lourosa, situada no concelho de Oliveira do Hospital. Podia acrescentar aqui imensos pormenores arquitetónicos e artísticos, mas o propósito deste blogue não é científico, por isso não me vou alargar em considerações que podem ser encontradas aqui ou aqui . Deixo este desafio para um

Ano do Dragão

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Para os Chineses, começa durante este mês (mais precisamente lá para dia 23) o ano do Dragão. É um signo poderoso, ligado a coisas positivas. Segundo parece, é um bom ano para casar - esqueçam essa história de ser bissexto! Também é um bom ano para ter filhos, iniciar negócios, pedir empréstimos para lançar projetos. Tudo dará certo, porque o Dragão protege os corajosos e audazes. E este é um Dragão de Água, propiciador da felicidade. Que refrescante saber de uma previsão para este ano que não inclui as palavras "crise", "austeridade", "cortes", ou mesmo "fim do mundo"! Ou será que as boas notícias funcionam só para a China?

Postal de Lisboa XVIII – Árvores de Interesse Público

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Quantas vezes caminhamos por Lisboa, tão apressados que nem nos damos tempo para apreciar o que está à nossa volta! Mal olhamos para os prédios, as pessoas, os nossos sentidos concentrados no trânsito, ou no trabalho que nos espera nesse dia. E, no entanto, quantas coisas interessantes esta cidade tem para mostrar! Por exemplo, as árvores. Como eu ando sempre de nariz no ar, dá-me para reparar nas árvores de Lisboa. Felizmente ainda não inundámos a cidade de palmeiras, na tentativa de a transformar numa espécie de cidade californiana ou caribenha. Mas o clima é propício e muitas árvores do mundo imenso que explorámos foram trazidas para Lisboa e aqui se desenvolveram bem. Às vezes, até nos acolhemos à sombra destas belas árvores, nas tardes soalheiras, sem nos apercebermos do valor do património que nos protege das inclemências do sol. Algumas dessas árvores têm tanto valor que foram declaradas Árvores de Interesse Público. As razões podem variar. Podem ser árvores muito antigas (h

Não sou Maçon!

Numa altura em que só se fala da Maçonaria e os seus membros parecem sair de baixo de cada pedra como cogumelos em tempo de chuva, tenho de fazer uma declaração: não sou Maçon! É que parece que já vamos sendo poucos! E confesso que me faz alguma impressão esta pujança de uma sociedade secreta numa sociedade que se diz livre e pautada pelos mesmos valores que a Maçonaria defende e ajudou a implantar, desde os tempos das Revoluções Liberais e republicanas. A não ser que as elites que declara recrutar tenham vergonha de ir aos Centros de Emprego da sua zona de residência e exibam este avental, em vez de um curriculum-vitae. Não sei, que eu não sou de intrigas, ao contrário de certas sociedades secretas!... De qualquer forma, não resisto a partilhar este texto de António Marques, publicado hoje no Inimigo Público : Portugueses percebem que Maçonaria serve para subir na vida e 700 mil desempregados deixam de fazer fila no Centro de Emprego e fazem fila na Loja Mozart Bem dizia o g

Fumar? Onde?

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Hoje, segundo parece, saiu a público outro estudo sobre o tabagismo que indica claramente que fumar à entrada dos estabelecimentos afeta também o ambiente no interior. Imediatamente se ouviram as vozes usuais, clamando pela proibição total do fumo ou, pelo contrário, clamando contra os fundamentalismos anti-tabágicos. Não tenho nenhuma solução mágica. Mas tenho observado algumas coisas que gostava de partilhar. Mas primeiro uma declaração de interesses (agora está na moda esta expressão!): Não fumo, mas não sou fundamentalista em relação ao tabaco. Fumei durante muito tempo, desde os quinze anos. Depois, quando engravidei do meu primeiro filho, deixei de fumar. E continuei a fumar e a deixar de fumar regularmente, até que deixei de vez. Não foi propriamente por medo dos efeitos do tabaco, mas porque com os filhos pequenos não tinha as mãos livres o tempo suficiente para pegar num cigarro! Hoje, se me apetece fumar um cigarrinho não me impeço de o fazer, o que acontece uma ou duas

Vítimas colaterais

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Neste fim de semana que passou, mais um tremor de terra fez estremecer o Japão. Nada de estranhar, sendo uma zona de alta atividade sísmica. Nada também que se compare com o enorme sismo que atingiu o Japão há quase um ano, no dia 11 de março de 2011. Nesse dia, eram 6h46 em Portugal quando um sismo de magnitude 8,8 na escala de Richter sacudiu as ilhas japonesas, o mais forte no Japão desde há 140 anos, o sexto mais forte no mundo desde que há registos. Houve milhares de mortos. Seguiram-se dois tsunamis, que devastaram as costas japonesas. Uma onda de 14 metros atingiu a central nuclear de Fukushima I, inundando equipamentos e provocando explosões. Sabemos o que se passou a seguir. Lembramo-nos das imagens das populações evacuadas das áreas expostas às fugas radioativas da central, dos alimentos contaminados, do medo que se instalou de um desastre nuclear em larga escala. O governo japonês garantiu a desativação da central logo que fosse possível aceder à zona perigosa. Vários gov

Portugal visto pelos carteiros

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Ainda se encontram iniciativas interessantes, originais, criativas! Os CTT decidiram distribuir aos seus carteiros máquinas fotográficas descartáveis e desafiá-los para fotografarem o pequeno mundo em que circulam diariamente. E os carteiros aderiram, tirando milhares e milhares de fotografias que foram depois visionadas e escolhidas por um júri. Foram selecionadas 200 fotografias, expostas até hoje no edifício dos CTT, na Rua de São José, em Lisboa. É uma exposição tocante, que nos mostra um Portugal esquecido e atrasado, o Portugal profundo, como se costuma chamar. Recantos isolados do nosso país, locais que parecem parados no tempo, pormenores pitorescos, rostos expressivos. Retratos de pessoas que, por vezes, têm no carteiro um dos poucos contactos com o mundo exterior, seja numa remota aldeia transmontana, seja num prédio de um subúrbio de Lisboa. Os animais que os recebem nos quintais, as caixas de correio improvisadas e improváveis. Em resumo, momentos, pormenores. Registados pe

Postal de Lisboa XVII – As hortas na cidade

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Uma das coisas que tem graça em Lisboa é a mistura de urbanidade e ruralidade. Provavelmente, tem a sua razão de ser nas vagas de migrantes internos que, pressionados pela necessidade laboral e económica, vieram viver para Lisboa e engrossar a população da cidade ao longo do século XX. Vieram, mas trouxeram consigo a nostalgia do campo onde foram criados, o hábito da horta ao pé de casa. E criaram as suas próprias hortinhas, onde era possível, nos terrenos baldios, nas bermas das estradas, nas encostas que levam às grandes urbanizações onde vivem. Todos nós já vimos estas hortinhas, espalhadas pela cidade. Têm uma cerca mal amanhada, uma barraquinha para guardar as ferramentas e utensílios daquela pequena lavoura, umas filas de couves a separar as batatas dos tomateiros. Aos fins de semana, logo pela manhã, vêem-se por lá os saudosos dos campos, de enxada em punho. Por vezes, estas pequenas hortas compõem a pobre ementa semanal de quem faz muitas contas para chegar ao fim do mês. Conf

Esperança

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Esperança -   Disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa se  há-de  realizar ou suceder;  Expectativa;  Confiança. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa) Numa iniciativa interessante e criativa, a Porto Editora desafiou os protugueses a definirem, com uma palavra, o ano que agora terminou. Sem grande surpresa, a palavra mais votada foi "Austeridade". Foi a palavra mais ouvida e mais receada, com efeitos que ainda vamos sofrer mais profundamente neste ano recém-nascido de 2012. No entanto, e aí sim, confesso que fui surpreendida, a segunda palavra mais votada foi "Esperança". Esperança de que a crise se há-de realizar? Penso que não é esse o sentido, isso já nós temos como certo. Creio que, apesar de tudo, os portugueses confiam no futuro. Com ou sem Euro. Com mais ou menos Europa. Com mais ou menos entre-ajuda. Com mais um apertão no cinto, com menos uns euros no bolso. Apesar de toda essa incerteza, continuamos a fazer a nossa vida, a fazer humor