Ontem, num semáforo...

Ontem, parei num semáforo numa avenida muito concorrida de Lisboa. Pelo canto do olho, reparei num homem que, no separador central, empunhava um cartão com frases escritas. Confesso que não liguei muito, estamos habituados a ver gente a pedir, com as mais variadas estratégias. Por vezes, até já encolhemos os ombros, percebemos que o dinheiro que se pede é para alimentar o vício. 
Mas houve qualquer coisa que me fez olhar duas vezes. Aquele cartão era diferente, era um murro no estômago. Consegui ler: "Aceito qualquer trabalho. Tenho dois filhos para alimentar". Lembrei-me de cartazes idênticos da época da Grande Depressão, dos anos 30. As imagens de pobreza, desolação, desespero, que associamos a essa crise, vieram-me à memória. Aprendemos que as crises são cíclicas. Mas as pessoas existem aqui e agora. 
O sinal verde acendeu-se e eu afastei-me do homem e do seu cartaz. Na minha memória apareceu outro cartaz da época da Grande Depressão, que reclamava: "Somos cidadãos, não somos apenas transeuntes!" Apeteceu-me voltar atrás, e ficar ao lado do homem com outro cartaz onde poderia ler-se: "Somos cidadãos, não somos apenas contribuintes!" 
Mas continuei o meu caminho.


Comentários

  1. Depois do colorido voltámos ao preto e branco... i.e., "a história repete-se".
    :(

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    1. A história nunca se repete completamente e nós tinhamos a obrigação de aprender com o passado.

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  2. O buraco em que nos meteram é demasiado grande para sairmos dele. e ainda temos a grve dos estivadores, da Cp...
    onde vamos parar ?

    Um beijo.

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    1. Essa é a "million dollars question", como sair do buraco?
      Beijinho.

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  3. É como que um murro no estômago, não é?
    E nós ali sem podermos fazer nada! :-((

    Abraço

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  4. O cartaz é tocante. E o problema é muito mais complexo do que possamos imaginar. As gerações vão sucedendo e a inexperiência faz-nos voltar a cair nos mesmos erros. A agravar a situação vemos um mundo em declínio galopante com os respectivos recursos a esgotar-se a cada dia que passa. Temo que isto não acabe nada bem. (desculpa o meu pessimismo)
    Bjos.

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    1. Também temo que isto não acabe bem. Da outra vez não acabou e, como tu dizes, não há meio de aprendermos com o passado.
      Bjs

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  5. Retrocesso(s)... já devíamos estar mais longe, sim.

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    1. Sim, mais longe ou mais perto, não sei. Em algum ponto que não aqui.

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  6. O POder não desiste na sua determinação de implantar a NOva Ordem Mundial!!

    Um abraço

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    1. São, da Velha Desordem Nacional tratamos nós, certo? :)

      Bjs

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  7. É a multiplicação de situações dramáticas que me faz ter a certeza que isto vai acabar mal. E logo eu, que até sou um optimista...

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    1. Desconfio que vão ainda aumentar... digo eu, que às vezes sou um bocado pessimista...

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  8. Arrepiei-me! Estas imagens ferem mas só a nós que as compreendemos e não a quem é culpado desta situação.
    Lamentável.

    beijinhos

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    1. Fê, não entendo que alguém fique insensível a certos dramas humanos. Beijinhos.

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  9. Tem razão, Teresa, devíamos aprender com a História, indo buscar ao passado exemplos de como as crises aconteceram e de como foram ultrapassadas. Depois como os tempos são outros, tentar adaptar ou aplicar, alguma coisa daquilo que o passado nos legou. Mas, já ninguém liga a isso...O desprezo pela disciplina de História, pelas ciências sociais e humanas, mostram-nos que quem governa fez há muito a sua escolha.

    Beijos

    Olinda

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    1. Pois é Olinda, também não compreendo o desprezo pelas Ciências Sociais e Humanas, e pela História em particular, que já vem de há anos. Significa o desprezo pelo pensamento crítico, pela memória, pela sensibilidade social. Talvez não seja por acaso...

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  10. O pior, Teresa, é que temos a sensação que é a estratégia que os nossos governantes querem para o povo português: de tão desesperados, aceitarem trabalhar por tuta e meia, por uma questão de sobrevivência. Abandonando assim todos os direitos de trabalho que conquistou nos últimos 40 anos...

    Beijoca!

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    1. Teresa, seja qual for a estratégia, se a necessidade apertar é esse o resultado!
      Bjs

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  11. Olá Teresa,
    Já tinha visto alguns dos teus comentários noutros blogs e decidi-me vir conhecer o teu. Gostei. Também sou prof. de História e compreendo muito bem o que disseste e o enquadramento que lhe deste. Espero não chegarmos ao que aconteceu em 1930, mas sinceramente também espero que alguém aprenda com a História....e pelo que se vai vendo, isso não acontece.

    Os dramas sociais que então se viveram, estão agora a repetir-se - na altura com consequências dramáticas para o mundo, vamos ver se agora conseguimos ser mais sensatos!

    Mas não podemos apenas continuar o nosso caminho.

    Beijinho
    (Já sou teu seguidor)

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    1. Olá JP
      Benvindo a este cantinho de divagações avulsas :)
      Não estou muito otimista, acho que não aprendemos grande coisa. E vamos todos continuando o nosso caminho, de uma forma ou de outra. :)
      Beijinho colega!

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  12. Há muito tempo que venho dizendo que estamos a viver um perído idêntico ao da Grande Depressão e o meu medo é que, muito provavelmente, acabe da mesma maneira...
    Tenho visto alguns cartazes pelas ruas de Lisboa que também me têm feito pensar, mas faço como a Teresa. Fico remoído por dentro, mas sigo em frente e às vezes até estugo o passo.

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    1. Não podemos fazer muito Carlos. A não ser mostrar as coisas, obrigar à reflexão. Se calhar é por isso que somos bloggers! :)

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