Anja Ringgren Lovén, a Educação contra a Superstição

Anja dá água ao pequeno Hope, quando do seu resgate das ruas

Ouvi este nome pela primeira vez há poucos dias. Foi a minha filha que me mostrou a notícia, tão chocante que parecia falsa: uma dinamarquesa tinha salvo uma criança de dois anos, que tinha sido abandonada pela família, acusada de feitiçaria. O caso passara-se na Nigéria e as fotos eram confrangedoras. Aparentemente, o rapazinho de cerca de dois anos, sobrevivia há vários meses sozinho, nem consigo imaginar como. Estava subnutrido e cheio de vermes. Alimentado e tratado, começava agora a recuperar. Anja chamou-lhe Hope.
Anja Ringgren Lovén mudou toda a sua vida há três anos atrás, após uma visita à Nigéria. Nesse grande país africano, deparou-se com um problema terrível: havia crianças que eram abandonadas e maltratadas pelas famílias, por suspeita de bruxaria. É uma acusação espantosa: que feitiçaria pode fazer uma criança com um ano de idade, ou pouco mais? Mas a superstição e a ignorância são mais fortes e levam ao abandono dessas crianças, que pouco mais têm a esperar da vida num continente onde a sobrevivência, por vezes, já é difícil sem estas condições agravantes.
Anja Ringgren Lovén resolveu então vender tudo o que possuia na Dinamarca e mudar-se para a Nigéria, para tentar resgatar e salvar essas pobres crianças-feiticeiras. Fundou a African Children Aid Education and Development Foundation (ACAEDF) e hoje tem a seu cargo 34 crianças, todas acusadas de bruxaria, todas salvas por si. Grande coração de mãe!
"Ser rejeitado pela própria família é a experiência de maior solidão que uma criança pode ter" afirma Anja. A ACAEDF também trabalha para que todas as crianças no estado de Akwa Ibom, no sul da Nigéria, tenham a oportunidade de ir à escola. É muito difícil lutar contra a cultura dominante, da feitiçaria, dos exorcismos e da magia negra, mas Anja acredita que "a educação é a chave na luta contra a superstição". Eu também acredito. Mas vai levar muito, muito tempo!

Hope está a recuperar bem


Comentários

  1. Outro assunto muito surpreendente que parece nunca iríamos presenciar ou ter notícias.Como imaginar uma criança abandonada por nada menos que superstição_ algo étereo sem nenhuma certeza do real.
    Estamos a ver muitas barbaridades,Teresa.
    Que outras'Anjas' surjam para resgatar e dirimir qualquer dúvida que ainda possa existir sobre tais acusações.
    um abraço

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  2. É verdade, Lis, faz muita impressão depararmo-nos com estas notícias, tão fora da nossa realidade. Mas existem, o nosso mundo também integra estas barbaridades, que só a educação pode erradicar. Até lá, abençoadas sejam as Anjas deste mundo...
    Bjs

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  3. Tão pequenino como é possível. Ainda bem que a Anja existe.

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    1. Redonda
      É a única pergunta: como é possível tanta ignorância e insensibilidade?
      Bjs

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  4. Olá, Teresa.
    Cheguei agora ao seu blogue, vim "na sombra da Lis" =)
    Descobri postagens suas de muita riqueza, por apontar um lado do mundo que, muitas vezes, as pessoas preferem não ver, não falar, não comentar. Gosto da confrontação.
    Há sistemas culturais por esse mundo fora, que a nós parece surreal, mas existem, de facto.
    Nossas vidas já ficam "metade escritas" logo, à partida, pelo local geográfico e meio em que nascemos.

    deixo-lhe um abç amg

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    1. Verdade, Carmem. E podemos resignar-nos ou mudar qualquer coisa. :)
      Seja muito bem vinda e volte sempre que lhe apetecer.
      Bjs

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  5. Qualquer acto de amor por menor que seja é um trabalho de paz.
    Anja Ringgren Lovén

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