Coisas que eu detesto I - Telemóveis nos transportes públicos

Antigamente, podia-se andar sossegado nos transportes públicos. Podia-se sonhar, ler um livro, até dormitar um bocadinho. Eramos embalados pelo rolar do autocarro, as conversas em surdina dos vizinhos, as brincadeiras dos miúdos da escola, um ou outro incidente na rua, que todos espreitavam com interesse. 
Depois, apareceram os telemóveis!... E começamos a ser bombardeados com as telecomunicações a toda a hora. A qualquer momento, surge uma musiquinha irritante. É o sinal de chamada. Alguém atende e, geralmente falando alto, para sobrepôr a voz ao barulho surdo do autocarro (ou do comboio, ou do metropolitano...), responde à primeira pergunta sacramental: "Onde estás?"  
Depois, seguem-se as conversas que todos seguimos voluntaria ou involuntariamente. Ficamos a saber do almoço dos filhos e dos pormenores da consulta médica. Ouvimos discussões conjugais e coscuvilhices. Percebemos intimidades e desculpas esfarrapadas. Não há como fugir, as confidências entram-nos pelos ouvidos dentro.
Há pouco tempo, ainda consegui subir a um novo patamar de involuntária bisbilhotice, quando um indivíduo surdo encetou uma longa conversa colocando  o telemóvel em alta voz, embora junto ao ouvido! Lamento as dificuldades auditivas, mas dispensava a conversa!
Para os metediços e apreciadores da vida alheia, abriu-se um novo mundo de delícias. Mas eu não gosto de me meter no mundo dos outros, gosto de andar embrenhada no meu! 


Comentários

  1. Eu moro na linha de Sintra e como se sabe nos comboios desta linha há uma enorme quantidade de pessoas de cor, que geralmente falam bastante alto. Por vezes é um absurdo as conversas de telemóvel, quase sempre de moças novas. Fico possesso...

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  2. Concordo plenamente contigo.
    Não que tenha esse problema aqui, no Alentejo. Mas quando vou à capital e ando no Metro, isso acontece a toda a hora. É horrível!!
    Bjs

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    1. Vantagens de viveres aí no sossego!
      Bjs

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    2. O sossego espera-te quando precisares de sair do reboliço da capital!!!
      Bjocas

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  3. Ahaha... está muito bem lembrado, este malzinho de que todos padecemos, quer nos autocarros quer noutros locais públicos... para quem goste de cusquices realmente é um fartote... às vezes, eu até me ponho a imaginar, involuntariamente, claro, o que é que a pessoa do outro lado da linha está a responder... =)

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  4. També odeio ouvir as conversas no metro. Nem de propósito, Teresa!... Hoje no On the rocks escrevi sobre uma conversa no metro, em que o uso do telemóvel é muito revelador da pessoa que o utiliza.

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  5. Há algo que me aborrece ainda mais: música de fundo!

    Gosto de silêncio ou do barulho normal do local onde estou e de música, mas ... ter que ouvir o que alguém acha que sim, irrita-me.

    Além disso, esse impedimento de estarmos connosco e ter vida interior tem um propósito bem malévolo.

    Bons sonhos

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    1. São, não sei se tem um propósito malévolo, mas lá que é irritante...
      Obrigada e bons sonhos também. :)

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  6. "...há uma enorme quantidade de pessoas de cor, que geralmente falam bastante alto." Preconceito racial também não é algo bonito.

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    1. Tem razão. Há pessoas de todas as cores e feitios a falar alto!

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  7. A imagem está o máximo! :-))
    Agora que passo mais tempo em Lisboa e uso bastante os transportes públicos, entre outros espaços, farto-me de assistir a cenas dessas!
    As pessoas não se enxergam ao exporem assim a sua vida e não só!

    Abraço

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    1. Não se enxergam mesmo!
      (Não há como o sentido de humor dos portugueses!)
      Bjs

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  8. Na próxima rejeito a chamada...
    :)

    Agora falando sério, perdeu-se por completo a noção do espaço, dos valores, da educação... é o que temos.
    :(

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    1. Tens razão, é uma questão de espaço. Perdeu-se a noção de que os nossos comportamentos não podem ser os mesmos em qualquer situação ou em qualquer espaço.

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  9. Olha, o que mais me espantou em Madrid, é que no metro vai tudo silencioso, à exceção de uns músicos que entram tocam uma ou duas músicas, fazem o peditório e saem para mudar de carruagem: isto porque, salvo raríssimas pessoas, vão todos agarrados a livros, aos e-books e aos telelés - normalmente em troca de mensagens! E tendo em conta que nuestros hermanos são muito mais exuberantes, estranhei!

    Cá noto mais os telefonemas e essas conversas para toda a gente ouvir. Tens razão: que paranóia mais irritante! :P

    Beijocas!

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    1. Pois é, provavelmente é uma questão de educação, de civilidade. Um povo não é mais civilizado por ter um maior número de telemóveis per capita!
      Bjs

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  10. LOL
    Ainda na segunda estive duas horas nas Finanças e ouvi a história completa de um namoro desde o 1º encontro até ao último, descrevendo roupas, restaurantes, refeições e discussões!!!!
    É um horror!

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  11. Também já escrevi sobre isso, há algum tempo. E a pergunta Onde estás é qualquer coisa que me ultrapassa, mesmo:) Eu nem isso pergunto ao meu marido, portanto... :)

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  12. Ao anónimo (tinha que ser um anónimo, claro) que me chamou de racista, venho informar que é um facto real, as pessoas de cor falarem alto quando conversam ao telefone; se ele nunca reparou, não tenho culpa e isso é uma questão que nada tem de racista. Geralmente quem apelida de racista pessoas que o não são, é porque têm ideias sobre o assunto pré-conceituosas.

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  13. Miguel Ângelo Fernandes24 de novembro de 2012 às 22:36

    Xiii... Teresa... aqui há dias uma mocita no metro recebeu uma chamada... primeiro sorriu e atendeu, sempre a falar baixinho, depois o fácies modificou-se, rapidamente passou de sério a triste... ainda balbuciou qualquer coisa, sempre baixinho... eu que não ando tão firmemente metido apenas com a minha vida, interessei-me pelo assunto e da minha dificuldade auditiva passei a modo de sensores no máximo... já não fui a tempo... do outro lado desligaram o telefone e a rapariga ficou num pranto contido horrível... todo o metropolitano se comoveu...

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