1 Km de cada vez

Todos temos os nossos heróis. Alguns são heróis de toda a gente; não conheço ninguém que não admire Martin Luther King ou Gandhi. Mas, depois, há os outros. Os nossos heróis pessoais, aqueles que, sendo pessoas comuns, admiramos mais abertamente ou mais secretamente, numa admiração feita de sonhos repartidos ou afinidades e identificações inesperadas.
Gonçalo Cadilhe está nessa minha prateleira dos heróis pessoais. Porquê? Talvez porque, aos vinte e quatro anos, teve a coragem de virar as costas a um curso e um emprego para perseguir um sonho: viajar. Não o posso fazer, nunca pude, nunca poderei. Sempre houve outras urgências e contingências que condicionaram a minha vida, como a da maior parte das pessoas. Admiro-o por isso. Mas há outras razões.
Gonçalo Cadilhe escreve livros de viagens, das viagens que faz. Não são simples descrições de lugares, são esboços emocionais. Porque os lugares agem sobre nós e tornam-nos diferentes. E nós também agimos sobre os lugares, porque não os vemos sempre com os mesmos olhos.

Não é verdade que o planeta seja redondo. É armilar. Anda-se às voltas e nunca se regressa ao mesmo sítio. A estrada, sim, passa por lá; mas o tempo também passa, e leva de nós o que fomos antes. Falta-nos o mesmo momento para podermos regressar ao mesmo sítio. Regressamos já outros, e compreendemos que o sítio já não é o mesmo.
                             (Gonçalo Cadilhe "1 Km de cada vez")

Já tenho na minha mesa de cabeceira o último livro de Gonçalo Cadilhe "1 Km de cada vez". Estou a lê-lo como li todos os livros anteriores, desde "Planisfério Pessoal". Li-os de um ápice e depois, de vez em quando, releio uma passagem, um capítulo. Relembro um local, com pessoas e sensações e pequenas histórias, lá dentro.
Faço o mesmo com este novo livro. Vou lendo, saboreando cada pequeno capítulo, cada apontamento de uma viagem que parece sem rumo, mas com muito sentido. Leio outros livros pelo meio, e depois volto. Porque não há maior liberdade do que viajar ao sabor do tempo.

Comentários

  1. Deu água na boca! Deve ser lindo!beijos,chica

    ResponderEliminar
  2. O TEU TEXTO ESTÁ FANTÁSTICO...SUBSCREVO INTEIRAMENTE AS TUAS IDEIAS. SE EU PUDESSE...MESMO COM PÂNICO DO AVIÃO...VALE MUITO A PENA...

    BJ

    ResponderEliminar
  3. Oi,Teresa
    Vou anotar porque adoro livros onde o autor coloca suas impressões pessoais e viagens é um tema incrível, lugares, paisagens, gentes. Temos um brasileiro Amyr Kling ,navegador que escreveu vários livros , biografias,um deles "Mar sem fim"que é um livro tipo desse jovem escritor, parece, um por terra outro por mar .
    O mes de janeiro está reservado pra leituras , filmes e vou dar um tempo aqui no blog (espero), pra onde vou não deve ter conexao boa ,aí aproveito pra usar meu tempo em outras atividades um pouco esquecidas.
    Boa semana ,Teresa e obrigada por mais uma boa indicação.
    Abraços

    ResponderEliminar
  4. Pedras Nuas
    Às vezes, dá uma vontade de largar tudo e sair por aí, não é?
    Bjs. Volta sempre

    ResponderEliminar
  5. Lis
    Vou anotar o nome desse autor brasileiro para procurar aqui.
    Bjs

    ResponderEliminar
  6. Cara homónima :), obrigada pela tua visita. Não, não andei por Alcanena. Nessa altura residia na cidade dos arcebispos e só vim para a zona de Setúbal há 10 anos.
    Mas temos afinidades, para além do nome. Somos professoras, gostamos de ler e de viajar, embora as minhas viagens não sejam tão reais quanto as tuas.

    Este livro que anuncias despertou-me a atenção e provavelmente será mais um na minha mesa de cabeceira.
    Foi bom conhecer os teus espaços. Voltarei.

    ResponderEliminar
  7. Bom, espero que não tenhas esquecido o "Gang das Bengalinhas" e dos planos já esboçados.
    E estou a ver que tenho de procurar esse livro e esse autor, não é verdade?
    Pois lá terá de ser...!!!
    Bjs
    Romicas

    ResponderEliminar
  8. Teresa
    Há coincidências muito grandes, mesmo!
    Volta sempre. Bjs

    ResponderEliminar
  9. Romicas
    O Gang das Bengalinhas! Já não me lembrava! Mas estamos sempre a tempo. Haja tempo, dinheiro e saúde!
    Não precisas de procurar o livro. Posso emprestar-te quando cá vieres.
    Bjs

    ResponderEliminar
  10. Olá Teresa
    confesso que é a primeira vez que oiço falar deste escritor. Penso que é filho do ex-ministro das finanças, não?
    Na verdade, nunca fui muito de viagens; quer dizer, viagens reais, físicas... sou mais viajante de ideias...
    mas despertaste-me o interesse por esse livro. Se calhar vou mesmo ler o Cadilhe Junior :)

    ResponderEliminar
  11. Acrescento a tudo o que foi dito acerca do autor e dos seus livros, que escreve de um modo simples, que todos os seres humanos entendem. Textos curtos, mas cheios de imagens. Eu li apenas um dos seus livros "Planisfério Pessoal", mas recomendo-o vivamente. Boa escolha, Teresa!

    ResponderEliminar
  12. Bom dia Teresa
    Agradeço sua atenção em relaçao ao livro, de fato pesquisei pela internet , nas maiores livrarias mas ainda nao tive sorte,continuo olhando, poderíamos talvez trocar mandaria pra voce o do autor brasileiro e voce me mandaria o do Gonçalo Caddilhe .Durante a semana vou saber como se procede, via correio.
    Um grande abraço

    ResponderEliminar
  13. Manuel
    Não é filho do ex-ministro,acho que é sobrinho ou primo, mas não te deixes ir por aí. Vale mesmo a pena lê-lo. Acho que concordo com a Ana Filipa, para quem nunca leu nada dele, é melhor começar pelo "Planisfério Pessoal", uma viagem à volta do mundo muito particular.
    Depois diz-me o que achaste dele.
    Bjs

    ResponderEliminar
  14. Lis
    Acho óptimo, vamos combinar isso!
    Bjs

    ResponderEliminar
  15. Não li ainda nenhum livro desse autor e vou já comprar...fiquei curiosa. Com a minha idade e devido ao meu trabalho, tenho viajado muito. Mas não tenho a capacidade de escrever sobre essas viagens, com a graça de despertar interesses. Fotografo como posso...Guardo lembranças fantásticas... quem sabe um dia me aventuro um pouquinho! A Teresa escreve muito bem. Parabéns

    ResponderEliminar
  16. Ângela
    Agradeço as suas palavras mas... nós somos todos diferentes e ainda bem que assim é! Eu gosto de escrever sobre o que vejo; a Ângela faz aquelas magníficas fotografias com que nos mostra, também, a sua visão do mundo que vai percorrendo. Se todos fizessemos a mesma coisa, não tinha graça nenhuma, não é?
    Bjs

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições