No autocarro

Há poucas coisas mais animadas, em Portugal, do que viajar nos transportes públicos. Hoje, no autocarro, presenciei uma cena que não resisto a partilhar.
O autocarro já ia meio cheio, com pessoas em pé. Numa paragem, um rapaz entra pela porta de trás, com um senhor idoso. O motorista, atento, grita: "A entrada é aqui pela frente!" Provavelmente, um rapaz comum diria: "Eu sei, amigo, e peço desculpa, mas estava a tentar ajudar este velhote!" Mas esta frase não condizia com aquele rapaz. Era um adolescente, de cabelo espetado e brincos nas orelhas. Retorquiu logo, com maus modos: "E então? Qual é o problema?" O problema foi que o motorista não gostou do tom e respondeu também. A troca de palavras foi aumentando, na animosidade e nos decibéis... 
- Respeitinho, ó rapaz!
- Mas o que é que este quer? Arranca com isto, mas é!
- Olha que eu ponho-te no olho da rua!  
- Eu pago o passe, tenho direitos! Eu é que lhe pago o ordenado e está pr'aí a falar!
- Tu tens sorte, que nem tens cara para levar um par de bofetadas!
Confesso que a minha simpatia estava mais do lado do motorista. Ao longo dos anos, já tive a minha conta de respostas insolentes, por parte de miúdos que não distinguem um adulto investido de alguma autoridade de um colega da escola.
Mas o autocarro estava dividido. Toda a gente comentava e dava palpites. Uns defendiam o rapaz, outros estavam do lado do motorista. Como na vida, enfim...
No banco fronteiro ao meu, um casal de turistas de meia idade observava a cena, entre o fascinado e o surpreendido. Tão engraçados, estes nativos! So typical! Sempre de sangue quente, estas gentes do Sul!


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

A Figueira da Foz e Jorge de Sena

Cigarros, chocolates e cigarros de chocolate

Sapos e outras superstições