A todas as mulheres do mundo
- Subia a rua angustiada, a arrastar os pés. Sim, foi assim que ela me disse, a arrastar os pés. Estava cansada, tinha ido quase ao outro lado da cidade para tentar arranjar um emprego. Era numa loja, ou talvez num supermercado, já não me lembro bem do que ela me disse. Mas lembro-me que disse que subia a rua a arrastar os pés. Na loja, não a quiseram nem entrevistar, que não, que o lugar já estava ocupado. Mas ela desconfiava que já a achavam muito velha para o lugar. Na altura, já tinha dois filhos crescidinhos e a experiência de trabalho não era muita. Quer dizer, experiência de mudar fraldas, lavar e passar, dar banhos, limpar o pó, bater carpetes, cozinhar e lavar louça e arrumar a cozinha, para logo a seguir cozinhar outra vez, de tudo isso ela tinha muita experiência. E também de contar histórias, e embalar no colo, e fazer puxinhos no cabelo, e empurrar o baloiço, e dar beijinhos no nariz!... Mas ninguém quer saber dessa experiência, não é?
Naquela altura, com a morte súbita do marido, as coisas tinham-se complicado muito. Não bastava a dor, e os filhos a perguntarem pelo pai, ainda apareciam contas que ela não tinha como pagar. Se ao menos tivesse um emprego! Lembro-me que ela me disse que arrastava os pés pela rua acima, de desânimo, o que não era nada dela, sempre cheia de energia. E, com a mão que levava na algibeira, amachucava o papelinho com o resultado da análise que, de caminho, tinha ido buscar ao Laboratório de Análises Clínicas, que não era longe.
Logo a seguir ao acidente, faltaram-lhe as regras e pensou: "É do choque, da emoção!" Mas os dias foram passndo, um e outro e mais outro, e a menstruação sem aparecer. Assim passaram mais de dois meses. Resolveu fazer a análise e tirar aquela dúvida que a angustiava dia e noite. E agora, ali estava o resultado, naquele papel que amarfanhava nervosamente na algibeira. Contou-me que, naquele momento, só tinha uma pergunta na cabeça: "O que vou fazer? O que vou fazer? O que vou fazer?" Ela pensava em todos os caminhos que se abriam à sua frente, ponderava as hipóteses. Já tinha os filhos mais velhinhos na escola, como ía agora organizar a vida com um bebé, ainda para mais sem marido e sem emprego? Pensou largar tudo e voltar para a terra da mãe, pensou fazer um aborto, fez as contas às alternativas que tinha!
- E o que fez ela? Conseguiu um emprego? Fez o aborto?
- Sim, acabou por arranjar um emprego, numa frutaria. E não fez o aborto, nasci eu!
Este texto, ficcionado a partir de uma conversa real, é a minha homenagem a todas as mulheres que diariamente, em todos os cantos da Terra, lutam e enfrentam o futuro com força, esperança e muita coragem.
Linda e intensa homenagem às mulheres.Tantosos problemas enfrentados por todas... Um lindo e feliz dia das MULHERES pra ti e para todas que aqui passarem!beijos,chica
ResponderEliminarQue linda história, tão verdadeira... que bela homenagem às mulheres! Um beijo para ti e para todas também, neste "nosso" dia!!
ResponderEliminarTeresa, estou chorando de emoção ao escrever estas palavras. Impossível acreditar que haja uma homenagem mais comovente que essa nesse dia aqui ainda é véspera...rs). Parabéns pelo relato e por ser filha de quem é. Beijo grande e Feliz Dia das Mulheres!!!
ResponderEliminarEva
ResponderEliminarObrigada e parabéns a todas nós!
Bjs
Sueli
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras. Este relato não retrata a minha experiência pessoal, mas a de uma ex-aluna minha, em conversa comigo. Mas acho que esta coragem de enfrentar a vida, no dia-a-dia, nas pequenas coisas, reflecte bem o universo do sexo dito fraco.
Bjs
Caramba Teresa!! Li o texto quase até ao fim já com algumas letras alinhadas para te escrever o comentário... mas quando cheguei à frase "(...) não fez o aborto, nasci eu!", saltaram-me as lágrimas dos olhos de uma maneira incontrolável e descotrolada. Não que a história seja triste. Esse é um grande exemplo da força intrínseca das mulheres. A tua mãe é um grande testemunho de força e coragem!
ResponderEliminarBela homenagem! Obrigada(pela parte que me toca)!
*E essa história do sermos o sexo fraco é coisa de gajo mal resolvido!!
Beijinhos** e um feliz dia da Mulher!!
Chica
ResponderEliminarTodas enfrentamos problemas e temos de ter força para andar em frente!
Bjs e feliz dia para ti.
Lala
ResponderEliminarComo já expliquei à Sueli, este caso é real, mas não é meu. Em todo o caso, é um exemplo de força e coragem, como muitas mulheres mostram todos os dias.
E também acho que isso do sexo fraco é uma grande treta!
Bjs
Teresa
ResponderEliminaro teu conto é lindo e é uma bela homenagem a todas as mulheres.
Mas permite-me que te diga que discordo totalmente que haja este "dia internacional da mulher", acho que é algo hipócrita usar uma capa de homenagem para denunciar uma discriminação que é infelizmente real, mas que é em si própria discriminatória, só pelo facto de ser criado UM dia para esse efeito. E amanhã, e ontem?
Hoje sim, vamos homenagear as mulheres, e nos outros dias, vamos esquecê-las?
Não compreendo, mas se calhar sou estúpido...
Beijinho.
Pinguim
ResponderEliminarTens um bocadinho de razão, mas acho que UM DIA é uma forma de chamar a atenção para certas formas de discriminação, ou de exploração sexual, ou laboral, ou tantos outros problemas que as mulheres ainda sofrem.
Vou ficar feliz quando já não for preciso dia nenhum.
Bjs
Lindo texto, Teresa! Muito mesmo. Uma bela homenagem ao que significa realmente ser mulher, mas há ainda tanto para fazer, tanto para conquistar, para que algumas mulheres possam ter o direito de decidir por elas e dizer com orgulho - Consegui! Venci!
ResponderEliminarBeijinhos :)
Mas que bela homenagem!
ResponderEliminarParabéns.
Helga
ResponderEliminarTens razão, ainda há tanto para fazer!
Bjs
Há.dias.assim
ResponderEliminarObrigada :)
Bjs
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarTereza,
ResponderEliminarO que dizer depois dessa homenagem? Apenas desejar a você um Feliz Dia da Mulher. Que todos os teus objetivos sejam alcançados.
Beijos e boa semana.
Valdeir
ResponderEliminarObrigada por todas nós.
Bjs :)
Teresa, que dizer?
ResponderEliminarNada. És tu no teu melhor, como sempre.
Vou parar por uns tempos. Hoje sou novamente internada... até ver. Bj
Ana
ResponderEliminarE tu? Não consigo contactar contigo.
Liga-me. Bjs
Chocada! Em estado de choque! Quanta sensibilidade, Teresa!! Beijus,
ResponderEliminarLuma
ResponderEliminarObrigada e beijinhos para todas nós, nesta semana em que a mulher é mais acarinhada do que no resto do ano!
Ih Teresa, li seu conto ( quase real)de uma lufada só.Fiquei encantada com sua capacidade e indignada como que a vida faz com tantas mulheres.E é sempre assim, sao elas que tem que levar o escola, ao médico, dar de mamar,ensinar a escovar os dentes, colocar na cama pra dormir, beijar , etc etc... e quanta rejeição, muitas vezes pela sociedade.Por que nao se cuidou? porque esperando outro filho ? e aí todos os porquês. Sexo feminino de dores e de lutas e de amores porque tem o lado compensador, só um beijinhos do filho quando chega da escola já compensa pelo dia cansativo e toda a trabalheira é esquecida.
ResponderEliminarLindo lindo texto Teresa. Voce está me saindo uma
escritora! parabéns , linda mulher!
beijinhos
Querida Lis
ResponderEliminarQue palavras tão carinhosas, para mim e para todas as mulheres que fazem o dia-a-dia na família um pouco mais feliz, todos os dias :):)
Bjs