Uma história de vida

Quando estive em Israel, no Verão passado, tive o privilégio de encontrar alguns sobreviventes do Holocausto nazi. Um deles foi Albert Neuwirth, sobrevivente do gueto de Budapeste. Contou-nos a sua história de sobrevivência, desespero, perseverança.



(A Grande Sinagoga de Budapeste)


O pai tinha emigrado para a América Latina, para abrir um talho de carne “kosher” ( carne de animais mortos e preparados segundo os preceitos da religião judaica), na Argentina. Quando a situação lho permitiu, enviou bilhetes de barco para a mulher e os filhos se lhe reunirem. A uma semana do barco sair, a guerra deflagrou, os portos fecharam-se e, tal como tantos outros judeus, Albert ficou preso numa Europa que não lhes permitia viver livremente, mas que também não lhes permitia partir. A Hungria era então aliada do Terceiro Reich hitleriano, e os judeus foram encerrados em guetos, para agradar ao poderoso vizinho. Até 1944, foram sobrevivendo, com a ajuda de diplomatas estrangeiros, como Raoul Wallenberg, que passavam mantimentos clandestinamente para dentro do gueto. Albert recorda com tristeza que não podiam contar com a solidariedade dos húngaros: uma ocasião, uma sua vizinha conseguiu fugir com o filho; apanhados por uma brigada de “flechas cruzadas”, tiraram as calças ao rapazinho e mataram-nos ali mesmo, ao descobrirem que eram judeus, já que ele era circuncidado.



(Objectos de Culto no Museu de História Judaica, em Budapeste)


Em 1944, os Alemães ocuparam a Hungria e até a pouca comida que entrava no gueto começou a faltar. Com doze anos, o trabalho de Albert era andar com uma carreta pelas ruas, recolhendo os cadáveres dos que morriam das mais varidas doenças ou, simplesmente, de fome.
Quando as tropas russas libertaram Budapeste e abriram o gueto, distribuíram as suas rações de combate pelos seus esfomeados habitantes, que muitas vezes morriam da abundância, quando tinham conseguido sobreviver à fome, já que os seus sistemas digestivos não estavam preparados para uma refeição normal.



(Cemitério judaico de Budapeste - Este muro representa os milhares de cadáveres não identificados)


Encerrado num campo de refugiados com a irmã, Albert conseguiu finalmente reunir-se ao pai, na Argentina, depois da guerra.
Ao ouvi-lo falar, sente-se a raiva e a revolta por uma infância violentada, mas também a força e a teimosia de quem lutou pela sobrevivência e agradece todos os dias o milagre de estar vivo.





(Monumento memorial do Holocausto, em Budapeste - Nesta árvore de metal, cada folha tem o nome de uma família atingida pelo Holocausto)


(Fotografias de Teresa e Fernando Ferreira)

Comentários

  1. Historias de vida fortes e emocionantes.Lindas fotos,Teresa!beijos e um lindo dia,chica

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  2. Uma história de vida que seguramente marcou essa viagem a Israel, muito bem reproduzida aqui no blog.
    Bjs

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  3. Teresa
    Lendo e nem acreditando! dificil imaginar o sofrimento desse povo, parece irreal e muito triste. Gostei da leitura , cada vez gosto mais de vir aqui,Teresa, só que nem sempre consigo acompanhar direitinho.
    Uma noite de descanso e um dia feliz amanha. Abraços

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  4. Chica, Vagamundos
    Obrigada pelos comentários. São estórias emocionantes, sim, que me marcaram bastante.
    Bjs

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  5. Lis
    Obrigada por vir até aqui, quando pode. Às vezes é difícil acreditar que estas histórias tristes aconteceram mesmo, estamos habituados ao cinema, tudo parece um filme. Mas é real, e não foi há tanto tempo assim. São exemplos a reter do que faz o racismo e a xenofobia, a intolerância e a manipulação ideológica: esquecemos que o outro é um ser humano igual a nós.
    Bjs

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  6. São histórias reais que nos obrigam a pensar!
    Bjs

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  7. Lilá(s)
    Parecem filmes, mas são reais. E quantas histórias tristes não continuam a acontecer à nossa volta!
    Bjs

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  8. Fico sempre demasiadamente emocionada e triste, quando oiço ou leio estórias relacionadas com o Holocausto nazi. Não consigo conceber tanta maldade no ser humano e sinto uma revolta interior por tudo o que aconteceu. São estórias reais que ainda fazer sofrer muito.
    Um beijo
    Romicas

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  9. Que post. Bacana. Daria até pra usar em aula...

    ^^

    Parabens!


    Shisuii

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  10. Shisuii
    Pode usar em aula à vontade. Foi-me contada na primeira pessoa pelo próprio. E como eu tenho o salutar hábito de andar sempre com um caderno e registar o que me interessa, acho que posso garantir a veracidade!
    Bjs

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