Coisas que eu detesto IV - Tags


Chamam-se tags ou, em português, grafitos. Eu chamo-lhes borradelas nas paredes. Nascem nas paredes e nos muros, a coberto da noite, poluem os bairros e a cidade. Em qualquer lado por onde se ande, estes rabiscos agridem os edifícios e o nosso sentido estético. Não respeitam nada, tanto aparecem num tapume abandonado como numa porta de garagem, como num edifício histórico. 
Se há uma coisa que me revolta é ver edifícios recém recuperados, lindos, pintadinhos de fresco, borrados por escritos de grande profundidade filosófica como orc, mau, ou simplesmente coisas como amo-te André. Às vezes, são letras e rabiscos indecifráveis. Surgem em paredes pintadas, mas também nas pedras dos monumentos, onde são muito mais difíceis de remover. Não consigo entender o que pensam ou sentem as pessoas que assim degradam o nosso património. O que lhes passa pela cabeça? Que as suas borradelas são mais importantes do que as paredes de um edifício histórico? 
Senti ontem essa revolta, mais uma vez, ao passar no belo relógio do Cais do Sodré, acabadinho de recuperar, uma autêntica jóia. Mas alguém já borrou a parede, com rabiscos negros, incompreensíveis, provavelmente uma marca de um gang. A mesma coisa no fim de semana, ao subir a Calçada da Glória: desde o elevador, monumento nacional e património insubstituível da cidade de Lisboa, até às paredes circundantes, tudo está sujo, rabiscado, pintalgado. São as paredes das escolas. São os comboios urbanos e suburbanos. Alguém me explica porque temos obrigação de aturar isto? Penso nas belas cidades do centro da Europa e interrogo-me: o que acharão disto os turistas que, felizmente, continuam a eleger Lisboa com um destino de férias predileto? E, acima de tudo, porque têm os lisboetas de aguentar estas manifestações de mau gosto e falta de civismo? Não há nada a fazer? Não há uma lei qualquer que penalize os crimes contra o património?
Algumas pessoas, falam em liberdade de expressão artística e em arte urbana. Não vamos confundir as coisas. Há arte urbana, que se pode exprimir em locais vagos do espaço urbano, criando até, por vezes, uma mais valia no ambiente, com as suas explosões de cor e criatividade. Há esses exemplos, claro. E há o vandalismo, puro e simples. 

(Grafiti no Bairro Alto)


Este ano, o vereador da Câmara Municipal de Lisboa prometeu começar a limpar os grafitos das paredes, começando por alguns dos bairros mais vandalizados, Bairro Alto, Penha de França, Benfica. Acho muito bem! Estamos todos à espera, Sr. Vereador Sá Fernandes!

Comentários

  1. Há arte urbana que gosto muito e sim muitas vezes são explosões de cor e criatividade que são uma mais valia em espaços tantas vezes escuros e denegridos pelo tempo... Quanto ao resto não é liberdade chama-se libertinagem e é puro vandalismo...

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  2. Sinto uma pena (e ao mesmo tempo uma espécie de asco ou nojo) quando vejo ruas e casas que poderiam ser lindíssimas e estão completamente vandalizadas por gatafunhos feitos por alguém que, quem sabe, nem sequer sabe escrever em condições.
    Também faço a diferença entre arte urbana e vandalismo e não venham dizer que é tudo arte.

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  3. Por acaso gosto dos grafitos. Mas nunca em edifícios, sejam eles quais forem.

    Pode haver liberdade de expressão artística, manifestações de arte, mas alguns, aqueles que referes não entram nessa classificação. São arte estúpida pura e simples. Libertinagem apenas.

    Beijinho

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  4. Estou quase totalmente de acordo com a Teresa mas não entendi bem se engloba nesta sua crítica as pinturas murais que têm valorizado paredes nuas (de muros não qualificados ou até de tapumes), pinturas estas das quais eu, pessoalmente gosto muito e também elas alvo do vandalismo destes "grafitters" de subúrbio. Há legislação que protege o património e pune quem o lesa. O pior é que a maioria são menores de 16 anos e a nossa permissiva legislação nada faz contra esses "garotos".

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    1. Vitor, essas pinturas de que fala, são outra coisa, são a tal mais valia de criatividade em espaços desvalorizados. Não confundo arte urbana com vandalismo. Infelizmente, tem-se metido tudo no mesmo saco.

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  5. Concordo contigo! Uma coisa são grafittis em muros velhos que até dão algum colorido ao local, outra diferente é o vandalismo desses tags, que mais não são que borrões nas paredes, caixas de correio, estações de comboio, paragens de autocarro e edifícios novos, velhos ou monumentos nacionais. E sim, também concordo que a legislação é muito permissiva e que se os ditos "putos" deviam pagar bem cara a "brincadeira"...

    Beijocas!

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  6. Também me insurjo ineriormente muitas vezes. e a parte final do texto diz tudo. "Há arte urbana,(...)com as suas explosões de cor e criatividade.(...) E há o vandalismo, puro e simples. "

    Um beijinho

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  7. Infelizmente, sempre haverá gente que destrói o que outros constroem.
    Beijinho

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  8. Miguel Ângelo Fernandes4 de maio de 2013 às 18:02

    Os cães quando andam por aí vão deixando umas mijadelas... aqui e acolá... para marcar o seu território... essas pixagens têm a mesma motivação... feitas por jovens... associados ou não a grupos identitários... Uma espécie de "eu estive aqui"!... na realidade uma manifestação de egocentrismo juvenil (na minha opinião)... nalgumas partes do mundo o comportamento é considerado uma antecâmara para outros crimes... bom... não estou tão certo, mas uma coisa é certa: a poluição visual e o desrespeito pela propriedade privada (ou pública) são geradores de mais sujidade e mais desrespeito... o comportamento devia ser fortemente reprimido...
    Na calçada da Glória e na adjacente Travessa do Fala Só foram colocados painéis de tabopan onde se expressaram verdadeiros artistas grafiteiros... mas isso nada tem que ver com as mijadelas de tinta que ineptas e frustradas criaturas deixam por aí... a habitual "tolerância" vai continuar a penalizar-nos, a todos, com poluição visual...

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  9. Eu não confundo arte urbana com grafitis.
    Quanto a estes, apenas os admito e nalguns casos até os admiro, quando ocupam muros aos quais dão cor e alegria. Há um muro enorme, no Seixal em que isso acontece.
    Eu utilizo muitas vezes os comboios da linha de Sintra e é raro nos espaços entre estações, não ver uma parede ou um muro sem grafitis; outro dia dei-me mesmo ao trabalho de fazer toda a viagem a observá-los e não desgostei, embora não entenda o seu significado.

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