Uma bacia de cerejas

Dizia Mário de Andrade:
   Quando temos uma bacia cheia de cerejas, comemos com displicência. Quando já temos poucas cerejas, até lhes roemos o caroço.

Tenho dado comigo a pensar nesta frase e em como a bacia de cerejas se assemelha à nossa vida. Quando somos jovens, sentimos que temos toda a vida pela frente. Fazemos experiências e vivemos o dia-a-dia com displicência, temos a sensação de que podemos tudo e temos tempo para tudo. Se não for naquele momento, será noutro. Se daquela maneira não resultar, experimentamos outra.
Depois, os anos passam. Começamos a perceber que já temos menos cerejas na bacia do que aquelas que já comemos. E passamos a apreciá-las melhor. Cada pormenor, cada sensação, cada dentada na cereja é importante. 
Sinto isto mesmo em relação à vida. Cada pequena coisa é valiosa. Uma palavra carinhosa, um gesto. Um chá com uma amiga, uma gargalhada, uma confidência. Um pôr-do-sol, um raio que espreita inesperadamente pelo meio de uma nuvem. A primeira flor que desponta no jardim. Uma gaivota que plana, junto ao mar. Uma música que ouço, um quadro de que gosto, um livro que me emociona. Uma partilha, uma cumplicidade, uma recordação, uma descoberta.
Por isso, já não estou disponível para me aborrecer com coisas que não o merecem. Não estou disponível para birras, esquisitices, amuos ou quaisquer outras manifestações idênticas. A vida é demasiado preciosa. 


Comentários

  1. Teresa,

    Voltei para informar-lhe que indiquei você a um meme muito especial. Se puder, confira lá no meu blog.

    ResponderEliminar
  2. Teresa,

    A gente deveria aprender isso desde cedo, não é? Há tantas coisas para se preocupar do que se ater às coisas insignificantes. Creio que elas esvaziam rapidamente nossas bacias de cereja.

    Beijos e ótimo quinta-feira.

    ResponderEliminar
  3. Valdeir

    O problema é que há coisas que só aprendemos com a vida, e ela tem o seu timing, muito particular!
    Já lá vou ver ao seu blogue, obrigada.

    Bjs

    ResponderEliminar
  4. Olá, Teresa

    Pois é, a vida é demasiado preciosa para a gastarmos um minuto que seja com amuos de qq ordem! E já não somos jovens, as cerejas começam a escasear...
    Bj

    ResponderEliminar
  5. Tens toda a razão Teresa. Cada momento é para ser vivido em pleno, pois não podemos voltar atrás.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  6. Muito bem bolada essa reflexão!Adorei e estás coberta de razão...Valorizar cada momento é preciso!beijos,chica

    ResponderEliminar
  7. Ana
    A vida é sempre preciosa. Nós é que começamos agora a percebê-lo melhor.
    Bjs

    ResponderEliminar
  8. Natália
    É isso mesmo, não podemos voltar atrás, por isso é melhor apreciar cada momento.
    Bjs

    ResponderEliminar
  9. Chica
    Essa é a palavra de ordem: valorizar cada momento.
    Bjs

    ResponderEliminar
  10. Engraçado , esta é uma lição que quase todo mundo parece conhecer mas nem por isso mudamos nossa postura quando encaramos uma porção de cerejas. Quisera eu aprender logo. Belo post.

    ResponderEliminar
  11. Vanessa
    Tal como outras coisas na vida, não aprendemos quando queremos, mas quando a vida nos quer ensinar.
    Bjs

    ResponderEliminar
  12. Olá

    As cerejas como a vida.Sempre a tomei às colheres de chá.
    Lufa-lufa,não.
    Nunca consegui sequer andar a cavalo,sempre andei a burro.
    Por isso continuo tão ignorante mas,sem perder a curiosidade.
    Saudações cordiais,
    mário

    ResponderEliminar
  13. Ora aqui está um post que reflecte exactamente aquilo que sinto! vamos nessa amiga dar valor a cada momento e pequenos nadas.
    Um grande beijo por me fazeres sentir acompanhada

    ResponderEliminar
  14. "O tempo voa", já diz a música de Lulu Santos, "Tempos Modernos".

    Quanto mais rápido se descobre como viver aproveitando as pessoas que estão ao nosso redor, melhor. Mais se curte.

    Belo blog. Primeira vez que visito. Vou seguir.

    Xero.

    ResponderEliminar
  15. Talvez por ter nascido em África e por lá ter vivido parte importante do meu crescimento, cedo olhei para a vida como uma mata, floresta cerrada cheia de bicharada estranha e perigosa. Fiz-me aventureiro, capitão sem medos. Catana na mão fui por ela embrenhando-me, desbravando um arbusto aqui, cortando um galho acolá, entrando em conflito com uma espinheira mais adiante. A sarça, porém,não gosta que lhe toquem; dispara espinhos, cegamente, ferindo, rasgando, por vezes matando. Aprendi, então, que o mais certo era dar a volta quando encontrasse tal criatura. Só que, por vezes, os passos eram errados e desembocavam em perigos maiores. Ter sobrevivido deveu-se a ter aprendido a lição.
    Naquela altura percebi que o melhor era tratar a vida como uma menina mimada. Depois, comecei a vê-la como uma adolescente de que se gosta. Mais tarde, por fim, foi uma mulher bela que me encantou, o que nela encontrei.
    Continuo agora, como então, a viver cada momento como se fosse único, irrepetível. E porque assim é ainda tenho birras, amuos, teimas, barafusto e protesto. Não por dá aquela palha, que de palha não gosto...
    Mas, a verdade, minha amiga Teresa,é que passado tudo aquilo chega-se-me uma brisa refrescante e retemperadora. Não uma cesta de cerejas, mas um cabaz de alentos.
    A minha vida é um senhora que trato com amor e carinho (daí que por vezes embirremos, amuemos e barafustemos)e até com devoção (eu que não sou nada dado a venerações).
    E devo acrescentar que nos temos dado bem. A mata cerrada é hoje uma anhara aberta, onde não medram espinheiras e correm rios cristalinos.
    E, se não se importa, vou levar aquela cereja mais escurinha que está ali aconchegada entre as duas mãos.
    BJS

    ResponderEliminar
  16. "quando o aluno está pronto...o mestre sempre aparece!"
    É uma frase chinesa que tenho sempre presente e com a qual concordo plenamente:
    XX

    ResponderEliminar
  17. Teresa
    Como te compreendo e como queria ter essa força para decidir não me aborrecer com as tais pequenas coisas que teimam em acinzentar os meus dias de sol. Mas cá vou tentando e, por vezes, dou por mim a deliciar-me com as cerejas que ainda consigo ter nas mãos...
    Um beijo
    Romicas

    ResponderEliminar
  18. Exactamente!
    Como diz Miguel Torga:
    "A vida é feita de nadas..."
    E partilhar as poucas cerejas que temos também é bom!
    Há sempre uma cereja que alguém nos oferece... :-))

    Abraço

    ResponderEliminar
  19. E partilhar as cerejas que temos também é bom!


    Abraço

    ResponderEliminar
  20. Mário
    Uma vida sem lufa-lufa e sem perder a curiosidade também parece um bom plano :)
    Bjs

    ResponderEliminar
  21. Lilá(s)
    Vamos nessa!
    Tão bom descobrirmos que estamos bem acompanhadas!
    Bjs

    ResponderEliminar
  22. Cleriton
    Aqui, é sempre bem vindo quem vem por bem :)
    Já agora, só um pormenor: não tente aprender a aproveitar as pessoas, mas a apreciá-las. Sim, eu sei que era isso que queria dizer :)
    Bjs e volte sempre.

    ResponderEliminar
  23. Carlos
    Tenho sempre vontade de aumentar os meus posts com os seus comentários, porque acrescentam tantas coisas importantes! A vida como uma mata cerrada, sim, e lá vamos nós, aprendendo a usar a catana e a inteligência. Às vezes barafustamos com a vida, pois claro, mas vamos aprendendo a apreciar as clareiras de onde se vê bem o sol.
    Bjs

    ResponderEliminar
  24. Rosita
    Eu sei que não é fácil e, muitas vezes, vou-me abaixo. Mas acho que consigo saborear cada vez melhor as cerejas que tenho. E, se virmos bem, ainda temos muitas coisas para saborear.
    Bjs

    ResponderEliminar
  25. Rosa dos Ventos
    Partilhar as coisas boas é um dos prazeres que aprendemos a ter :)
    Bjs

    ResponderEliminar
  26. Oi Teresa
    O relógio da sala continua marcando as horas... li isso acho que de Drummond também, nao lembro. E percebemos mesmo que a cada dia findo ,nossas cerejas diminuem na bacia ,nada as substituirá .
    Não há tempo pra novas correrias e nem pra amuos.
    Agora é só como voce diz saborear uma manhã de nevoeiro, uma conversa gostosa com a amiga ,pelo telefone, um poente banhado de luz , uma noite com ou sem estrelas.
    Lindo seu texto, até me empolga Teresa rs
    abraços amiga
    obrigada pela inspiração poética

    ResponderEliminar
  27. Lis
    Tens toda a razão, e o Drummond também, o relógio continua sempre a avançar e a marcar as horas. As cerejas vão diminuindo, mais vale apreciá-las bem.
    Olha, não me lembrei das manhãs de nevoeiro, ou das noites de nevoeiro, mas também estão entre as coisas de que gosto, especialmente se não tiver que sair de casa :)
    Obrigada pelas tuas palavras.
    Bjs

    ResponderEliminar
  28. O importante é viver o momento.Se possível, acompanhando-o com umas belas cerejas.

    ResponderEliminar
  29. É vero! Perdemos a paciência com as coisas mundanas quando passamos a valorizar mais o tempo que temos. As crianças vivem o seu tempo, mal sabem o que é a vida e tem a maior paciencia! Acho que é isso, conhecer a vida nos deixa sem paciência para coisas bobas! Beijus,

    ResponderEliminar
  30. Penso exactamente assim, embora inveje a forma perfeita com que escreveu este post.
    Somos da mesma geração, talvez por isso, mas não só ;-)
    Aprecio muito a sua visita aos meus 5 minutos,e vou "gastar" outros tantos por aqui :-)
    Um beijinho

    ResponderEliminar
  31. Carlos
    Nem mais!
    E aproveitemos as cerejas, que estamos a entrar no tempo delas.
    Bjs

    ResponderEliminar
  32. Luma
    É isso mesmo, é valorizar o tempo que temos, com as coisas que valem realmente a pena.
    Bjs

    ResponderEliminar

  33. Não tem razão para invejar, porque também diz coisas importantes e muito bem ditas.
    E é sempre bem vinda por aqui.
    Bjs

    ResponderEliminar
  34. Ainda brigo e luto, ainda sigo "dar um boi para não entrar numa briga e uma manada, para não sair dela", mas faço-o com maior ponderação, modero mais os meus impulsos.
    Abracinho

    ResponderEliminar
  35. Maria Teresa
    Somos todos diferentes, mas, no fundo, vamos todos no mesmo sentido :)
    Bjs

    ResponderEliminar
  36. Parece-me muito certo...embora às vezes não seja fácil
    um beijinho

    ResponderEliminar
  37. O tempo ensina-nos a olhar à nossa volta e para dentro de nós com outra atenção, outro cuidado e outro valor. Ao fazê-lo, encontramos com o coração aquilo que é invisível aos olhos.. o essencial! ( Como escreveu Saint-Exupéry )

    Beijinho

    ResponderEliminar
  38. Redonda
    Não é fácil, não. Mas o tempo vai-nos dando uma ajuda.
    Bjs

    ResponderEliminar
  39. Maria João
    Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. (Saint-Exupéry)
    Que bom teres lembrado esse livro maravilhoso, que se deve ler com o coração. Está lá tudo, nós é que não conseguimos abarcar tudo de uma vez só.
    Bjs

    ResponderEliminar
  40. Olá, Teresa.
    Penso que cheguei tarde. Mas, mesmo assim, quero deixar a minha marca, neste post, sobre este assunto.
    Concordo com tudo aquilo que foi escrito!
    A partir de certa idade, começamos a valorizar, aquilo que de facto, é essencial para as nossa vidas, uma boa conversa, um momento de silêncio e introspecção, um momento de contemplação( um nascer ou por do sol), uma boa companhia, uma boa gargalhada a propósito de tudo e quase nada. Como já foi referido, o importante é invisível para os nossos olhos.
    Não existe tempo, para a intriga, para coisas comezinhas, tais como, disputas a propósito de nada, etc.
    Excusado, será dizer, que mais um belo post, o seu. Aliás, como é hábito. Parabéns.
    Já agora, hoje comi cerejas.
    Bj

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições