É só um caso de uma garota!

Não tenho o hábito de trazer para este blog questões tão mediatizadas como a da pequena Alexandra, devolvida à sua mãe russa. No entanto, este caso deixa-me tantas angústias e interrogações que não consigo deixar de o comentar.
A pequena Alexandra foi retirada à sua família de acolhimento e enviada para a Rússia, onde vive a sua mãe com a restante família. Qualquer pessoa que se mantenha minimamente informada conhece os pormenores do caso, já que os media não falam de outra coisa desde ontem. Primeira interrogação: porquê só agora, se a decisão do tribunal data de há um ano atrás? 
Ao tomar conhecimento do caso, fiquei sensibilizada, claro, mas depois de ouvir o juiz responsável pela decisão fiquei revoltada. Parece então que o sr. juiz, ao ver as imagens da mãe biológica a bater na criança, teria ficado incomodado. Até o sr. ministro da Justiça se declarou incomodado. Segunda interrogação: quem assumirá o "incómodo" provocado a esta criança?
Todos os psicólogos afirmam que os laços afectivos criados nos primeiros anos de vida são fundamentais. Será do "superior interesse da criança" cortar subitamente esses laços? 
Algumas figuras importantes do nosso mundo judicial afirmam que a decisão esteve correcta, a lei é que não o está. Então de que estamos à espera para alterar uma lei que, segundo parece, está obsoleta e não corresponde à realidade social? Porque é que a lei não permite que as famílias de acolhimento adoptem as crianças que acolheram?
Não posso deixar de recordar as situações que, quase todos os anos, sacodem a nossa consciência, os casos de crianças maltratadas ou mesmo mortas depois de serem entregues às sua famílias biológicas. Quando se irá perceber que as crianças não são propriedade dos pais? Que os laços biológicos não podem prevalecer sobre os laços do coração? Enfim, que a lei deve existir precisamente para proteger a criança, que é o elo mais fraco?
São demasiadas interrogações para as quais não tenho resposta. Mas a maior angústia tomou conta de mim, quando ouvi o sr. juiz afirmar (ontem, no telejornal da SIC da hora do almoço), que, enfim, "é só um caso de uma garota!" Será que continuava a sentir assim se essa garota fosse sua filha, ou neta, ou conhecida? Cada criança é totalmente e soberanamente importante, e o que lhe acontece é responsabilidade de todos nós. E quem não o compreende não merece ter tão grande poder nas suas mãos.
 

Comentários

  1. Olá, Teresa. Concordo e partilho da tua angústia, relativamente ao caso da menina russa. No entanto, deixa-me recordar-te, quantos casos de meninas e meninos portugueses, passam por nós no dia a dia, em que ai são os pais biológicos a "fonte" do problema. Não há juizes, mas, aparentemente, há comissões, q mais não servem do q para os professores "lavarem daí as suas mãos". Assisti a muitos casos, impotente, perante a força de lei e a chamada hierarquia das estruturas. Ana

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  2. Olá Ana. Tens razão, claro. Mesmo fora da escola, apenas pelos meios de comunicação, apercebemo-nos de vários casos de crianças que, retiradas aos pais que, aparentemente, não as sabem cuidar convenientemente, acabam por lhes ser novamente entregues. No entanto, a situação não mudou assimtanto e, dali a algum tempo, lá temos uma má notícia!
    Quem está numa escola, até vê mais do que isto: vemos como as comissões funcionam - ou não funcionam!
    Beijinhos
    Teresa

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