Pedaços do mundo na World Press Photo

Está novamente patente em Lisboa a exposição das fotografias premiadas no prestigiado concurso internacional da World Press Photo. Nos últimos anos, tenho tentado não perder, é sempre uma ronda pelo nosso mundo.
Fui hoje ver a exposição. Tem, como sempre, imagens impressionantes. Da faixa de Gaza à batalha por Alepo, da luta das mulheres por reconhecimento, seja no Irão, seja na Somália, das imagens do Japão depois do tsunami às lixeiras onde sobrevivem milhares de pessoas, o que sobra é a marca do sofrimento. Também as fotografias da vida quotidiana têm a mesma marca: é o sofrimento da doença de Alzheimer, a luta pela sobrevivência nas favelas do Rio de Janeiro, os rostos de pessoas marcadas por doenças estranhas e raras. Não consigo deixar de pensar que parece haver um estranho e mórbido fascínio pela morte e pela violência, pela destruição e pela dor. Claro que o fotojornalismo cumpre, entre outras, uma função de denúncia. Mas, neste nosso mundo, não há só dor e sofrimento. Também há momentos de alegria e de celebração da vida, mesmo entre as populações com mais carências. E isso é tão extraordinário e digno de nota como o resto!
Este ano, havia mais uma razão para ir ao espaço do Museu da Eletricidade. Uma das fotografias premiadas era de um jovem fotógrafo português, que representa bem a sua geração: está desempregado! Mas o seu olhar sobre um jogo de futebol entre miúdos, na Guiné, embora a preto e branco, é das imagens mais carinhosas da exposição.
Sai-se dali com um sentimento difuso de depressão. Apesar de tudo, ficaram-me na retina as imagens de um jovem professor que, na India, dá aulas a miúdos sem posses debaixo de uma ponte,com um quadro negro pintado numa parede. É a luta por um mundo melhor, a capacidade de resiliência, a coragem. 
Valham-nos as fotos, belas e poderosas, dos pinguins imperadores no Mar de Ross, na Antártida. Longe dos seres humanos, por isso em paz.

(Batalha por Alepo, fotografia de Fabio Bucciarelli)

Comentários

  1. É mais "fácil" para o fotojornalista obter uma imagem forte no meio da desgraça, do que num meio de felicidade, onde ele nem sabe estar.
    Estou FARTO dessas imagens !

    Um beijo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também estou a ficar cansada de tanta desgraça. Ela existe, claro, mas existem mais coisas, nem tudo é mau! E nós precisamos muito de mensagens positivas!
      Beijinhos.

      Eliminar
  2. Teresa, quando quiseres eu mando-te uma das minhas fotos coloridas e cheias de sol... Eheheh!!
    Agora, fora de brincadeira, tanto tu como o João Menéres, têm toda a razão no que dizem. Mas o fotojornalismo é mesmo assim e também sinto uma enorme tristeza ao ver essas fotos fantásticas, mas... muito tristes!!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  3. Eu geralmente não perco, mas realmente será que só aquilo que choca tem valor?

    ResponderEliminar
  4. Não costumo perder, mas desta vez nem sabia que já estava em Lisboa. Vou averiguar se ainda vou a tempo... ;)

    Quanto às temáticas, fazer o quê, se o mundo nos parece tantas vezes de pernas para o ar? Não vale de muito enfiarmos a cabeça na areia...

    Beijocas!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda vais a tempo, Teté! A exposição está em Lisboa até dia 26 de maio.
      Bjs

      Eliminar
  5. Teresa:
    O ser humano tem uma tendência natural para a fatalidade e desgraça, e as fotos são um reflexo disso mesmo.
    Por isso tantas vezes me refugiu nas coisas belas da a vida ainda tem.

    beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E é bom não perdermos de vista as coisas maravilhosas que ainda por aí existem, à nossa volta!
      Bjs

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições