As madrugadas

É de madrugada que as tempestades assolam os quartos, onde tentamos dormir. É a hora de todos os pesadelos, quando os fantasmas rodopiam e se instalam à nossa volta.
Li em algum lugar, algum dia, que não há mais escuro do que a meia-noite. Mas há, sim. Há aquela hora que não é noite nem dia, nem ainda madrugada. A hora dos nevoeiros, das figuras que passam fantasmagóricas na rua. A hora em que cada ruído assume um significado colossal, que nos deixa alerta, nem sabemos bem para quê. A hora em que cada pensamento que arredamos durante o dia, regressa, triunfante. Sim, porque os pensamentos indesejáveis fogem do sol como o diabo da cruz. Mas, a coberto das madrugadas, voltam e sentam-se à nossa beira. Para onde quer que viremos a cabeça, eles aí estão, repetindo as mesmas ideias, como uma ladainha que nos enreda e da qual não conseguimos sair. É a hora das tempestades. 

 (Van Gogh Noite Estrelada - Imagem retirada da WikipediaCommons)

Comentários

  1. Lindo!!!Nas madrugadas tanto acontece e pode acontecer...beijos,chica

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  2. É uma realidade, de facto.
    É só no final do sono, que esses "pesadelos" me aparecem.
    Sonhos estranhíssimos e que envolvem pessoas amigas ou conhecidas.
    Coisas mirabolantes !

    Um beijo.

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    1. Podia ser outro nome: a hora dos pensamentos mirabolantes!
      Beijinho.

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  3. É a hora de todos os medos.
    Muito bem descrita, de uma prosa poética muito cativante.

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  4. Pois é uma hora que gosto muito, quase tanto como do pôr-do-sol! Para mim é apenas a promessa de mais um dia que vai nascer... :)

    Mas claro que a tua visão é bastante mais poética. Só podia! :D

    Beijocas!

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    1. Nós olhamos o mundo com os nossos olhos interiores, parece-nos promissor ou ameaçador consoante a nossa própria disposição.
      Claramente, tu és uma pessoa positiva!
      Beijinhos e as melhoras.

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  5. Olá, Teresa!
    Cá estou de regresso a estes "óculos" que tanto cativam.
    As minhas "tempestades" não escolhem só as madrugadas.
    Elas surgem, num qualquer despertar,por fugaz que seja,em especial num daqueles em que a alma se torna simples e deixa de pensar para se entregar ao aconchego.
    É,então, que os pensamentos, oportunistas que são, surgem a tempestear.
    Já, por mais de uma vez, abri os olhos, olhando para o escuro mais escuro que encontrei, a ver se agarrava os pensamentos.
    Mas, está bem, está! São mais escorregadios que uma enguia. Não há quem lhes deite a mão.
    Acrescento que gosto das madrugadas, sobretudo das que me dizem "vira-te" e me deixam voltar a entrar no sono até ser dia. Aquele pedaço do melhor sono que há, digo eu!
    Abraço

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    1. Olá Carlos
      Seja benvindo outra vez!
      E tem razão, as madrugadas também podem trazer uns soninhos bem agradáveis!
      Beijinho.

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  6. Pois é, Teresa, talvez essa seja em hora em que se insinua uma espécie de fronteira entre aquilo que somos e o que não somos, ou simplesmente um alerta para o muito que não sabemos de nós...

    Beijo :)

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    1. Uma hora estranha, em que somos confrontados connosco próprios.
      Bjs

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  7. Tens toda a razão. É a hora dos medos...

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  8. Escrita e ilustração soberbas. Os rodopios não me deixaram indiferente.
    :)

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  9. Miguel Ângelo Fernandes15 de março de 2012 às 20:19

    Acordar é entreabrir a porta do subconsciente... quase uma caixa de Pandora para onde fomos atirando com o entulho do dia a dia, mesmo sem sabermos... mas isso não interessa nada, porque a essa porta entreaberta para um "mundo" que achamos não conhecer, opõe-se a renovação e a vida, todos os dias e isso só sabe quem assim escreve... Obrigado por partilhares a tua escrita com quem a sabe...

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