Mensagens

A mostrar mensagens de 2014

Pausa em jeito de balanço

Imagem
Este blogue comemora o seu quinto aniversário neste mês de abril. Foram cinco anos muito cheios, recheados de coisas boas e más e de muitas emoções. E em todas elas o blogue esteve presente, refletindo de forma mais ou menos explícita essas emoções. Chegou o momento de o terminar, de fechar a porta devagar e sair de mansinho. Ao longo destes cinco anos fiz cerca de 500 posts. Em todos eles espelhei a minha forma de olhar o mundo, partilhei reflexões, falei de livros e de viagens, contei histórias, algumas fruto da minha experiência pessoal, outras fruto da minha imaginação. Diverti-me a escrever alguns posts. Chorei a escrever outros. Quase sempre senti a empatia de quem me lia. Porque um blogue não existe no vazio, vive da partilha com quem o lê. E, para ter leitores, o blogue precisa de regularidade. Neste momento da minha vida, não consigo manter este espaço num registo regular. Sem regularidade não há partilha e cada post é como um sopro, que se perde no espaço.  Chegou port

A loira burra

Imagem
Mudou o seu nome para Blondie e encontrei-a nas páginas de uma revista. Melhor dizendo, tropecei nela! Tropeçar tem uma conotação diferente, não é um encontro, com o seu encanto inesperado, remete-nos antes para alguma coisa desagradável que nos atrapalha a caminhada... Pois então, tropecei nesta Blondie!  Trata-se de uma jovem que tem como objetivo máximo na vida assemelhar-se à boneca Barbie. Já fez tudo para alterar a sua imagem: inúmeras operações plásticas, para aumentar o peito, moldar o busto, tornear a anca... Já copiou a cor do cabelo, o penteado, o desenho das sobrancelhas... Faltava-lhe imitar a boneca Barbie na cabecinha... Como pensará a Barbie? Esta difícil questão deverá ter ocupado muitas horas de pensamento da pobre Blondie! As prateleiras das lojas e supermercados apresentam-nos Barbies multifacetadas, elas são médicas e professoras, exploradoras e desportistas. Ah! Mas a Blondie não se deixou enganar! A Barbie verdadeira era aquela boneca que só se preocup

O folião

Imagem
Não, não se trata de um novo elemento constituinte da matéria, agora descoberto! É uma especificidade portuguesa, talvez importada do Brasil, muito além do ião, do eletrão, ou mesmo do pelintrão! Quando chega a época das festas do Carnaval, surge em Portugal um novo grupo de pessoas: os foliões. São-nos trazidos pelo zelo noticioso das televisões, que não reconhecem este grupo nem (que eu me tenha apercebido) utilizam este adjetivo em qualquer outra altura do ano. É assim que ficamos a conhecer os desejos e sentimentos deste subgrupo da raça lusitana.  Os repórteres falam dos foliões como se fossem um grupo à parte, distinto dos restantes portugueses. Ficamos assim a saber que os foliões entraram nos recintos de festas ou desfilaram risonhos, apesar da chuva, ou qualquer outra coisa. O termo é tão extensivamente utilizado, que podemos ficar com a ideia de que este grupo específico, que só emerge nesta época, qual ave em migração, tem um código de conduta especial. Qualquer coisa d

A última Von Trapp

Imagem
Morreu ontem Louise Von Trapp, com 99 anos, a última sobrevivente daquela família Von Trapp que todos aprendemos a conhecer e a amar com o filme "Música no Coração". Sim, eu sei que o filme era lamechas, mas todas as criaturas da minha geração cresceram com aquelas paisagens e aquela música no coração. Vi o filme quando era pequenita. Era uma época em que a violência ainda não nos entrava em casa a toda a hora, através da televisão, nem estavamos habituados a conviver com mortos-vivos ou monstros. Foi um dos primeiros filmes que vi que retratava o nazismo, e como ele mudara pouco a pouco as pessoas. Lembro-me que nunca tinha ouvido falar dos nazis, e foi ali que percebi o perigo dos regimes que querem criar um homem novo através do medo. Chorei, claro, mas também sabia as músicas de cor! A família de cantores tem a sua vida um tanto romanceada, no filme, como é habitual! Na verdade, eles não fugiram a meio da noite, pelas montanhas, mas fugiram realmente graças à música,

A calçada lisboeta

Imagem
Poucas coisas me maravilham tanto em Lisboa como os desenhos a preto e branco das nossas ruas! Damos por eles quando os pisamos, mas é quando os olhamos de cima que toda a sua beleza nos atinge. São como rendas pousadas no chão. Fazem-me lembrar aqueles bonecos que a minha mãe recortava, em papel dobrado, quando eu era pequena; eu ficava fascinada, quando ela desbobrava o papel e os bonequinhos surgiam, destacados sobre o fundo escuro da mesa, todos de mãos dadas ou a dançar numa roda perpétua... A calçada portuguesa é bem mais antiga do que os bonecos recortados da minha mãe. Tal como a conhecemos, começou no século XIX, na Costa do Castelo, no Rossio, nos Restauradores (ao tempo, o Passeio Público). Hoje, é um traço distintivo da cidade, que todos os turistas reconhecem e apreciam e todos os lisboetas amam. Há alguns anos, a Câmara Municipal de Lisboa criou um curso de calceteiros, para que esta belíssima arte não se perdesse. Colocou até uma estátua de um calceteiro,

Vou ali ao sol e volto já!...

Imagem
Fomos há pouco tempo surpreendidos com a notícia de que a Coreia do Norte teria enviado um astronauta ao sol. Nesse país de mirabolantes encenações já nada surpreende mas, mesmo assim, há notícias que são demasiado incríveis. O locutor da Central de Notícias da Coreia do Norte teria afirmado: "Estamos muito satisfeitos em anunciar uma missão bem sucedida de colocar um homem no Sol . A Coreia do Norte tem batido todos os outros países do mundo. Partiu para o Sol Hung Il Gong  de 17 anos, é um herói. E merece uma recepção de herói quando voltar para casa mais tarde, talvez esta noite”. O jovem herói, sobrinho do líder coreano, teria viajado de noite para evitar as queimaduras solares, trazendo comprovativos da sua viagem. A notícia só pode ter provocado gargalhadas de troça e incredulidade. Ninguém, no seu juizo perfeito, poderia acreditar numa coisa destas. E, realmente, soube esta semana que a notícia tinha sido inventada por um site de notícias cómicas, do mesmo tipo d

Fredo Mergner

Imagem
De origem húngara, veio para Portugal em 1977, com 24 anos. Era um exímio guitarrista e, numa rápida pesquisa pela internet, facilmente encontramos músicos que falam de Fredo Mergner como uma referência, alguém que ouviram e que se tornou uma influência marcante na forma como tocava a guitarra clássica. Integrou vários projetos. O mais conhecido foi o projeto "Resistência", onde tocava com músicos como Pedro Ayres Magalhães, Fernando Cunha, Tim. Ainda no último concerto da banda, no Campo Pequeno, subiu ao palco com a sua guitarra. No sábado passado, encontrei-o nas Escadinhas do Duque, em Lisboa, a tocar guitarra. Rodeado por pessoas que o ouviam, encantadas, sem provavelmente o reconhecerem. Gostei muito de o ouvir, mas... ficam muitas perguntas por responder. O que faz Fredo Mergner tocar numa rua de Lisboa, num frio fim de tarde de fevereiro? Toca porque lhe apetece? Toca para sobreviver? Diz Fredo: "Fiz a minha evolução em Portugal. As minhas influências, rec

Chapéus de chuva

Imagem
Este inverno, Lisboa ganhou um novo tipo de mobiliário urbano. Por todo o lado se veem chapéus de chuva abandonados. Partidos, virados ao contrário, meios abertos meios fechados. Brancos, pretos, amarelos, azuis, com bolas ou com riscas. De todas as cores, embora tenha começado a perceber que o bordeaux é uma cor favorita para guarda chuvas. Estes guardaram mal da chuva, ou talvez a chuva tenha sido demasiada para as suas capacidades. Por isso, jazem pelas sargetas e baldios da cidade, abandonados. Dou por mim a pensar se teriam voado das mãos dos donos, ou se teriam sido atirados pelo ar num daqueles acessos de mau humor que o efeito conjugado da chuva e do vento geralmente provocam em nós. Seja como for, aí estão eles pelas ruas da cidade. Isolados ou em pequenos grupos, como se ainda quisessem cumprir alguma função de abrigo. E demoram tempo a ser recolhidos pelos serviços camarários. Ficam ali, encharcados e partidos, a uma qualquer esquina, a lembrar-nos que o inverno ainda est

Depressão das festas

Imagem
Ouvi pela primeira vez esta expressão, depressão das festas, no final do ano transato. Duas palavras, depressão e festas, que parecem não condizer uma com a outra. Mas talvez não seja assim tão estranho. Não preciso pensar muito para me lembrar das frases, frequentes, que antecedem o Natal: "Vai ser uma trabalheira!" ou "Tomara que já tenha passado!" O que se passa connosco, afinal? Tenho para mim que as pessoas não se sentem bem quando há uma pressão social ou cultural muito intensa num determinado sentido. Estas alturas do ano em que, desde a publicidade até aos media, todos nos bombardeiam com imagens de famílias felizes, enormes, numa alegre confusão à volta de uma mesa cheia de iguarias, num ambiente de luzes e calor, onde se espera que todos partilhem um coração tão luminoso como as luzinhas da árvore de Natal, podem ser muito stressantes! Por muitas razões. Assim, de repente, lembro-me de algumas: - Morte ou desaparecimento de alguém que nos era mui

O vestido do sim

Imagem
Sempre me aborreceram os excessos consumistas. E, se há ocasião em que todos os sininhos emocionais são tocados para estimular o consumismo, é o dia do casamento. Acenam-nos com a tal história do "dia mais bonito da tua vida!" e vai de acumular gastos com milhentas coisas, a maior parte das quais perfeitamente dispensável para garantir a felicidade e a beleza do dia. Já soube de casos em que o divórcio chegou mais depressa do que o final do plano de pagamento da dívida contraída para pagar as despesas do casório! Sempre fui adepta do "quanto mais simples melhor"! E tenho a certeza que a felicidade não se contabiliza por aí! Mas todos acabamos por ceder às pequenas vaidadezinhas do dia. No nosso casamento, somos as vedetas principais e queremos estar à altura. Para simplificar as nossas contas, surgiu agora uma pequena empresa que aluga vestidos de casamento. Mas não são uns vestidos quaisquer, são vestidos de assinatura, daqueles que custam uns milhares de euro

E agora o lado pouco estético das praxes!

Imagem
Tinha decidido que não escrevia mais nada sobre as praxes, mas não é possível, é um assunto incontornável! E isso leva-me a uma reflexão num patamar um pouco diferente. Refiro-me ao lado pouco estético das praxes. Não, não estou aqui a referir-me a esses pobres coitados obrigados a rastejar na lama, a fazer flexões em roupa interior, lambuzados de excrementos... Esses são as vítimas do sistema. O tempo dirá se irão ultrapassar estas humilhações de forma saudável ou se irão fazer catarse das mesmas nas praxes que irão aplicar (aplicadamente...) no ano seguinte... Não, não vou falar desses, mas sim daqueles que andam por ali vestidos de corvos antiquados e rabugentos, a ralhar como sargentos de filmes de série B. Já viram bem a falta de gosto daquele traje? Um fatinho preto de corte antiquado, com uma capa tipo Batman. Sinceramente, nem é bonito, nem é vintage, nem é nada! É só feio! Mas é caro, muito caro, e não posso deixar de pensar condoidamente nos pais que fizeram sacrifícios

Pobres mulheres indianas

Imagem
Sucedeu esta semana na India, na região de Bengala. Uma jovem de 20 anos namorava com um rapaz de uma comunidade vizinha, o que não é bem visto nesta região do globo. Detidos pelo tribunal popular da aldeia, foram multados em 300 euros. O rapaz pagou, mas a família da rapariga alegou que era pobre e não podia pagar. O tribunal da aldeia condenou-a então a uma violação coletiva. Na passada 2.ª feira, uma jovem indiana de 20 anos foi violada por treze homens da sua aldeia, como castigo por namorar com um jovem de outra comunidade. Violada por um tribunal que não é reconhecido legalmente, mas que é respeitado pelos aldeãos. Violada por homens da sua aldeia, que ela conhecia desde sempre, a quem tratava por tio ou irmão mais velho. A violação, qualquer que seja o contexto ou a vítima, é um dos crimes mais repugnantes que existe. Há alguém que é mais forte, ou que está numa situação de poder, e a violação é a violentação física e emocional daquele que é mais fraco. É o desprezo pelo que

As humilhações consentidas das praxes

Imagem
Começo por afirmar desde já que não sou contra as praxes. Até posso entender e achar engraçados e, de certa forma, úteis, os rituais e as práticas que se destinam a integrar numa comunidade os novos membros. Mas isso não tem de incluir práticas humilhantes, coercivas, degradantes, como se tem visto nestes últimos anos. Todos já nos confrontámos com esses grupos de jovens que, no início de cada ano letivo, são arrebanhados e levados pela cidade como animais de circo. Algumas destas manifestações são apenas idiotas. Mas outras são verdadeiramente degradantes. Não pode haver nada que obrigue uma criatura a ajoelhar-se perante outras, a ser enxovalhado com produtos mais ou menos nojentos, ou com músicas ou danças de gosto muito duvidoso. Há universidades em que estas práticas se mantêm dentro de limites razoáveis. Mas há outras em que esses limites são claramente ultrapassados. Qual de nós nunca ouviu relatos de situações abusivas, em que os jovens são obrigados a beber em excesso

A mãe do líder

Imagem
Agora que já passaram as festas e a azáfama acalmou, há finalmente tempo para ler ou reler coisas que ficaram empilhadas à espera do seu momento. Os jornais e revistas fizeram as suas revisões do ano que passou e, incontornável, realçaram a morte de Nelson Mandela. Reli algumas coisas sobre a sua vida e a sua obra. Todos conhecemos Nelson Mandela, o seu sorriso bondoso, os seus olhos risonhos. Sabemos que passou muitos anos preso, que conseguiu ser libertado e levar o seu país a rejeitar o odioso regime do apartheid.  Foi o primeiro presidente negro da África do Sul e, apesar de tudo o que passou, não alimentou atitudes de ódio ou de vingança; pelo contrário, lutou pela reconciliação nacional e pela integração. Nada disto é novo, felizmente faz parte do nosso conhecimento do que se vai passando pelo mundo. No entanto, estamos sempre a aprender. No relato sobre a sua infância, um dos textos relatava que, embora oriundo de uma família de alguma importância no contexto tribal da Áfri