Grácia Nasi, uma história de vida
Hoje, quarta-feira de cinzas, começou oficialmente a Quaresma. Para os cristãos é um tempo de reflexão, de pensar em coisas sérias. Dei por mim a pensar na problemática religiosa no mundo actual, na tolerância versus intolerância, nos vários tipos de fundamentalismos. E, bem a propósito, lembrei-me do último livro que li, intitulado Grácia Nasi - A Judia portuguesa do Século XVI que enfrentou o seu próprio destino. Escrito por Esther Mucznik, é um livro fascinante. Não é um romance, é antes uma biografia de uma vida tão cheia e aventurosa que parece um romance. E lê-se com a mesma avidez.
Grácia Nasi nasceu em Portugal em 1510, numa família judaica expulsa de Espanha. Em Lisboa, a família enfrenta a conversão forçada ao cristianismo, no reinado de D. Manuel, e Grácia é baptizada como Beatriz de Luna, mantendo toda a vida esta vivência ambivalente.
Fica viúva muito cedo, herdando a fortuna do marido e continuando o seu percurso como uma verdadeira mulher de negócios. Mas a época é difícil, a Inquisição instala-se em Portugal e Grácia consegue organizar a sua saída do país, viajando com a família para Antuérpia. De Antuérpia para Veneza, depois para Ferrara, daí para Istambul, Grácia vai fugindo com a família e os seus haveres, à medida que a Contra-Reforma se estende pela Europa e a Inquisição estende as suas garras cada vez mais longe. Entretanto, vai criando uma rede de contactos comerciais e financeiros e construindo um império baseado no comércio das especiarias, que acrescenta a sua já imensa riqueza. Mas Grácia também utiliza essa riqueza e essa rede de contactos para ajudar os judeus e marranos perseguidos, especialmente na Península Ibérica.
O livro vai muito para lá da simples biografia porque nos pinta os ambientes e o contexto histórico de cada local onde Grácia se instala. É de uma grande riqueza de pormenores e baseia-se numa aturada pesquisa documental.
Somos confrontados com documentos e imagens chocantes, que nos remetem para tragédias muito mais recentes. É o caso da ratificação, em 1555, pelo Papa Paulo IV, do Estatuto de Limpeza de Sangue, que excluía os cristãos-novos de numerosos cargos. Da criação dos primeiros guetos, como o de Veneza. E o que dizer da Bula "Cum Nimis Absurdum", publicada pelo Papa no mesmo ano, onde referia que " era absurdo e desapropriado que os judeus, cuja culpa os condenou a uma servidão perpétua, se mostrem tão ingratos... A sua insolência tem ido tão longe na nossa capital, na cidade de Roma,e noutras cidades e aldeias... que se atrevem a viver misturados com os cristãos... na vizinhança de igrejas, sem nenhuma distinção no vestuário e alugam casas nas melhores ruas e praças..."
Podíamos continuar, os exemplos infelizmente não faltam. E quando os nossos filhos e alunos nos perguntarem onde estiveram as raízes do anti-semitismo nazi, já sabemos o que responder.
Obrigado pela dica.
ResponderEliminarLinda história dessa mulher e confesso minha ignorância, não a conhecia!Fica a dica! Há tanto de bom pra ler e aprender,não?beijos,tudo de bom,chica
ResponderEliminarObrigada por mais esta partilha que desconhecia.
ResponderEliminarBjos
Já tinha ouvido falar nesse livro, que me foi aconselhado também por uma amiga bloguista, no seguimento de outro que li sobre o tema, em jeito de romance: "As Fogueiras da Inquisição", de Ana Cristina Silva.
ResponderEliminarTempos terríveis esses!
Beijocas!
Teresa, obrigada pela visita.
ResponderEliminarO mundo e suas histórias tristes. Ninguém está livre de nada neste mndo.
Boa semana
AH!!! Estás lindana nova foto no perfil.
Bjao
Tomei nota desta obra.
ResponderEliminarBjs
Olá Teresa
ResponderEliminarSempre que falas num livro, fico deliciada a ouvir-te ou a ler-te, como é o caso. Como gosto das tuas sugestões de leitura, compro sempre o livro e delicio-me também a lê-lo.
Beijinhos
Mais do que a biografia dessa mulher corajosa, é essa mostragem documental. Não sabia que existia uma biografia publicada sobre ela e folgo em saber devida a sua importância no passado,; no livro deve constar que ela tentou construir uma pátria judaica na Palestina. Mas enfim, a Bula "Cum Nimis Absurdum" é reconhecida como o documento cristão antijudaico mais devastador que jamais foi escrito. Requis que os judeus usassem distintivos de ignomínia, vivessem em guetos e vendessem qualquer propriedade fora dos muros do gueto.
ResponderEliminarDica anotada! Por onde anda?
Espero que a amiga esteja bem, tenho saudade suas.
ResponderEliminarbeijinhos
Mais um ano que se vai e desse jeito o tempo vai moldando nossas vidas! Hoje eu vim pra registrar boas intenções, pra vibrar positivamente em direção a um ano ainda mais feliz pra todos nós!
ResponderEliminarQue 2012 nos traga muita inspiração, muitos assuntos pra compartilhar, muito dinamismo... além de saúde, de amor, de dinheiro e fartura!
Bom natal, feliz ano novo!
Jr.