Vítimas colaterais

Neste fim de semana que passou, mais um tremor de terra fez estremecer o Japão. Nada de estranhar, sendo uma zona de alta atividade sísmica. Nada também que se compare com o enorme sismo que atingiu o Japão há quase um ano, no dia 11 de março de 2011. Nesse dia, eram 6h46 em Portugal quando um sismo de magnitude 8,8 na escala de Richter sacudiu as ilhas japonesas, o mais forte no Japão desde há 140 anos, o sexto mais forte no mundo desde que há registos. Houve milhares de mortos. Seguiram-se dois tsunamis, que devastaram as costas japonesas. Uma onda de 14 metros atingiu a central nuclear de Fukushima I, inundando equipamentos e provocando explosões.
Sabemos o que se passou a seguir. Lembramo-nos das imagens das populações evacuadas das áreas expostas às fugas radioativas da central, dos alimentos contaminados, do medo que se instalou de um desastre nuclear em larga escala. O governo japonês garantiu a desativação da central logo que fosse possível aceder à zona perigosa. Vários governos, como por exemplo o alemão, recuaram na aposta na energia nuclear. E a vida continuou.
Poucos falaram noutras vítimas do desastre, os animais deixados para trás na pressa da evacuação. As imagens que vinham do Japão, mostravam-nos salas de aula com pequenas mochilas abandonadas, quartos desarrumados e, ao mesmo tempo, instalações onde vacas esperavam ainda pela ordenha do dia, ou recintos onde porcos desorientados esperavam pela morte. Algumas dessas imagens podem ser vistas aqui. O que aconteceu a esses animais?
No verão passado,  a National Geographic enviou o fotógrafo David Guttenfelder para a zona de exclusão à volta da instalação nuclear de Fukushima. As fotografias vieram a público na revista de Dezembro de 2011. Encontrou, entre muitos outros destroços, animais de companhia e de quinta que vagueavam por ruas desertas de gente: vacas, porcos, cães, gatos, até avestruzes. Muitas vezes desafiando barreiras da polícia e barricadas, equipas de voluntários conseguiram salvar e descontaminar alguns animais, devolvendo-os aos seus donos. Outros foram morrendo, de fome ou de doença. Pobres animais, são vítimas inocentes de uma situação que não podem evitar. São danos colaterais de um desastre que não provocaram, mas do qual sofrem as consequências. 
Só quis que não morressem esquecidos.


(Dois cães numa rua abandonada de Okuma, perto de Fukushima. Fotografia de David Guttenfelder)

Comentários

  1. Um olhar diferente sobre uma imensa tragédia.

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  2. Pinguim
    Todos os acontecimentos nos permitem múltiplos olhares. :)

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  3. Eu também Rosa. Não sei se era possível proceder de outro modo, mas mesmo assim...

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  4. Pobres animais! Mas pronto, nestas catástrofes são as primeiras vítimas... uma vez que a preocupação fundamental é salvar os Homens!

    Beijocas!

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  5. Uma visão de quem gosta de ver mais além .
    Fiquei comovida.

    beijinhos

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  6. Teresa
    São outras vítimas, que tendemos a esquecer.
    Bjs

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  7. Gosto de ver os vários lados das situações.
    Ainda bem que não estou sozinha. :)

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  8. Fotos de David Guttenfelder para a National Geographic aqui... é bom não esquecer.

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