Postal de Lisboa II - Campo das Cebolas



Campo das Cebolas visto através do Arco das Portas do Mar (foto de Fernando Ferreira)

Há dias fui a Lisboa e o trânsito absurdo, conjugado com o actual corte do trânsito entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus, fez-me parar no Campo das Cebolas. Além da “fauna” habitual havia muitos turistas, todos de livrinho ou roteiro turístico na mão. Procuravam claramente a Casa dos Bicos, mas não a conseguiam descobrir porque se encontra totalmente tapada, com o objectivo de sofrer qualquer intervenção, talvez até simples obras de manutenção. Parece que ainda não chegou a Portugal o bom hábito, com que tantas vezes deparamos lá por fora, de tapar os monumentos que estão a ser intervencionados com um taipal onde se vê – muitas vezes em tamanho natural – a fotografia do monumento e a indicação da obra que está a ser realizada. Por cá, ninguém parece achar isto necessário, ou simpático. Deixemos os turistas a procurar em vão o objecto das suas buscas! Segui com o olhar a direcção das objectivas e das câmaras de filmar. Muitos turistas descobriram, ao lado da Casa dos Bicos de cara tapada, um restaurante que têm esse nome e fotografam-no. Alguns são mais atentos e fotografam o próprio edifício. Dou por mim a olhá-lo também. É um edifício de seis andares, que ostenta algum brilho nas suas varandas de ferro e, principalmente, nas suas belas janelas enquadradas por ombreiras de pedra esculpida. É óbvio que tem um passado de orgulho e desafogo económico. No entanto, o estado de decrepitude da pintura e das portadas das janelas, contam outra história. Na varanda do 2.º andar, há várias toalhas amarelas penduradas a secar que, apesar de tudo, lhe dão um ar alegre e luminoso. Os turistas continuam a fotografar e eu penso que fazem bem. Esta combinação do passado orgulhoso com o presente decrépito é um bom retrato do país, um bom postal de Lisboa.

(Foto de Fernando Ferreira)

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