As Provas do 4.º ano e as Borboletas

Decorreram esta semana, pela primeira vez desde há muitos anos, as provas finais do 4.º ano. Na 3.ª feira, foi a prova de Português. Hoje, foi a vez da Matemática. Calhou-me vigiar uma sala e a prova pareceu-me acessível. Aos alunos da minha sala, também. Estavam calmos e compenetrados, cientes da sua responsabilidade. Sentiam-se crescidos.
Os meninos chegaram, acompanhados pelos seus professores, que os ajudaram a encontrar as salas. Os professores também estiveram presentes no intervalo da prova, para os vigiarem e orientarem no recreio. Tudo decorreu com normalidade. Não houve choros nem desmaios, nem nenhum dos cenários negros traçados pelas confederações de pais.
Há algum tempo atrás, um amigo falava-me das crisálidas e das borboletas. Explicava-me ele que as jovens borboletas tinham de fazer um grande esforço para romper os casulos, mas que esse esforço era necessário para fortalecer as asas. Era o próprio esforço que lhes permitia, mais tarde, voar. Se alguém, cheio de boas intenções, lhes abrisse os casulos, as borboletas não teriam as asas prontas para voar e, a prazo, morreriam.
Os esforços, os desafios, preparam-nos para a vida. Temos de aprender a cair e a levantar-nos outra vez. A persistir nas tarefas e nos nossos objetivos, mesmo quando parece difícil. A enfrentar pequenos desafios, umas vezes com sucesso, outras não, mas continuando sempre a caminhar em frente. A isso, chama-se crescer. Quando os pais, cheios de amor, tentam aplainar os caminhos dos filhos, afastando todas as dificuldades, não os ajudam a crescer.
Hoje, os nossos meninos do 4.º ano foram às escolas dos grandes fazer as suas provas finais e portaram-se muito bem. As suas asas tornaram-se um bocadinho mais fortes.

Comentários

  1. Há muita tendência para fragilizarmos os mais pequenos e acharmos que eles devem ser, demasiadamente, protegidos.
    Gosto da imagem da crisálida e da borboleta e acredito que é mesmo assim. A proteção exagerada, ao invés de ser positiva, acaba por estragar o normal crescimento das crianças. E, por vezes, chegam-nos às mãos tão imaturas, com as asas tão frágeis, que se tornam difíceis de comunicar...
    Gostei muito do teu texto.
    Beijinhos, Teresa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também gostei desta imagem da crisálida, por isso decidi partilhá-la. De tanto querermos proteger, acabamos por impedir o crescimento.
      Bjs

      Eliminar
  2. Concordo em absoluto! Conheço uns que se sentiram muito orgulhosos por terem feito esta prova, não a acharam difícil e nenhum se sentiu nervoso :)))
    XX

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Orgulhosos, por fazerem exame como os mais crescidos.
      :)
      Bjs

      Eliminar
  3. Miguel Ângelo Fernandes11 de maio de 2013 às 09:12

    Deve ser o bicho-de-sete-cabeças que os pais (a CONFAP...) diziam que o exame representava para os miúdos e que os ia traumatizar para o resto da vida...
    Gosto do novo visual aqui da "Optometria do Mundo, Soc. Unipessoal"... gosto mesmo... está mais "clean" e a biblioteca vem mesmo a calhar...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada! Também gosto desse nome, talvez ainda mude...

      Eliminar
  4. Teresa, exatamente, longe vá o alarmismo em volta destes exames. Também escrevi sobre isso no AE e não vejo mal ao mundo com esta medida. Coisas há bem piores... Sem traumas, as crianças sairão, até como se vê pelo seu post, "ilesas".

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As crianças não ficaram nada traumatizadas, já alguns pais, não sei não!
      Bjs

      Eliminar
  5. Concordo com essa comparação da crisálida e da borboleta aplicada às crianças: é lógico que elas têm de aprender a crescer com as suas próprias asas.

    Mesmo assim, acho que não havia necessidade de impôr um exame no 4º ano, como antigamente existia na 4ª classe. Antigamente fazia sentido, pois era o diploma que muitos tinham. Agora, com o ensino obrigatório até ao 9º ano, só nessa altura o exame deveria ser obrigatório. Mas quando a ideia é dar imagem de um ensino exigente, cai-se nestas esparrelas para "inglês ver"...

    Beijocas e bom fim de semana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Teté, também não vem mal ao mundo por exigir às crianças do 4.º ano uma prova final. Faz os miúdos concentrarem-se nas coisas que têm de saber, responsabiliza-os um bocadinho. Felizmente, já lá vai o tempo de se achar que o ensino era todo a brincar...
      Bjs

      Eliminar
  6. Excelente esta comparação minha amiga.
    Tenho no meu blogue uma pequena homenagem aos amigos, se puder passe por lá, terei muito gosto.

    beijinho

    ResponderEliminar
  7. Li o testemunho de uma miúda que disse que não lhe tinha corrido muito bem a prova de Português mas que tinha crescido!
    Achei o máximo!

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A prova de Português era mais difícil do que a de Matemática, mas, como só valia 25%, servia sempre para fazer os miúdos crescer.
      Bjs

      Eliminar
  8. Tenho obrigatóriamente que regressar ao passado e relembrar o meu exame da quarta classe e depois o da admissão ao Liceu.
    Foi realmente um momento muito importante da minha vida que jamais esquecerei.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. São momentos marcantes, não necessariamente negativos.

      Eliminar
  9. Já li várias opiniões contrárias às provas do 4º ano e também são acompanhadas de argumentos pertinentes, no entanto não vejo mal nenhum em os meninos fazerem provas no 4º ano. Mau, mau é chegar ao 12º ano e fazer pela primeira vez exames nacionais sem nunca antes se ter passado por esse género de pressão. Muita gente cai ao comprido precisamente por não saber lidar com essa pressão.
    Pessoalmente não vejo de que modo pode ser negativo fazerem estas provas, mas é só a minha opinião, só mais uma no meio de tantas :)

    Gostei da comparação!

    :)*

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições