Foi há 50 anos

Há 50 anos, o Salazarismo continuava instalado de pedra e cal aqui na capital do império. Após a convulsão provocada pela vitória dos regimes democráticos na 2.ª Guerra Mundial, o regime português conseguira manter-se no poder e os brandos costumes continuavam. No entanto, os ventos da História sopravam em direções diferentes. A Guerra Colonial já incendiava Angola e os jovens portugueses começavam a interrogar-se e ao seu futuro.
Faz hoje 50 anos, em 24 de março de 1962, os estudantes universitários de Lisboa pretendiam comemorar o Dia do Estudante, como já se fazia há anos. Mas o ambiente mudara. Desde o mês de novembro anterior que havia manifestações contra a Guerra Colonial, repressão e prisões de estudantes, embora pontuais. E, naquele dia de março, decidiu-se que as comemorações iriam decorrer, mesmo sem autorização do Ministério da Educação. O regime respondeu com o encerramento da Cantina e a invasão da Cidade Universitária. Centenas de estudantes foram espancados e presos. E foi decretado o luto académico e a greve às aulas.
Marcelo Caetano era, na altura, Reitor da Universidade de Lisboa. Tentou negociar uma solução para o problema mas foi desautorizado e acabou por se demitir. E a agitação estudantil continuou, repetindo-se os confrontos com a polícia em Lisboa, no Porto e em Coimbra.
Será que os jovens estudantes de hoje em dia são muito diferentes dos de há 50 anos? Nessa altura, lutava-se pelas liberdades e garantias individuais, a liberdade de expressão e de associação, a democracia. Hoje, garantidas que estão essas liberdades individuais, os jovens preocupam-se com questões materiais básicas, arranjar um emprego, conquistar um salário justo e um futuro digno. Mas, quando a crise económica alastra, será que as liberdades individuais continuam garantidas? A História ensina-nos que a resposta não é assim tão simples.
E o que fizeram pela democracia os que lutaram nesse dia de há 50 anos? Onde estão eles, os seus filhos e afilhados? Que democracia acabaram por construir? 
A revista Expresso (passe a publicidade!) traz hoje uma reportagem interessante sobre a crise académica de 1962. Para ler e refletir. 

(O cartaz de há 50 anos)

Comentários

  1. Já li e já reflecti!
    Foi um grande abanão no Regime de Salazar mas ainda teve que haver muita luta e muito sacrifício até à Democracia...que começa a estar muito debilitada!

    Abraço

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    1. Sim, muito debilitada, e não é só pela crise económica.
      Bjs

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  2. O que me entristece é ter visto ao longos dos últimos mais de 30 anos, muitos daqueles que lutaram contra o fascismo se acomodarem dentro do sistema, onde garantiram grandes privilégios para eles mesmos.

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    1. Exatamente, Vitor. Por isso eu perguntava onde estão eles, os seus filhos, afilhados (geralmente em grandes empresas públicas...). Em muitos aspetos, estamos na mesma, apenas mudaram os protagonistas do poder. Outras vezes, nem isso...

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  3. Recordo-me bem desses acontecimentos, vivia eu o princípio da minha vida académica. E bem tive que correr acossado por cães que a polícia de choque tinha para morder as canelas a qualquer manifestação.
    De realçar o importante papel de Jorge Sampaio na altura , presidente da RIA, que aglomerava as diversas associações de estudantes.
    O cartaz foi e continua a ser muito bonito.
    Foi uma das poucas vezes que vi Marcelo Caetano tomar uma posição correcta, ao não permitir, como Reitor da Universidade, a entrada da polícia nas instalações académicas.
    Curiosamente, ontem estive num dos locais em que essas manifestações estavam bem acesas - a cantina da antiga Faculdade de Ciências, hoje, Teatro Paulo Claro, o Teatro da Politécnica.

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    1. Ainda não fui a esse teatro, mas tenho vontade de lá ir ver a peça que está atualmente em cena.
      Bjs

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