Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2009

Dormir num palácio

Imagem
Fiz anos, muitos, meio século. E uma das prendas que recebi foi um fim-de-semana no Palace Hotel do Bussaco. Nunca lá tinha estado e foi, realmente, uma experiência extraordinária. O Palácio que hoje funciona como hotel foi construído em 1885 para os reis de Portugal; o rei D. Carlos gostava de o usar como pavilhão de caça. É de uma beleza e harmonia únicas. Construído no mais exuberante estilo neo-gótico, mais exactamente neo-manuelino, multiplica rendilhados, pináculos, gárgulas. Se o exterior é deslumbrante, o interior não o é menos. Aos emblemas reais, às cordas, aos motivos florais, esculpidos em todos os salões e corredores, juntam-se quadros, frescos e painéis de azulejos que evocam Camões e os Lusíadas, mas também outros episódios dos Descobrimentos. Por exemplo, a grande escadaria central está ladeada por dois grandes painéis de azulejos que representam a conquista de Ceuta e a reconquista de Goa. Mas surgem também, logo no salão da entrada, as guerras peninsulares e as lutas

Naturalidade

"Chamais-me europeu? Pronto, calo-me. Mas dentro de mim há savanas de aridez e planuras sem fim com longos rios langues e sinuosos, uma fita de fumo vertical, um negro e uma viola estalando." Rui Knopfli

É só um caso de uma garota!

Não tenho o hábito de trazer para este blog questões tão mediatizadas como a da pequena Alexandra, devolvida à sua mãe russa. No entanto, este caso deixa-me tantas angústias e interrogações que não consigo deixar de o comentar. A pequena Alexandra foi retirada à sua família de acolhimento e enviada para a Rússia, onde vive a sua mãe com a restante família. Qualquer pessoa que se mantenha minimamente informada conhece os pormenores do caso, já que os media não falam de outra coisa desde ontem. Primeira interrogação: porquê só agora, se a decisão do tribunal data de há um ano atrás?  Ao tomar conhecimento do caso, fiquei sensibilizada, claro, mas depois de ouvir o juiz responsável pela decisão fiquei revoltada. Parece então que o sr. juiz, ao ver as imagens da mãe biológica a bater na criança, teria ficado incomodado. Até o sr. ministro da Justiça se declarou incomodado. Segunda interrogação: quem assumirá o "incómodo" provocado a esta criança? Todos os psicólogos afirmam que o

A Turma

O Festival de Cannes é a grande montra do que de melhor se faz no mundo do cinema e, este ano, um jovem português, João Salavisa, ganhou aí o prémio para melhor curta-metragem. Parabéns ao realizador, à sua equipa e ao cinema português. Serve isto como pretexto para escrever um pouco sobre o filme que ganhou a Palma d'Ouro no ano passado, 2008. "A Turma", no original "Entre les Murs" de Laurent Cantet, é um filme rodado numa escola dos arredores de Paris. Retrata essencialmente a relação entre um professor e um grupo de alunos, uma turma, durante um ano lectivo. A turma, a escola, é uma amostra do tecido social e dos conflitos que aí se tecem e nós, espectadores, assistimos aos esforços do bem intencionado professor de Francês no sentido de levar aquele grupo a aprender a expressar-se melhor, mas também a respeitar-se e a compreender-se. Nem sempre ele é feliz nas suas atitudes, e por vezes, as situações são levadas a extremos. No final do ano lectivo, todos c

Rupert and the frog

Ontem, quase sem dar por isso, de mansinho, os visitantes deste blog ultrapassaram o milhar. Ainda é um blog tão novinho, fico contente! Por isso, resolvi que o post deste dia é uma prenda para quem aqui vier. E quem se lembra disto?

Postal de Lisboa VI - Cais do Sodré

Imagem
Cais do Sodré é um nome que evoca as mais diversas imagens. Para quase ninguém evoca o Duque da Terceira, personagem presente em estátua no centro da praça e que lhe dá o nome. Para alguns, evoca os bares onde as noites se afogam nuns copos, bares da moda, bares de música mais ou menos alternativa, bares de prostitutas, bares de marinheiros. Nas imediações da Rua de S. Paulo, os bares, com as suas mesas e chão de mármore desgastado, ainda têm nomes evocativos como bar “Pirolito” ou bar “Salva Vidas”. O escritor Tiago Rebelo recorda o Cais do Sodré do final dos anos 60, onde, segundo se dizia, “o sangue corria nas valetas”. Para outros, evoca o local de destino diário, o início do dia de trabalho, o grande interface de transportes urbanos, onde se cruzam os barcos que vêm da “outra banda” com os eléctricos e os autocarros que vão para Belém ou Algés ou qualquer outro destino, onde chegam o metropolitano e os comboios de Cascais, onde os carros e os táxis se atropelam. Para outro

Pontes

Imagem
Gosto de pontes! Altas e arrojadas, ou baixas, sólidas e fiáveis, são sempre momentos de mudança, pontos de passagem para outras margens... Às vezes, limitamo-nos a olhá-las de longe, sem nunca iniciarmos a travessia. Às vezes, são miragens. Às vezes, atravessamo-las e conquistamos a outra margem. Hoje, Lisboa está envolta numa ligeira neblina e a Ponte Vasco da Gama parece dirigir-se para o infinito, ou para lugar nenhum. E os homens que apanham mexilhão na imensa planura lamacenta que o estuário deixa a descoberto na maré baixa, parecem náufragos que regressam a terra firme. Só as gaivotas parecem saber para onde vão.

Mães e Filhos

Imagem
Uma sondagem elaborada pela Netsonda e divulgada na última semana, dá-nos conta de que as mulheres portuguesas gostariam de ter mais filhos do que têm, situando-se a média em três filhos. No entanto, não pensam ter mais de um ou dois, devido a diversas razões que sondagem tenta distinguir. Em primeiro lugar, vêm as razões financeiras; depois vêm as dificuldades em conciliar o trabalho fora de casa com o tempo para os filhos. Há também razões que se prendem com o apoio (ou a falta dele!) prestado pelo pai ou outros familiares. Segundo a sondagem, este desejo é transversal a todas as classes sociais, variando depois as razões para a sua não realização. Sempre me pareceu que a nossa noção de família, com os seus laços de compreensão e entreajuda, é um dos traços mais positivos da nossa personalidade enquanto povo. Pelo menos, da maioria de nós, que excepções também as há e bem aberrantes. Mas os contactos que tenho mantido com jovens de outros países da Europa, particularmente do Norte, m

Imagens raras de Lisboa

Lisboa é uma cidade com muitos séculos de história, mas raramente temos oportunidade de ver, num local apenas, vestígios quase sobrepostos desse passar do tempo. O Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros é um desses locais. Não é fácil a visita porque, como é evidente, nem sempre está aberto e são precisas autorizações especiais para lá entrar. Mas vale a pena! Visitei-o há alguns anos, no âmbito de uma formação que estava a fazer sobre Civilização Romana e Romanização, juntamente com outros locais que guardam vestígios da presença romana em Lisboa. Mas este sítio é especial porque, à medida que vamos descendo, vamos recuando no tempo, até àquela lareira de chão dos tempos fenícios, quando aquele lugar era uma praia fluvial. É como desfolhar um milfolhas; cada folha traz um novo tempo, uma nova presença. Para quem gosta de Lisboa, é uma viagem no tempo, quase mística. Para quem não puder ver, in loco, deixo aqui a aproximação: um documentário feito pelo Canal História, que consegue d

Pontapé no Socas

Imagem
Será que somos mesmo capazes?

O Último Ano em Luanda

Imagem
Acabei de ler este livro do Tiago Rebelo e gostei bastante. Embora não seja uma obra-prima, é um livro bem escrito, que prende o leitor da primeira à última página. As duas personagens centrais, Nuno e Regina, são um casal que luta para se salvar, durante os anos de 1974 /75, em Angola. Através deles, é a tragédia dos portugueses que viviam em Angola que nos é apresentada; apanhados no meio de uma tempestade que não podem controlar, entre os interesses das grandes potências e a ineficácia da administração portuguesa, no meio das lutas fraticidas dos movimentos de libertação, lutam para salvar alguma coisa de uma vida de trabalho, quando não a própria vida. A família do meu marido estava em Angola quando eclodiu a guerra civil. Não eram ferozes colonialistas, eram simplesmente pessoas que trabalhavam numa Angola que consideravam, também, a sua terra. Talvez por isso, muitas das situações e dos episódios narrados neste livro não me foram estranhos. Já ouvi contar muitas vezes casos idênt

Ainda os eléctricos

Imagem
(Estrada de Benfica) Para qualquer pessoa, português ou turista, o eléctrico é um ícone de Lisboa, tal como o Mosteiro dos Jerónimos ou o Castelo de S. Jorge. Não é por acaso que é imagem recorrente nos quadros dos artistas de rua que vendem as suas obras junto ao Arco da Rua Augusta. Dá um traço de cor e de pitoresco às ruas antigas de Lisboa, que eu espero que seja preservado, para gozo de todos nós. Pois para quem ama os eléctricos e cresceu com eles, há um blog fantástico, o tlimtlimxabregas.blogs.sapo.pt, que conta a história de cada linha através de fotografias antigas do seu percurso  (como a que aqui se mostra e foi de lá "roubada").  É um trabalho de pesquisa e de pormenor que encantará seguramente todos os que utilizaram este transporte e, estou certa, se irão rever em muitas daquelas imagens. É um blog a seguir... até porque o autor ainda só vai na carreira n.º 5.

Escolas matam a fome

Serve este post para completar o de ontem, sobre viagens fantásticas ao alcance de quem as puder pagar. Li no Correio da Manhã que há cada vez mais crianças a chegar à escola com fome, particularmente à 2.ª feira, depois de dois dias em casa. A Câmara Municipal de Sintra começou um programa de apoio há uma semana, abrindo as cantinas escolares também ao fim-de-semana e o número de inscrições quase duplicou numa semana. Noutros pontos do país, a situação é idêntica. Não posso deixar de me interrogar: que mundo é este em que vivemos? Que país é este que construímos? 35 anos depois de uma Revolução que prometia trazer-nos o desenvolvimento, além da democracia, é este o estado em que estamos? Em que andaram os nossos políticos entretidos, além do seu próprio bolso? Também não posso deixar de fazer outra pergunta: depois de terem sido tão maltratados, ainda é com as escolas e os professores que a sociedade conta, quando se vê em situações de carência? Estranho país este!

Viagens e mais viagens

Imagem
Como muito bem sabe toda a gente que me conhece mais ou menos bem, eu adoro viajar. E passo algum do meu tempo livre a "navegar" por livros, revistas, sites, programas televisivos, que se relacionem com o tema. Já que não posso viajar tanto quanto gostaria, as imagens e as palavras dão-me um "cheirinho" dos locais. Ora esta semana descobri duas referências extraordinárias, cada uma à sua maneira.  Uma foi a notícia de que reabriu a circulação turística na fronteira entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Fiquei a saber que, se me sujeitar a ter acompanhamento militar e prescindir de telemóvel, posso visitar o templo Singyesa, do século VI, ou apreciar as cataratas Kuryong, ou outros locais com nomes fantásticos e, para mim, até agora desconhecidos, e que me deixam na boca um exótico sabor a aventura. Mas, se não gostar de nenhuma das sugestões disponíveis no mercado, há outra possibilidade: através do site www.handmadevacations.com, é posto à nossa disposição um

Varekai

Fui ontem, com a família toda, assistir à estreia do espectáculo "Varekai" que o Cirque du Soleil traz este ano a Portugal. Logo a partir dos primeiros momentos, o espectáculo prende-nos: no cume de um vulcão, ou no meio de um bosque, surge-nos um mundo feérico, de fadas e duendes, de insectos, lagartos e libelinhas, que talvez se chame Varekai. Dos céus cai um jovem de longas asas, talvez Ícaro. A aventura que se segue junta acrobacia e arte dramática a uma extraordinária beleza visual, em que os cenários e o guarda-roupa são de uma enorme beleza e criatividade. A música, ao vivo, ajuda a transportar-nos para esse mundo irreal. Em resumo, é um espectáculo a não perder. É uma noite encantada. Só para abrir o apetite, aqui vai um bocadinho do espectáculo.

Postal de Lisboa V - O 25E

Imagem
Passear por Lisboa num dos velhos eléctricos amarelos é quase uma experiência extra-sensorial. É como se entrássemos numa cápsula do tempo. Sentada junto a uma das amplas janelas de madeira, avançando a ritmo lento pelas ruas estreitas, sinto que posso estar aqui e agora, como posso estar nos anos 30, dentro de um dos antigos filmes portugueses. Qual Mary Poppins que salta para dentro das pinturas, no parque, assim eu entro num eléctrico, dos velhinhos, e parto para outra dimensão. Há eléctricos famosos: o 15, que percorre a zona ribeirinha até Algés; o 28, que sobe até à Graça… Um dos meus preferidos, no entanto, é o eléctrico n.º 25E. Parte da Rua da Alfândega e sobe até aos Prazeres. Na realidade, constitui uma espécie de passeio pela estrutura social de Lisboa. Vai avançando pelas ruas da zona do Cais do Sodré, até ao Largo do Conde Barão. É a Lisboa popular, confusa, das ruas atulhadas de veículos de todo o tipo, das casas com a pintura a cair e roupa a secar nos estendais. Há

Haiku

Felizmente, há sempre coisas que eu não sei e mantenho o meu espírito aberto para aprender. Não conhecia, por exemplo, o haiku. É uma forma de poesia japonesa, com um número de sílabas, ou "on" definidas, que têm sempre uma referência sasonal. Em japonês, escrevem-se numa linha vertical. Em inglês, dividem-se por três linhas horizontais, para ir ao encontro da métrica japonesa. O que a seguir transcrevo é um haiku à portuguesa. Foi o meu filho que o escreveu e eu gostei. Sopra sob o céu Sibilante e silencioso. O vento de verão toca-me a pele.

Tragédia

Alguns dos meus últimos posts fizeram-me voltar atrás, aos meus tempos de estudante, na época do 25 de Abril. Isso fez-me lembrar outras coisas. Por exemplo, a poesia. Lembro-me que nessa época, com 14, 15 anos, tinha uma colega, a Graça Bento, com quem lia e trocava poesias. Era a época da descoberta da música, da cadência, da beleza das palavras. Foi nessa altura que me habituei a andar sempre com um pequeno caderno, para registar em qualquer altura o que me agradava, uma frase, um poema, um autor. E ainda hoje mantenho esse hábito. Naquela época, descobri Eugénio de Andrade, Mário Cesariny e tantos outros, entre os quais Manuel da Fonseca, mais conhecido como romancista do que como poeta. Mas eu gostava muito da forma simples como Manuel da Fonseca juntava as palavras. Fui descobrir um desses poemas, um dos meus preferidos, intitulado "Tragédia". Tragédia Foi para a escola e aprendeu a ler  e as quatro operações, de cor e salteado.  Era um menino triste:  nunca brincou n

A grande queima de livros

Imagem
Não tenho o hábito de tratar aqui de efemérides, há blogs que o fazem muito melhor do que eu. Mas, hoje, passam 76 anos sobre um episódio que não podemos esquecer. No dia 10 de Maio de 1933, na Alemanha recém mergulhada no nazismo, foram queimados cerca de 25 mil livros, considerados perigosos ou susceptíveis de distrair das suas obrigações o "homem novo" que Hitler pretendia construir. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Reich, afirmava que era necessário eliminar a má influência que a literatura podia exercer. Era necessário extirpar o socialismo e o bolchevismo, o judaísmo e o pacifismo, o cosmopolitismo e o liberalismo em geral. Organizou-se uma lista de livros a destruir, que englobava obras literárias, ciências, filosofia. Foram as próprias organizações estudantis do regime que se encarregaram de procurar nas estantes tudo o que lhes parecia "não-alemão", enfiando os livros em camiões a caminho da incineração. O grande acto de fé ideológico, a fazer lem

Durão Barroso nos seus tempos de MRPP

Finalmente, encontrei na internet um video que me faz encarar o futuro com confiança. A partir de agora, quando um dos meus filhos ou dos meus alunos debitar com ar convicto um discurso confuso, entaramelado e ininteligível, sorrirei com enlevo e esperança: posso estar em presença do futuro Presidente da Comissão Europeia.

Postal de Lisboa IV - Quartel do Carmo

Imagem
Quartel do Carmo (foto de Fernando Ferreira) Aproveitando a canonização de Frei Nuno de Santa Maria, que é como quem diz Nuno Álvares Pereira, o Quartel do Carmo festejou com redobrado fulgor esta semana que antecede o Dia da Guarda, e em que há sempre comemorações. Este ano, as comemorações integraram uma exposição especialmente dedicada a Nun’ Álvares e eu aproveitei o sábado para a visitar. Não conhecia o interior do Quartel do Carmo. Além das salas especificamente dedicadas à história da Guarda Nacional Republicana (ou das organizações militares que a antecederam, desde os quadrilheiros de D. Fernando), tem um núcleo muito interessante, dedicado ao 25 de Abril. Aí se podem conhecer os pormenores do golpe militar que nos devolveu a liberdade e a democracia, mas também alguns aspectos da vida e da personalidade de Salgueiro Maia. Caminhamos nos corredores onde esperaram os enviados dos revoltosos, visitamos a sala onde Marcelo Caetano entregou o poder ao General Spínola, vemos

O urso

Vale a pena ver este video. Porque acredito que o amor de mãe é a força mais poderosa do mundo. Porque concordo com o ditado judeu "Deus criou as mães porque não podia estar em todo o lado ao mesmo tempo." Porque sim.

Aos meus alunos

Mais uma vez, recebo uma fita de um ex-aluno meu, para aí escrever algumas palavras, e ser colocada na pasta, por ocasião da Queima das Fitas. Desta vez, é de um rapaz que foi meu aluno durante todo o 3.º ciclo e que agora, no final do seu curso, se lembra de mim e me faz também lembrar dele, da turma, dos tempos que com eles passei. De vez em quando, acontece uma situação destas e toca-me o coração. O verdadeiro professor não é aquele que faz belos planos, extensos relatórios, lindas planificações de aulas assistidas, cheias de estratégias inovadoras e recheadas de novas tecnologias. Não é o que enche a boca de "eduquês" e debita metodologias importadas e pouco adaptadas às nossas realidades, na maioria dos casos. O bom professor é o que ajuda os seus alunos a crescer, a compreender o mundo e que, de vez em quando, lhes desperta "um brilhozinho nos olhos" de interesse, de descoberta. São esses professores que eles não esquecem. E é por esses alunos e por esses m

A Prisão

Imagem
Já há algum tempo que não faço um post sobre as minhas leituras recentes e é altura de colmatar essa falha. Li há pouco este livro, “A Prisão”. É um livro surpreendente, de um autor que eu não conhecia, um colombiano chamado Jesús Zárate. Editou peças de teatro, contos, ensaios e apenas dois romances, um dos quais “A Prisão”. Recebeu o Prémio Planeta, postumamente. A personagem principal deste livro é Antón Castán, que está detido há três anos por um crime que não cometeu. Resolve fazer uma espécie de diário da prisão, e é pela sua mão que conhecemos os seus companheiros de cela, com quem partilha algumas experiências e muitas dissertações sobre literatura, justiça ou liberdade. Entretanto, chega à prisão um novo director que, com a sua crueldade, faz desencadear um motim que dá a Antón a oportunidade de, enfim, cometer um crime. Na sequência do motim, Antón acaba por ser libertado e é nessa altura que se interroga sobre a verdadeira essência da liberdade e da prisão. É uma obra mu

Postal de Lisboa III - Igreja da Conceição Velha

Imagem
Perto do Campo das Cebolas, andando na direcção do Terreiro do Paço, um pouco escondido dos olhares mais distraídos, surge-nos o Portal da Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha. Juntamente com a Casa dos Bicos, é dos poucos edifícios que restaram, nesta zona de Lisboa, da época anterior ao Terramoto de 1755. Paro a admirar aquele belo portal e, como sempre, surpreendo-me por não encontrar aqui o enxame de turistas que sempre rodeiam a Casa dos Bicos. Bem sei que a Casa dos Bicos é um exemplar pouco comum de arquitectura civil, com as suas pedras talhadas em ponta de diamante, embora seja a traseira do prédio, já que a parte nobre, a frontaria, ruiu com o terramoto. Como seria? Portal da Igreja de Nossa Senhora da Conceição Velha (foto de Fernando Ferreira) O Portal da Igreja da Conceição Velha não lhe fica atrás em nada, com a sua riqueza escultórica, a beleza e a perfeição dos detalhes. No entanto, não chama tanto a atenção de quem passa. A mim, surpreende-me semp

Postal de Lisboa II - Campo das Cebolas

Imagem
Campo das Cebolas visto através do Arco das Portas do Mar (foto de Fernando Ferreira) Há dias fui a Lisboa e o trânsito absurdo, conjugado com o actual corte do trânsito entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus, fez-me parar no Campo das Cebolas. Além da “fauna” habitual havia muitos turistas, todos de livrinho ou roteiro turístico na mão. Procuravam claramente a Casa dos Bicos, mas não a conseguiam descobrir porque se encontra totalmente tapada, com o objectivo de sofrer qualquer intervenção, talvez até simples obras de manutenção. Parece que ainda não chegou a Portugal o bom hábito, com que tantas vezes deparamos lá por fora, de tapar os monumentos que estão a ser intervencionados com um taipal onde se vê – muitas vezes em tamanho natural – a fotografia do monumento e a indicação da obra que está a ser realizada. Por cá, ninguém parece achar isto necessário, ou simpático. Deixemos os turistas a procurar em vão o objecto das suas buscas! Segui com o olhar a direcção das obj

O cão sonâmbulo

Não resisto a partilhar este video. Achei-lhe imensa piada, especialmente porque a minha Bonnie, de vez em quando, também tem cenas destas!

Coro dos Maus Alunos

É o título de uma peça de Tiago Rodrigues proposta pela Culturgest no âmbito do Projecto Panos - Palcos Novos Palavras Novas. É uma peça sobre jovens, para ser encenada e e interpretada por jovens, embora a personagem principal seja um professor de filosofia. Coro dos Maus Alunos é a história de um velho professor de filosofia promotor do espírito crítico dos seus alunos em relação à escola. Acusado de os confundir e de manter com eles relações que ultrapassam os limites de uma relação entre professor e aluno, o professor é submetido a um processo. É uma variação contemporânea sobre o julgamento de Sócrates, ocorrido em plena democracia ateniense e, t al como em Atenas, é pela voz dos alunos que conhecemos, distorcida e interpretada, a vida do velho professor e a história do seu julgamento. Esta semana, fui ver a peça duas vezes, porque foi encenada por dois grupos de jovens, ambos ligados à Oficina de Teatro que funciona na minha escola. Uns estão a terminar o 9.º ano e é o seu proje