A Árvore das Palavras


Queria já ter feito este post, mas o tempo não estica.
A partir deste mês, a obra de Teolinda Gersão internacionaliza-se um pouco mais, com a publicação da sua obra O Silêncio na República Checa. A obra será integrada na "Biblioteca Luso-Brasileira", que edita autores lusófonos consagrados, como Gil Vicente, Alexandre Herculano, Sophia de Mello Breyner Andresen e João Guimarães Rosa. Fiquei contente, gosto muito desta escritora que, no entanto, é pouco divulgada. Os escaparates das livrarias estão repletos de livros escritos por comentadores, entertainers, jornalistas, jogadores de futebol e, às vezes, há autores que passam quase despercebidos do grande público. Por isso, me congratulo com esta notícia e me apetece falar um pouco de Teolinda Gersão.

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra, estudou Germanística e Anglística, tornou-se professora catedrática da Faculdade de Letras. Viveu na Alemanha, em S. Paulo no Brasil, e em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques, onde decorre o seu romance A Árvore das Palavras.
As suas heroínas não são super-mulheres, nem protagonizam acontecimentos extraordinários. São mulheres normais, que cometem erros e fazem milagres no quotidiano, que tentam ir vivendo a vida conforme o que cada momento lhes apresenta. Como diz a protagonista d' A Árvore das Palavras, àcerca da sua partida de Lisboa para Lourenço Marques:

Ah, sim, a vida era falsa: dava-se por exemplo um passo, sem pensar, por brincadeira - porque às vezes dava vontade de ser louco e fazer coisas no ar, deitar cartas ou búzios, ou ossos, ler nas cinzas de cigarros, escrever cartas a desconhecidos. (...) O que não estava certo era a vida aproveitar a ocasião e levar a sério a pessoa. Agarrá-la, nesse primeiro passo, e fazê-la dar a seguir todos os outros. Não estava certo, mas a vida era assim. Por causa de um pequeno passo, dado a rir, podia a gente encontrar-se do outro lado do mundo. Sem quase saber como. E depois não se podia voltar atrás.

A Árvore das Palavras, editado pela primeira vez em 1997, é um romance belíssimo, tocante. Amélia vive dividida entre uma vida que não gosta e os sonhos de romances que não pode viver. A filha, já nascida em Moçambique, tem amigos africanos e ama um país que não pode ser o dela. Mas não é um livro triste. Teolinda Gersão tem uma escrita poética, cheia de imagens, de luz. As palavras dançam como folhas de uma árvore agitada pelo vento da vida. Decididamente, é um livro que recomendo.

(Cidade de Lourenço Marques, agora Maputo, em Moçambique)


Comentários

  1. Pelo visto, dev e ser um livro maravilhoso.Vou procurá-lo. beijos e um lindo fim de semana,chica

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  2. Pois não Teresa, o tempo não estica :)

    gostei muito. muito mesmo e vou já a correr comprar o livro. obrigada pela dica.

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  3. Que blog espetacular esse seu. Congratulações! Vim agradecer a visita e suas palavraas na postagem "Dormi e Acordei noutro Lugar", e encontro um blog que não me deu vontade de sair. Voltarei. Franz

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  4. Chica, Marta
    Vale a pena ler, depois digam-me o que acharam.
    Bjs

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  5. Olá Franz
    Fico contente que não tenha vontade de sair.
    Apareça sempre.

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