Anorexias e obesidades



Nos últimos anos, dá-se cada vez mais importância às questões ligadas à nutrição e, provavelmente por causa disso, as palavras e expressões desse domínio extravasaram para outras áreas. Agora que se aproxima o início das aulas, lembrei-me de duas: a anorexia intelectual e a obesidade mental. Em que consistem?
A anorexia intelectual é um processo de que todos somos espectadores, passivos, pacientes, às vezes impacientes mas impotentes... Encontramo-la em alguns alunos. Tal como uma jovem anorética tem a comida à sua disposição, mas recusa-se a ingeri-la, chegando a um ponto em que já não é capaz de o fazer, assim o jovem anorético intelectual tem a informação e a cultura ao seu dispôr, mas não a absorve. Não quer, não se interessa, não se concentra o tempo suficiente, as razões são múltiplas. Ao fim de algum tempo, desabitua-se de ler, de pensar, de consumir qualquer produto cultural um pouco mais complexo. Tornou-se um anorético intelectual. 
Outros há que consomem muita informação, mas não a sabem selecionar. Então, consomem tudo o que aparece, dos "Morangos com Açúcar" à "Casa dos Segredos". Conhecem o nome dos "famosos" (abomino esta coisa dos famosos!), mas não conhecem os clássicos da literatura portuguesa. A não ser pelos resumos escolares. Se precisam de uma informação, vão à net, mas não distinguem um artigo credível de uma entrada no facebook. Isto é, consomem muita informação, mas é principalmente a fast-food da cultura, com muita gordura, um sabor apetecível, mas poucos nutrientes de qualidade. Sofrem de obesidade mental!
Perguntam-me: qual é a validade científica destas classificações? Nenhuma, claro! 
Podem perguntar-me também: e qual é o remédio? Alimentação forçada? Dieta rigorosa? Não faço ideia! Creio que ainda não há uma posologia genericamente aceite para estes distúrbios intelectuais!

Comentários

  1. Bem... não sei se estas duas expressões já existiam ou se são da tua autoria, Teresa, mas são brilhantes e estão muitíssimo bem explicadas... Entre as duas, não sei qual a mais desesperante e muito menos imagino a cura... Algumas traulitadas na cabeça e um bocadinho de educação à moda de há 20 anos atrás (para não ir mais longe) não haveria de fazer mal...

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    1. Confesso que não são da minha autoria. Ouvi as duas, em jeito de piada, em situações diferentes, e achei-as significativas e muito atuais. O resto inventei, claro!
      Acho que gosto do teu método de cura... :)
      Bjs

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  2. por acaso julgava que ias mesmo falar de problemas de nutrição e esta escalada de proibições de comidas nas escolas... que não me parecem contribuir em nada para uma melhor alimentação! Então agora não podem vender croquetes ou rissóis aos alunos porque são fritos e fazem mal? Hei de falar nesse tema, porque neste país parece que é tudo 8 ou 80!

    Quanto a estes problemas, também não sei qual é a solução! Mas torna-se confrangedor, em ambos os casos, assistir a essa má gestão de informação! ;)

    Beijocas!

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  3. A educação começa em casa mas..."quem não tem não pode dar".
    :(

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  4. Ah, Teresa, que bem visto!:)Gostei muito e estão tão bem descritas... são duas maleitas que bem conhecemos nas escolas, não é verdade? :):(

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