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A mostrar mensagens de janeiro, 2011

Os inimigos públicos

Como toda a gente sabe, foram finalmente terminadas as obras de  restauro da belíssima Igreja de São Vicente de Fora. É uma igreja muito ligada à minha família, por diversas razões, e fiquei feliz com a sua reabertura ao público. E, no entanto... houve uma notícia que, positivamente, me esmagou. Durante as obras de limpeza, foram removidas dos telhados da Igreja de São Vicente de Fora, nada mais nada menos do que quarenta toneladas de excrementos de pombo. 40 toneladas! De repente, assaltou-me a imagem das nossas cidades cobertas de excrementos de pombo. Os nossos edifícios coroados de fezes, as nossas estátuas manchadas de descargas intestinais. Lembrei-me de uma entrevista que li, há tempos atrás, com um vereador brasileiro de Curitiba que enumerava as doenças eventualmente transmitidas pelos nossos amigos pombos, com os quais eu até simpatizo, e que iam da salmonelose à ornitose, passando pela transmissão dos piolhos de pombos, ácaros que vivem nos seus corpinhos penugentos. Afirmav

Eleições e cupcakes

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Se bem me apercebi, houve hoje milhares de pessoas que tiveram dificuldades em saber o seu número de eleitor e, portanto, conhecer a sua mesa de voto. Na verdade, confesso que, por mim, não estava muito preocupada. Há trinta e três anos que sou eleitora, e uma eleitora assídua e responsável. Nunca falhei um acto eleitoral, consciente de que o meu voto, como o de todos, é importante e faz a diferença. E no entanto, este ano, a desmotivação tomou conta de mim. Seria a crise, anunciada desde há anos, e que, de tão insidiosamente instilada no nosso espírito, nos deixa sem capacidade de reacção a todos os abusos que vimos sofrendo? Seria a falta de perspectivas de melhoria, a quebra da esperança? Seria o aumento dos preços de todos os bens e serviços que não posso deixar de utilizar, por vezes sem o entender cabalmente, como no caso da gasolina? Seria a visão confrangedora do meu recibo de vencimento deste mês? Bom, talvez fosse tudo isto junto. A verdade é que não me apetecia ir votar. Pel

Gripe!

Pois é, tenho a  mania que sou uma mulher forte, que sou eu que determino o que me acontece, que sou o agente do meu próprio destino. Mas, de vez em quando, aí está a Natureza a mostrar quem verdadeiramente manda.  Algures, no final da semana passada, um vírus, silencioso e dissimulado, instalou-se no meu organismo. Começou a enviar pequenos sinais, um ligeiro mau-estar, uma cabeça pesada. A partir de domingo à noite, instalou-se a gripe, daquelas à antiga portuguesa, com todo o seu cortejo de sintomas desagradáveis: uma febre persistente, dores em todos os ossos, músculos, articulações, mesmo aqueles que eu não desconfiava que tinha, ataques intermináveis de tosse!... Há anos que não me lembro de ter uma gripe assim! Por mais que quisesse, o corpo não obedecia ao espírito, também ele bastante nublado! Só me apetece enrolar sobre mim própria, como os gatos, e ficar sossegadinha à espera que passe o mau tempo. Então, senhora que tem a mania que é forte, afinal quem é que manda?

Carminda

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Não tinha nada que jogasse a seu favor. Era velha, preta e gorda. E cada um destes adjectivos tinha uma carga negativa colada, era um rótulo recheado de preconceitos e ideias feitas. No entanto, Carminda era muito mais do que isso. Carminda, ou Minda, como lhe tinham chamado durante tanto tempo, tinha uma história de vida, sentimentos e emoções. Tinha uma família que não lhe ligava tanto como ela desejava, tinha um senhorio que lhe vinha pedir pontualmente o dinheirinho da renda, tinha duas vizinhas com quem trocava umas conversas sobre as doenças e o estado do tempo. Tinha recordações de tempos mais felizes. Também tinha pouco dinheiro, que gastava na mercearia, na farmácia e com o doidivanas do neto mais velho, que volta e meia lá ía a casa e que a conquistava com as gargalhadas súbitas que deixava espalhadas pela casa. Carminda arrastava os pés pela rua, na direcção da paragem do autocarro. Carregava apenas o saco que tinha ido encher à Instituição onde recebia o almoço diário, que