Ágora
Como sabem os que por aqui me seguem já há algum tempo, gosto de aproveitar as nossas "interrupções lectivas" para pôr um pouco em dia o meu gosto pelo cinema e ver um ou outro filme que não tenho tempo de ver noutras alturas. Aproveitei então e fui ver, por sugestão da Ana, o filme "Ágora", que retrata os últimos anos da matemática e filósofa Hipátia, na cidade de Alexandria. O filme, realizado por Alejandro Amenabar, começa em 391, isto é, no ocaso do Império Romano, na época em que o Imperador Teodósio declara o Cristianismo a religião oficial do Império Romano. Tenho uma simpatia clara por Hipátia, é a primeira mulher matemática numa cidade fascinante, a Alexandria helenística, centro do conhecimento e da multiculturalidade mediterrânica.
A veracidade histórica é bastante razoável. Os personagens principais são figuras históricas, desde o pai de Hipátia, Theon, até ao Bispo Cirilo. Parece que Hipátia era mesmo uma mulher assumidamente independente e celibatária num mundo predominantemente masculino. Terá ajudado o seu pai em cálculos matemáticos e feito, ela própria, estudos de matemática e astronomia. No entanto, fiquei intrigada com os tremendos avanços que o filme retratava e resolvi consultar um especialista na matéria. Nuno Crato, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, explica neste texto que efectivamente as descobertas astronómicas que, no filme, são feitas por Hipátia, não são reais, terão de esperar quase mil e quinhentos anos, até serem reveladas por Kepler.
Não obstante estes erros históricos, o filme faz-nos reflectir sobre questões essenciais. Hipátia é realmente morta por uma multidão em fúria, que não aceita o seu papel de protagonista na sociedade e exige que ela se remeta a um papel silencioso de esposa e mãe. Mas também a famosa Biblioteca de Alexandria é destruída pela turba furiosa, que não aceita outra fonte de sabedoria que não o seu Livro Sagrado. Como é que um grupo religioso, barbaramente perseguido durante séculos, se transforma ele próprio num cruel perseguidor? O fanatismo e a intolerância são sempre iguais e com resultados igualmente desastrosos, em qualquer época ou latitude.
Esteticamente belo, mas principalmente provocador e reflexivo, é um filme que retrata o momento em que a ágora deixou de ser um espaço público de discussão. E faz-me pensar como poderia ter sido, se a ágora tivesse podido continuar a fomentar o pensamento crítico e o uso da razão.
Quem quiser conhecer melhor a figura histórica de Hipátia, poderá ler Hipátia de Alexandria, um estudo de Maria Dzielska, editado pela Relógio d’Água.
Boa noite Teresa.
ResponderEliminarAcabei de ler o seu artigo sobre o filme, Ágora. Aliás já tinha lido o artigo que a Ana leu, quando viu o filme.
Já agora, onde viu o filme?
Fico a aguardar uma resposta.
Pois estou interessada em vê-lo também.
Deixo-lhe um repto. Escrever um artigo sobre a Alexandria de hoje e a Alexandria do tempo de Hipátia.
Saudações
Astro Rei
Olá Astro-Rei
ResponderEliminarFui ver este filme ao Alvaláxia, mas sei que também está no Corte Inglês, por exemplo. E vale a pena ver!
Quanto ao repto, é uma ideia, mas necessitava de muito tempo de pesquisa, que eu agora não tenho.
Bjs
Não vi o filme.
ResponderEliminarMas queria deixar umas notas sobre a violência que um estudioso, homem ou mulher, desencadeia nas sociedades onde o medo, a ignorância e a prepotência vingam.
Exemplo:
DADOS ==> INFORMAÇÃO ==> CONHECIMENTO ==> SABEDORIA
Alguem e se proponha correr esta sequência, mais tarde ou mais cedo, será olhada com desconfiança, é susceptível de levantar problemas.
O que deverá fazer-se?
Deste a resposta no relato a propósito da Bblioteca de Alexandria.
Saudações
JPD
ResponderEliminarA cultura é sempre potencialmente perigosa, porque faz pensar. Eu quero acreditar que já evoluimos alguma coisa.
Bjs
Tu és sempre maravilhosa ao compartilhar tuas experiências tanto de livros, quanto de filmes, viagens. Sempre aprendemos aqui!beijos,chica
ResponderEliminarChica
ResponderEliminarObrigada pelas tuas palavras. Sempre aprendemos uns com os outros.
Bjs
Olá, Teresa. Fazes um relato 5* do filme.
ResponderEliminarImpressionante a destruição da Biblioteca pelos cristãos, não é? Mas a história repete-se e outros episódios de perseguições surgem, ao longo dos séculos. Não aprendemos nada com os erros do passado, pois não? Culpa dos profs de História!!!!
Eu sabia que ias gostar!!
ResponderEliminarPara além do fanatismo religioso, a condição da mulher também deixa-nos q pensar, não é?
Vidasperdidas
ResponderEliminarInfelizmente, tens razão, não aprendemos nada com a História. Mas acho que isso não é culpa dos profs de História. Havias de ver a dificuldade que eu tenho para fazer com que os meus alunos me ouçam!
Bjs. Volta sempre.
Ana
ResponderEliminarPois sabias, não era?
Há muitas coisas no filme em que devemos reflectir, para além do próprio filme.
Bjs
Oi querida, só para te responder, pois estou trabalhando.
ResponderEliminarPode usar sim, a vontade.
Um beijao
Depois volto pra te ler depois...
Este é um filme que não posso perder,por três razões: gosto muito da actriz principal, gosto muito do realizador e acima de tudo adoro História e tudo o que com ela se relaciona.
ResponderEliminarPinguim
ResponderEliminarNão percas, vale mesmo a pena ver. E fico contente com esses teus gostos (especialmente o último!)
Bjs