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A mostrar mensagens de 2015

The happiest time of the year

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Na manhã do dia de Natal, fui buscar uns familiares que viriam almoçar a minha casa. A rádio do carro só passava músicas de Natal, claro. Uma delas tinha este refrão: it's the happiest time of the year! Fui o resto do caminho a pensar na música... e na minha vizinha viúva que, ainda na véspera, chorava abraçada a mim, segredando que ninguém se lembrava dela... e na minha amiga que me confidenciava que estava cansada, que o Natal era só uma trabalheira em que ninguém a ajudava, e que isso a punha tão triste... e na minha prima, em que a lembrança de outros natais mais felizes a colocaram  num estado de ansiedade que a levou ao hospital... e na minha outra amiga que, desde que perdeu os pais, só deseja que esta quadra passe depressa para voltar à sua rotina tranquilizadora... Será mesmo a época mais feliz do ano? Não sei... Quando tudo à nossa volta são brilhos e toques de sinos, quando tudo nos grita que temos de ser muito felizes, é nesses momentos que os nossos problemas e as n

As greves natalícias

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Quando se aproxima o Natal, tão regular como o trenó do Pai Natal, chega uma greve natalícia. Às vezes, é a recolha do lixo. Outras vezes, são os transportes urbanos ou a CP. A verdade é que há sempre um sindicato qualquer que acha uma boa ideia marcar uma greve para este período do ano, de especial sensibilidade, em que as famílias se tentam reunir e conviver. Neste Natal, para não variar, foi a CP. Independentemente das razões que lhe assistem (e que já ninguém discute nem recorda, tantas já foram as greves!), o sindicato respetivo marcou uma greve para o próprio dia de Natal. Parece-me até acintoso... São as pessoas com menos possibilidades económicas que se deslocam de comboio, nestas alturas; os que mais podem, utilizam o automóvel. Como é possível que sindicatos ligados a partidos de esquerda demonstrem tamanha insensibilidade social?  As televisões passaram em rodapé que o sindicato anunciou uma adesão de 20% à paralização (o que nos leva a poder garantir que foi bastante m

A melhor prenda de Natal

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Este ano, cheguei à altura do Natal num estado de cansaço difícil de ultrapassar. O trabalho multiplicou-se, semanas a fio, e eu comecei a encarar os dias do Natal com receio. Aproximavam-se dias de muita agitação e de trabalho, a somar à exaustão que eu já vinha acumulando. Será que eu ia dar conta de tudo, como sempre tinha feito?  "Não te preocupes, mãe! Nós tratamos de tudo! Tu vais descansar, ajudas no que quiseres, mas não te preocupas com nada!"  Pela primeira vez, não me preocupei com entradas e doces, não fiz listas de compras, não escolhi o bacalhau, não fui buscar o perú... E, no dia certo, lá estavam todos a fazer a sua parte! Não faltou o perú recheado, nem os doces, este ano um pouco diferentes do habitual!  Definitivamente, a minha família é o meu melhor presente de Natal!

O renascimento do Sol Invencível

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Festeja-se no próximo dia 22 o solstício de inverno. É o dia mais pequeno do ano e eu, que reajo mal à diminuição da luz solar, contraditoriamente, gosto deste dia por isso mesmo: a partir de agora, os dias vão recomeçar a aumentar. Primeiro devagar, timidamente, mas no final de janeiro já se notará a diferença. Já os antigos conheciam e festejavam esta data. Os romanos festejavam o dia do Sol Invicto no dia 25 de dezembro, três dias depois do solstício, quando o sol começava visivelmente a nascer mais cedo.  Data dos tempos romanos um santuário, atualmente a ser escavado num pequeno promontório junto à Praia das Maçãs, dedicado ao sol e à lua. O lugar era especial. Era o sítio onde o sol se punha e a terra reconhecidamente acabava. Não se conhecia mais nada para ocidente!  Mencionado em textos do início do século XVI, a propósito de umas escavações, a localização do santuário perdeu-se da memória das gentes. No início do século XXI, os arqueólogos voltaram ao terreno e, em 2007

A alucinação das grelhas ou o pesadelo do diretor de turma

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Chega esta época do ano e, quando toda a gente normal se preocupa com presentes, perús e rabanadas, os professores mergulham num gigantesco delírio burocrático! Se forem diretores de turma, o delírio aumenta até se transformar num verdadeiro pesadelo... As grelhas de excel ocupam o lugar de honra. Ali, os alunos são convertidos em milhentos números parciais. Que notas teve nos testes? E nos trabalhos? Fez os trabalhos de casa? Chegou atrasado? Foi sempre educado? Trouxe o material escolar? Colaborou com os colegas? E faltas, houve? De que tipo? Presença, pontualidade, material, TPC, disciplinar? Para quem tem 200 alunos, ou mais, este exercício é um autêntico delírio, em que as minúsculas partes fazem às vezes esquecer o todo! Mas não ficamos por aqui. Depois, há que transpor todas as informações para as variadas fichas e plataformas. Mas isso não chega: há que voltar a ir buscar as mesmas informações para elaborar outra dúzia que relatórios parciais que nunca mais ninguém vai l

Viver sem primeira-dama

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Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República Parece inevitável: ganhe quem ganhar nas próximas eleições presidenciais, não teremos em Belém uma primeira-dama. Considerando os principais candidatos, é esse o cenário. Marcelo Rebelo de Sousa é divorciado e vive com uma senhora que não tem a mínima intenção de deixar a sua profissão para o acompanhar. O mesmo se passa com Sampaio da Nóvoa, embora casado. Maria de Belém é casada, mas quanto muito o marido poderá representar o papel de primeiro-cavalheiro, ou outro título assim. E eu acho isso bastante refrescante. Vamos lá pôr as ideias no lugar. Numa monarquia, toda a família real tem um papel a representar. Um papel institucional e simbólico. Mas nós vivemos numa república e parece lógico que a eleição para um cargo não abranja a família toda. As funções do Presidente da República são desempenhadas por ele próprio, vamos deixar de as enfeitar com o simbolismo monárquico.  Já agora, vamos também relembrar que

Hitler: publicar ou não publicar, eis a questão!

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No dia 1 de janeiro de 2016, isto é, daqui a pouco mais de um mês, o livro de Hitler Mein Kampf cai no domínio público. Até agora, a sua edição na Alemanha estava totalmente proibida e a sua transcrição bastante restringida. Com o levantamento desta proibição, prevêm-se várias edições e uma ampla divulgação desta obra incendiária do nazismo e do anti-semitismo. Muitos temem esta publicação e acham-na perigosa. Mas... o que é que realmente muda? Qual é o perigo real? O mundo atual é muito diferente do mundo dos anos 40 ou 50 do século passado. Nessa época, proibir uma publicação tinha uma eficácia razoável. Sabemos que é difícil fazer desaparecer um livro, ele arranja maneira de continuar a circular, subterraneamente, clandestinamente. Hoje é bem diferente. Todos os textos, por mais proibidos que sejam, circulam livremente na internet. E, se for necessário, passam para a chamada deep web , como se constata atualmente com os textos panfletários do Estado Islâmico. Por princí

Vinyl de chocolate

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Ultimamente, as notícias têm-nos deixado com um travo amargo na boca... Talvez por isso, resolvi trazer aqui uma novidade verdadeiramente doce.  Um DJ francês, chamado Breakbot, editou um disco chamado By your side. Não sei se as canções são doces. Mas Breakbot decidiu editar um vinyl em... chocolate! Foram feitas apenas cem cópias comestíveis deste álbum que, apropriadamente, se vende na loja de chocolates Colette.  Parece-me uma ideia excelente. Se não gostarmos da música, podemos sempre partir o disco e comer os pedaços! Ou, dito de outra forma, é uma música que nos deixará sempre uma boa recordação!

Podia ser eu...

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Quando fui visitar o campo de concentração de Auschewitz, confrontei-me com uma fotografia que me emocionou profundamente. Num corredor de um dos edifícios-prisão, as paredes estavam cobertas com fotografias de pessoas que tinham estado presas no complexo e ali tinham morrido. Fui percorrendo o corredor, vendo aquelas faces, lendo as informações sobre as suas profissões, idades... De repente, houve uma fotografia que me chamou a atenção. Uma mulher de idade indeterminada, cabelo rapado, olhar de quem já desistiu de compreender. O nome Krystyna, a profissão professora. Podia ser eu... Entrou no campo de concentração no final de 1942, morreu cerca de cinco meses depois. Podia ser eu... Alguém prendeu uma flor no canto da fotografia. Um parente? Um antigo aluno? Aquela fotografia ficou comigo. Penso naquela mulher muitas vezes, com empatia e emoção. E voltei a lembrar-me dela neste fim de semana, após os atentados de Paris. Devemos sempre lutar contra a barbárie, por todas as razões, a

Da TAP...

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Não quero saber se a TAP é uma empresa pública ou privada. Se pertence ao Estado português, aos chineses ou aos marcianos! Desde que funcione bem, e sirva eficientemente os passageiros, está bem para mim... Gosto da TAP por outros motivos. Gosto da TAP porque os aviões têm nome próprio. Aqui há dias, voei num avião chamado Malangatana... Também suponho que é a única companhia aérea que serve favas com chouriço às onze horas da manhã...

A árvore que mudou de sexo

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© cyocum | Via Flickr Localiza-se na Grã-Bretanha, mais precisamente na Escócia, no adro da igreja de Perthshire. Dizem que é a árvore mais antiga da Europa. É um velho teixo e, até agora, sempre se considerou do sexo masculino: fertilizava outras árvores, produzindo pólen. Recentemente, a velha árvore surpreendeu todos os estudiosos começando a dar frutos. Isto é, em termos botânicos, a árvore mudou de sexo. Têm sido avançadas algumas explicações. A árvore poderia estar a reagir a uma espécie de stress ambiental. Ou poderia estar a garantir a continuidade da espécie, assumindo também a parte feminina. Tenho para mim que esta árvore decidiu finalmente assumir a sua verdadeira identidade. A liberdade de orientação sexual pode ter enfim chegado ao reino da Botânica.

China - o efeito bebé...

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Cartaz apelando ao cumprimento da planificação familiar imposta pelo Estado Soubemos nesta semana que, finalmente, a China decidiu pôr fim à sua política de filho único. O Comité Central do Partido Comunista Chinês emitiu um comunicado permitindo que as famílias tenham dois filhos. Apesar de ser uma decisão que devia ser do foro íntimo e familiar, e não depender de uma decisão política, fico feliz com essa pequena vitória. Todos os que se interessam um pouco por aquilo que vai acontecendo pelo mundo sabiam que esta proibição do Partido Comunista Chinês, fosse qual fosse a sua causa, teve como grande consequência o desequilíbrio demográfico, com a valorização dos filhos, dos rapazes, do filho varão. Coitados dos filhos varões, que hoje não encontram noivas numa China com muitos milhões a mais de habitantes do sexo masculino! Mas o mais confrangedor eram os números. Os números, secos mas gritantes, dos infanticídeos de meninas, das filhas que eram rejeitadas à espera do filho va

Vamos outonear?

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E pronto, o outono chegou e instalou-se de vez. O frio ainda não aperta, mas vai chovendo e os dias são cada vez mais curtos. Não sou fã desta estação do ano, a diminuição da luz diária tem um efeito direto na minha disposição. Apetecia-me hibernar, como alguns bichinhos. E sei que este efeito é muito mais comum do que se pensa... Mas temos de reagir e... outonear! Encontrei esta palavra e resolvi adotá-la. Outonear, igual a ter atividades que tornem o outono mais agradável! Assim, de repente, lembrei-me de várias hipóteses! O outono é uma época excelente para passear à beira-mar, por exemplo. Há muito menos gente, entre turistas e banhistas, e podemos ter o mar e a maresia só para nós. Os serões são agora mais longos. Porque não recuperar um antigo prazer, pegar numas lãs coloridas e tricotar uma manta para as noites mais frias? Ou uma camisola para o sobrinho mais recente? Ou umas botinhas para o que vai nascer? Enfim, há aquelas tardes de domingo, chuvosas, em que só apetec

Quem matou as princesas da minha infância?

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Eram todas lindas e inocentes. Loiras ou morenas, europeias, índias ou cheias de encanto oriental, sofriam os mais horríveis tormentos, eram abandonadas, maltratadas, humilhadas, sempre sem um pensamento de vingança. No final, a sua bondade, beleza e inocência acabavam por levar a melhor sobre a maldade do mundo que as rodeava. Encontravam um principe, ou um sapo charmoso, e viviam felizes para o resto da vida. E nós também iamos felizes para a cama. Eram as princesas da Disney. A Branca de Neve e a Cinderela, a Mulan e a Pocahontas. Acompanharam a infância e os sonhos de gerações de meninas, desde a minha mãe à munha filha. As princesas da Disney eram as nossas heroínas e os nossos modelos. Descobri há pouco tempo que um artista plástico decidiu pegar nessas fantásticas princesas da nossa infância e transformá-las em personagens eróticas. Eu sei, eu sei: há fetiches de todo o estilo e feitio e isto já não é novidade. Mas, até agora, não era arte. E eu senti-me verdadeirame

A professora de Valter Hugo Mãe

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Aproxima-se o início de um novo ano letivo. Já se fazem reuniões, já se planificam atividades, já se discutem estratégias. E pensamos como serão as nossas novas turmas... Por coincidência, ou talvez não (a outra dizia que não havia coincidências...) caiu-me nas mãos este texto de Valter Hugo Mãe. E eu penso: se tiver um caso destes nas minhas turmas... basta um, apenas um aluno assim... então, tudo valerá a pena! Houve um dia, numa aula de História do sétimo ano, em que falámos das estátuas da Roma antiga. Respondi à professora, uma gorduchinha toda contente que me deixava contente também, que eram os olhos que induziam a sensação de vida às figuras de pedra. A senhora regozijou. Disse que eu estava muito certo. Iluminei-me todo, não por ter sido o mais rápido a descortinar aquela solução, mas porque tínhamos visto imagens das estátuas mais deslumbrantes do mundo e eu estava esmagado de beleza.  Quando me elogiou a resposta, a minha professora, contente, apenas me pre