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A mostrar mensagens de março, 2010

Portugueses: Heróis Adiados

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O texto que se segue foi escrito por Fernando Pessoa , há quase um século, ainda nos tempos da Primeira República, que agora comemoramos. Será que é um retrato correcto dos Portugueses? Será que continuamos assim? Será que mudámos alguma coisa? O Português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja. Somos um grande povo de heróis adiados. Partimos a cara a todos os ausentes, conquistamos de graça todas as mulheres sonhadas, e acordamos alegres, de manhã tarde, com a recordação colorida dos grandes feitos por cumprir. Cada um de nós tem um Quinto Império no bairro, e um auto-D. Sebastião em série fotográfica do Grandela. No meio disto (tudo), a República não acaba. Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro, ou se o nosso futuro é que é o nosso passado. Cantamos o fado a sério no intervalo indefinido. O lirismo, diz-se, é a qualidade máxima da raça. Cada vez ca

Sistema Informático para mulheres do século XXI

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Q uando várias mulheres se encontram, invariavelmente as conversas giram à volta de alguns temas; um dos mais recorrentes é o tema  maridos.  Quase sempre há queixas relacionadas com a falta de apoio nas tarefas domésticas, falta de romantismo, e por aí fora.  Atenção: estamos no século XXI e temos de evoluir! As novas tecnologias de informação e comunicação podem dar-nos uma ajuda! Sistema informático para mulheres do Sec. XXI   UPGRADE DE NAMORADO 5.0 PARA MARIDO 1.0   Caro Apoio Técnico,   No ano passado fiz um upgrade do NAMORADO 5.0 para o MARIDO 1.0 ,  (ou seja: casei!!!) e notei uma redução significativa de performance, principalmente nas aplicações FLORES e JÓIAS, que operavam sem falhas no NAMORADO 5.0 .   Além disso, o MARIDO 1.0 desinstalou outros programas importantes como ROMANCE 9.5 e ATENÇÃO AO QUE EU DIGO 6.5 e instalou aplicações indesejáveis como JOGO DE FUTEBOL 5.0.   Também não tenho conseguido rodar o programa CONVERSAÇÃO 8.0 e o AJUDAR EM CASA 2.5: o sistema

As mulheres são como os pauzinhos

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As mulheres são como os pauzinhos: úteis e facilmente quebráveis.  Os homens são as traves robustas que sustentam a casa. Esta frase chinesa, crua e incisiva, encerra em si um ensinamento que é uma maneira de ver a vida. Há mais de mil anos que os chineses absorvem esta filosofia, esta forma de olhar os dois sexos, o homem e a mulher. O homem é o ser forte, o pilar da família. E todas as famílias desejam ter um pilar. É uma festa quando nasce um rapazinho! A História ensina-nos que a mentalidade muda lentamente. As diversas revoluções que abalaram a China, nos últimos cem anos, transformaram-na quase de alto a baixo, de um enorme império, pobre e atrasado, num colosso económico, na vanguarda de quase todas as áreas económicas e tecnológicas. Deixou de ser um país atrasado. Não sei se as pessoas deixaram de ser pobres! Não sei também se a mentalidade acompanhou o progresso tecnológico. Nas vastas áreas rurais, tais como nas zonas sobrelotadas das grandes cidades, as pessoas não mudaram

Estado de Guerra

Fui ver este filme porque ganhou seis Óscares, entre os quais o de melhor filme, e não porque me despertou um interesse especial. No entanto, gostei. O filme é passado no Iraque e torna-se um bocado claustrofóbico, devido à forma como é filmado, como se se tratasse de um documentário que acompanhasse o dia-a-dia de um grupo de soldados americanos desactivadores de minas, mas também devido ao ambiente, à cor de areia que rodeia e confunde tudo na mesma paisagem. Quem já esteve no Médio Oriente sabe que aquela é a cor, a cor da areia e do pó. A falta de verde é angustiante, como a falta de água. Apesar de ser um filme totalmente rodado como reconstituição de situações de guerra, não é bem um filme de guerra, mas sim um filme sobre as emoções humanas em situação de guerra. Estão aí as constantes do filme: é o medo, a inevitabilidade da insegurança, a contagem dos dias até ao regresso a casa; é a tensão elevada ao máximo, os sentidos alerta em dada situação de perigo, a concentração total

10 Coisas que me fazem feliz!

J á há algum tempo atrás, recebi um desafio da Ematejoca, que também já tinha apanhado no blogue do Carlos Albuquerque. Depois, meteram-se outras coisas pelo meio, achei que tinha outras palavras para escrever e partilhar e o desafio foi esperando. Mas chegou a altura de responder e contar-vos um segredo: 10 coisas que me fazem feliz! É claro que amo a minha família e fico feliz se todos estiverem bem, de saúde, e os miúdos com boas notas, de preferência. Também é evidente que me preocupo com o estado do Mundo e ficava feliz se não houvesse guerras ou acabasse a fome no mundo. Mas, hoje, apetece-me ser egoísta! O que me faz feliz, no meu dia-a-dia? 1 - O cheiro do pão fresco, logo pela manhã. 2 - Caminhar no campo, numa manhã ensolarada de Primavera. 3 - Sentar-me na praia, a ouvir as ondas. 4 - Brincar com as minhas cadelas. 5 - Rir até às lágrimas com as minhas amigas. 6 - Esquecer-me do mundo exterior, enquanto leio um bom livro. 7 - Dançar ao som das músicas da minha juventude. 8 -

As palavras nas paredes

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G osto de andar no metropolitano, sempre de nariz no ar, a observar o que me rodeia. Especialmente, gosto das novas estações, bonitas, espaçosas, com lugar para a arte. Encantam-me as geometrias altivas e coloridas das Olaias, como me encantam as estátuas das mulheres de Lisboa que nos recebem no Campo Pequeno, ou os belos azulejos que nos encantam nos Restauradores. Mas, do que eu gosto mais, é das estações que têm frases ou pequenos textos para ler nas paredes dos corredores e das escadas rolantes. Rimbaud e Lao Tsé esperam-nos no Parque, enquanto a Cidade Universitária nos apresenta Sócrates e Cesário Verde. As frases surpreendem-nos a uma esquina, acompanham-nos enquanto caminhamos, deixam a sua marca. Gosto das frases que se encontram escritas na nova estação do Saldanha. Não são assinadas, não sabemos quem as escreveu, só estão ali para nos provocarem. As pessoas que eu mais admiro nunca acabam,  leio numa parede. Lembro-me de algumas. Como podem acabar? Mesmo quando morrem, perd

Parabéns a Nós!

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Isto de ter amigos dos dois lados do Atlântico é engraçado. Hoje, já vi postagens saudando a chegada da Primavera e o início do Outono, antecipando os aguaceiros e a roupa quente, antevendo os dias de praia e de sol. Assim, desejo a todos um belo início de... estação, seja ela qual for. Mas há quem seja original. O Junior, do blogue Contatos Imediatos , um blogue cheio de energia positiva, descobriu que hoje também se comemora o Dia do Blogueiro. Tentou descobrir a razão de ser da data, não descobriu mas faz um texto muito bonito sobre a importância e a força da blogosfera, que vos convido a ler. Faço minhas as suas palavras e dou os parabéns a todos os que sabem blogar com seriedade, responsabilidade e respeito. Porque juntos somos fortes!

A propósito do Dia do Pai

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Isto deve ser do meu mau feitio, mas não gosto da forma massificada e homogénea como se tratam estas efemérides, em que é suposto lembrarmo-nos de alguém, seja o pai, a mãe, o namorado, o gato, a vizinha, as bruxas, e por aí fora. Nas escolas, por exemplo, todas as crianças fazem postais e prendinhas para pais que, tantas vezes, nem estão presentes! Há que ter alguma sensibilidade para lidar com estas situações. Há alguns anos, eu era Directora de uma turma de 8.º ano de miúdos ditos complicados (comparados com os actuais eram uns anjos!). Muitos deles não viviam com o pai, pelas mais diversas razões: havia alguns que eram filhos de pais separados e mal viam o pai biológico; havia um que tinha o pai na prisão, outro estava numa clínica de desintoxicação; também havia um aluno cujo pai falecera, era ele ainda pequeno. Na aula de Formação Cívica, organizámos um debate sobre o tema "Viver longe do pai", para falarmos um pouco sobre a figura paternal e o modo como aqueles jovens

Casa de banho

E agora que se aproxima o Dia do Pai, é altura de ver o que se passa realmente quando os nossos homens, pela manhã, se encaminham para a casa de banho! Muito bom! E muito engraçado!

Lisboa, uma mulher madura

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As cidades são para mim como pessoas. Não sei vê-las apenas em termos de pedras, árvores, veículos, objectos. É preciso que eu lhes descubra a alma, imagine que elas me estão falando, contando como são, como foram. Sinto logo ao vê-las se me acolhem, repelem ou permanecem indiferentes. Porque as cidades têm memória e nervos, um coração que pulsa e um sangue quente a correr-lhes nas veias.                   (Erico Veríssimo, Gato Preto em Campo de Neve) Encontrei esta citação de um autor de que gosto muito e me acompanhou muito na minha adolescência, Erico Veríssimo, no blogue da Luma Rosa, o Luz de Luma. E fiquei a pensar. Será que as cidades têm uma personalidade própria? Será que se assemelham a nós, seres humanos, com as nossas belezas e as nossas fraquezas? Será que podemos comparar a cidade onde vivemos a alguém, de uma forma tão completa e precisa como se a conhecessemos? Já declarei aqui, noutras ocasiões: sou alfacinha de gema, nascida e criada em Lisboa, entre a Penha de Fra

A poetisa da sensibilidade

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No dia que encerra esta semana dedicada à Mulher, em que estes óculos tiveram um olhar mais feminino sobre o mundo, decidi chamar aqui Florbela Espanca. Porquê? Provavelmente, porque Florbela Espanca representa uma das características mais relacionadas com o universo feminino: a sensibilidade.  Nasceu em 1894, registada como filha de pai incógnito, e foi baptizada com o nome de Flor Bela Lobo. Aos sete anos, escreve a sua primeira poesia e começa a assinar Florbela Espanca. Faz o liceu em Évora, torna-se professora, cursa Direito em Lisboa. Casa-se, divorcia-se, apaixona-se, separa-se. A sua vida é uma sucessão de paixões e desilusões, cada vez mais presa a uma neurastenia que a levará ao suicídio. Entretanto, vai sempre escrevendo e publicando, principalmente poesia, mas também contos.  Ficou para sempre no nosso imaginário como a poetisa do amor desmesurado. Todos conhecemos os seus sonetos:               Eu quero amar, amar perdidamente,              Amar, só por amar, aqui e além.

Uma questão de vontade

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Li há tempos uma entrevista com um médico português, pioneiro no estudo da Sexologia e nas consultas desta especialidade. Dizia coisas muito interessantes, algumas das quais já não são hoje novidade nenhuma, mas que o eram seguramente na altura em que iniciou a sua actividade, lá pelos idos dos anos 60. Dizia ele que, nessa época, as mulheres o procuravam porque não sentiam prazer sexual. Os tabus ainda eram muitos, e os estudos sérios sobre a sexualidade feminina eram poucos. Muitas vezes, era o casal que vinha à consulta, e era ao casal que o médico tinha de dar as informações e os conselhos. Essa época já lá vai há muito tempo e hoje a mulher tem liberdade para fazer as suas escolhas sexuais e tem toda a informação  que quiser à distância de um clique. Dizia o médico que, hoje, as mulheres já não vão à consulta queixar-se de falta de prazer sexual. Vão à consulta porque têm prazer mas… não lhes apetece ter relações sexuais!  O médico explicava que, hoje, se vive muito através da ima

Precious

Esta semana, iniciada com o Dia da Mulher, decidi que o meu blogue seria um blogue feminino. Evidentemente que, sendo escrito por mim, que sou mulher, parte sempre de um olhar feminino. Mas esta semana apetece-me destacar mulheres e falar de problemas das mulheres. Hoje, chegou a vez de Precious.   Precious,  ou Preciosa, Uma História de Esperança (título no Brasil), é um filme de Lee Daniels, que foi realizado no ano de 2009, e chegou este ano às salas de cinema, a tempo dos Óscares. É um filme de baixo custo e sem grandes nomes nos papéis principais. A actriz que faz o papel principal, Gabourey Sidibe, era uma desconhecida até há pouco tempo. Só nos papéis secundários encontramos nomes conhecidos, como Mariah Carey, Lenny Kravitz ou a extraordinária Mo'nique. Mas, neste filme, isso não é nada importante, porque o que importa é fazer-nos reflectir, mais uma vez, sobre a violência que se desencadeia, por vezes, sobre os elementos mais indefesos da sociedade, as mulheres e as crianç

Três mulheres

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Esta semana festejou-se o Dia da Mulher. Os maridos e companheiros ofereceram umas flores, houve uns jantares ou umas saídas ao cinema e, no dia seguinte, estava tudo como era antes. Provavelmente, nos locais do planeta onde a Mulher tem um caminho mais árduo ainda para percorrer até ver os seus direitos respeitados, a sua saúde preservada, a sua dignidade compreendida, este Dia nem tão pouco é festejado. Então, para que serve?  Apesar de tudo, acho que serve para alguma coisa. Se alguém recordar o exemplo de uma mulher que deu um contributo valioso para o mundo, já vale a pena. Se daí resultar algum alerta sobre as indignidades que as mulheres sofrem em muitos locais deste nosso mundo, já é positivo. Se for lembrada a sensibilidade com que muitas mulheres contribuem para a construção de um mundo mais belo e tolerante, através da arte, já é mais um passo em frente. Se alguma mulher perceber que tem de construir o seu futuro com as suas próprias mãos, por vezes fazendo coisas novas, enf

A todas as mulheres do mundo

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- Subia a rua angustiada, a arrastar os pés. Sim, foi assim que ela me disse, a arrastar os pés. Estava cansada, tinha ido quase ao outro lado da cidade para tentar arranjar um emprego. Era numa loja, ou talvez num supermercado, já não me lembro bem do que ela me disse. Mas lembro-me que disse que subia a rua a arrastar os pés. Na loja, não a quiseram nem entrevistar, que não, que o lugar já estava ocupado. Mas ela desconfiava que já a achavam muito velha para o lugar. Na altura, já tinha dois filhos crescidinhos e a experiência de trabalho não era muita. Quer dizer, experiência de mudar fraldas, lavar e passar, dar banhos, limpar o pó, bater carpetes, cozinhar e lavar louça e arrumar a cozinha, para logo a seguir cozinhar outra vez, de tudo isso ela tinha muita experiência. E também de contar histórias, e embalar no colo, e fazer puxinhos no cabelo, e empurrar o baloiço, e dar beijinhos no nariz!... Mas ninguém quer saber dessa experiência, não é? Naquela altura, com a morte súbita d

Out of Africa

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I once had a farm in Africa. Quem não se lembra desta frase? A mim, ela transporta-me imediatamente para as terras quentes de África, numa viagem de aventura e descoberta inesquecível. O prometido é devido e, finalmente, vou responder ao desafio da Vanessa e entregar o meu Óscar a um dos filmes que já alguma vez ganhou uma dessas cobiçadas estatuetas. Depois de muitas hesitações e escolhas difíceis, o meu Óscar vai para Out of Africa , com o título em português de África Minha. Realizado por Sidney Pollack pela Columbia Pictures, ganha sete Óscares, incluindo o de melhor filme, no ano de 1985. Além desse, ganha os óscares de melhor direcção, melhor argumento adaptado, melhor fotografia, melhor banda sonora original, melhor direcção artística e melhor som. Entre 1985 e 1987, ganha ainda prémios Globos de Ouro (EUA), Bafta (Reino Unido), César (França), David di Donatello (Itália), da Academia Japonesa de Cinema e dos American Film Editors. Afinal, o que tem este filme de tão especia

Tinha 12 anos e tinha medo

Esta semana, um aluno suicidou-se por não aguentar os maus tratos infligidos pelos seus colegas, na escola. Já tinha ido parar ao hospital, já tinha chorado, já se tinha queixado. Não sei o que aconteceu aos colegas dele. Ele morreu. Tinha 12 anos e chamava-se Leandro. Sou professora, já há muitos anos. Comecei no tempo em que a escola dava aos alunos ferramentas para eles seguirem o seu percurso. Mas a escola era ajudada pela sociedade, pelas famílias. Hoje, sinto que a escola, muitas vezes sozinha, não consegue ajudar aqueles que acolhe. Mais, devido a muitas perversidades desenvolvidas ao longo do tempo, abandona os mais vulneráveis e frágeis, enquanto se esgota em burocracias e planos românticos e ineficazes.  Esta semana, o Leandro morreu. Somos todos responsáveis. Até quando vamos continuar a assobiar e olhar para o lado? Tinha 12 anos e tinha medo  E tinha um pesadelo E um pântano no olhar E o corpo numa grade E a alma numa cela E o sonho de um rio Onde o medo se afogasse.

Um selo perfeitinho

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Hoje, recebi um selo, muito bonito e perfeitinho, da Ematejoca . Já lhe agradeci, especialmente porque me ofereceu o selo sem a obrigatoriedade de responder ao desafio em que vinha embrulhado. Eu até gosto de responder a estas coisas, mas ando com tanto trabalho e tão pouco tempo livre (isto adicionado às coisas que eu imponho a mim mesma, como por exemplo: visitar o maior número possível de blogues que fizeram postagens na Fábrica de Letras!), que tudo se torna mais difícil. Ao colocar aqui o selo, dei comigo a pensar na evolução deste blogue. Quando o iniciei, tinha um desejo, quase um sonho, que cheguei a partilhar com alguns amigos da blogosfera: ter um espaço de interacção com falantes de português, onde quer que eles estivessem. O mundo lusófono é tão grande, espalha-se por todo o mundo! Como seria bom partilhar ideias e experiências com amigos de todo esse mundo, do Brasil a Timor! A Teresa Palmira, do Ematejoca, vive na Alemanha, onde tenho outras amigas virtuais, tal como em v

O Faroleiro

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(Este texto integra-se no tema proposto para o mês de Março pela   Fábrica de Letras :  O Silêncio) - E incomoda-o, todo este silêncio? O faroleiro pousou os seus olhos, azuis e transparentes, na jovem repórter que, de microfone na mão, esperava firme a sua resposta. Quando a jovem telefonara a pedir uma entrevista, para uma reportagem que andava a preparar, pensou para consigo que não havia nada de interessante para contar. Agora, os seus olhos, de um azul límpido talvez de tanto olhar o mar, pousavam na jovem com estranheza. De facto, o que sabiam as pessoas das funções de um faroleiro? Ele próprio não sabia muito bem, quando concorrera para aquele posto, já há quase vinte anos. Na altura, tinha vindo com a mulher e a filha, ainda pequenina, e tinham vivido todos na pequena casa junto ao farol. Tinham sido tempos de isolamento, mas também de felicidade. Depois, veio outro filho, os miúdos cresceram, precisavam de estar perto da escola, a mulher mudou-se para a vila, arranjou um em