Ainda estou acordado, só tenho a alma a dormir
As drogas, como substâncias que induzem o adormecimento, a excitação ou a elaboração de fantasias e ilusões, são conhecidas e utilizadas pelo Homem desde sempre. Mesmo nas civilizações mais antigas encontramos vestígios da utilização dessas substâncias, por exemplo, antes de batalhas, ou em cerimónias religiosas. Basta lembrarmo-nos da famosa Pitonisa do Santuário de Delfos, que dava os seus oráculos embalada por ervas que eram postas a queimar no santuário. Ou das grandes orgias dionisíacas. Ou de tantos outros exemplos. Qual é a diferença entre essas épocas e a actualidade? É que hoje as drogas são um produto comercial, como qualquer outro. Os grandes traficantes de droga não têm quaisquer considerações éticas ou religiosas. Não se preocupam com os estragos sociais e morais que causam. Traficam droga, como traficam armas ou crianças para a prostituição. No entanto, eles só vendem porque há quem compre o seu produto. Por isso, eu defendo a “tolerância zero” face às drogas. Não há drogas leves e duras, há drogas. Todas, em maior ou menor grau, de forma mais passageira ou mais grave e duradoura, causam a mesma alienação de si próprio, o mesmo “deixar de ser”. E isso parece-me o mais triste: perdermos o respeito por nós próprios, desligarmos da vida e ficarmos dependentes, como vegetais. É desse estado de alienação que fala a canção Logo que Passe a Monção que decidi incluir neste post. Foi composta em 1991 por Rui Veloso, um cantor de que gosto bastante, sobre uma letra de Carlos Tê, para o Álbum “Auto da Pimenta”. Nessa sua obra, Rui Veloso canta momentos da epopeia portuguesa dos Descobrimentos, alguns gloriosos, outros nem tanto, como a situação retratada nesta canção, dos marinheiros portugueses que andavam pelas terras do oriente e por lá ficavam, agarrados ao ópio. Foi da letra desta canção que retirei o título deste post. |
Logo que Passe a Monção
Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado
Num casebre de bambú na minha esteira deitado
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção
Sei que tenho de partir logo que suba a maré
Mas até ela subir volto a encher o narguilé
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva a cair
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir
Como a folha de bambú a deslizar na corrente
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente
Nos arrozais morre a chuva noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu me vou sem morrer
Para quê ter de partir logo que passe a monção
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão
Ópio bendito ópio minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor de ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei
Peço desculpa pela péssima qualidade do vídeo, mas foi o único que encontrei no youtube. Convém ouvir a música seguindo a letra, sem ligar à imagem, que é má demais!
Então não é que esqueci completamente o dia 26 e esta participação?
ResponderEliminarEu concordo plenamente contigo e é das coisas que me mete muito medo, principalmente, pensando que tenho dois filhos que, mais cedo ou mais tarde sairão debaixo das minhas asas e voarão sozinhos. Novos espaços, novos encontros, novas experiências...
Também sou tolerância ZERO quanto às drogas e custa-me muito aceitar qualquer razão, seja ela qual for, para quem entra nelas. Mas cada caso é um caso e cada um sabe de si.
Um beijinho
Romicas
Ah, que beleza de post. Logo que passe a monção.
ResponderEliminarBem sacado, sensibilidade na escolha.
Gratíssima por participar
Bea
Tereza, parabéns pelo post! Concordo contigo: só há a oferta porque há a demanda... Abraços!
ResponderEliminarOi Teresa,
ResponderEliminarTambém participo dessa blogagem. É muito difícil mesmo lidar com essa questão. Tornou-se uma pandemia e das mais bravas que a história da humanidade já conheceu. Foi um prazer conhecer seu blog e aparecerei por aqui mais vezes para ler com calma. Te aguardo no meu.Ah! A letra dessa música é profunda, triste como a própria condição do usuário.
Bjs
Obrigada, amigas, pelos vossos comentários. Já vou espreitar também os vossos espaços.
ResponderEliminarBjs
Teresa, prazer em ler você! Hoje li apenas a postagem da blogagem. Depois volto! Abraço.
ResponderEliminarGostei, Teresa!
ResponderEliminarMuito boa a sua participação, o seu blog e a letra da música é espetacular!
Um abraço!
Fecho com você. Tolerância Zero! Nada justifica o uso, o tráfico e todas as consequências sociais que isso trás direta ou indiretamente.
ResponderEliminarÉ minha querida,
ResponderEliminareu vi bem de perto como as drogas destroem pessoas e famílias inteiras e só posso concordar com você...
Espero sinceramente que um dia este horror tenha fim!
Um grande beijo e essa imagem é impactante!!!
Dizem que nós só damos valor às coisas depois que as perdemos. Somente quando fui internado por uso abusivo de cocaína foi que comecei a pensar sobre o valor e o peso das escolhas que fazemos em a nossa vida. Durante todos os anos de drogadição acabei criando uma visão tão distorcida da realidade, trocando-a por um mundo de fantasias, que não percebi que a cada dia me afastava mais e mais do caminho da lucidez e me aproximava do caminho da loucura. Felizmente tive uma segunda chance. Iniciativas como a de hoje são de grande valor para a conquista de um mundo mais racional.
ResponderEliminarUm abraço!
Lúcia e Alba
ResponderEliminarObrigada. Já deixei uma palavra nos vossos blogues também.
Bjs
Marcos
ResponderEliminarTolerância Zero foi o nome da campanha de segurança rodoviária que decorreu há tempos aqui em Portugal. Achei que se podia adaptar ao uso de drogas também. Se começamos a aceitar uma parte do que é mau, e está errado, como sabemos onde parar?
Abraço
Teresa
Olá Serena Flor
ResponderEliminarPois é, as drogas não destroem só os consumidores, mas abalam irremediavelmente as famílias.
Beijinho
Fábio
ResponderEliminarObrigada pelo testemunho tão sentido!
Parabéns e força!
Teresa, não conhecia seu blog, gostei muito e passo a seguir. Tb estou na coletiva e só agora pude passar para comentar os postados. Muito sensível seu post. Abraço!
ResponderEliminarTeresa, outra diferença é que as drogas agora são sintetizadas ou misturadas para causar mais dependência e quando vão comprar, os usuários são na maioria das vezes, sabedores disso, pois a pergunta é feita: Querem pura ou misturada. Tanto faz, para esses com o espírito empobrecido; a falsa felicidade há de ser estimulada. De que eles precisam para serem resgatados para a realidade? Compreensão, tratamento médico e amor, seguindo a ordem correspondente: a sociedade, o governo e a família têm a sua parcela de responsabilidade no resgate deste ser humano! Beijus
ResponderEliminarAdorei!
ResponderEliminarOLA TEREZA!
ResponderEliminarParabéns Tereza!
Há uma historia real em meu blog,a escola descrita é onde estou como diretora há 8 anos.
Boas energias
Parabéns pelo texto.Também concordo com você que não há drogas leves ou pesadas.Todas se equivalem.
ResponderEliminarTambém estou participando da blogagem.
Gostei muito de seu blog.Passo a segui-lo.Um abraço.james.
Olá Tereza!
ResponderEliminarConcordo com você...tolerância zero!!!
A droga faz parte de quem acha que a vida é uma droga!!!
Também estou participando da blogagem coletiva.
Um abraço
Astrid Annabelle
Vanessa e Rebeca
ResponderEliminarobrigada pela visita e pelos comentários!
Bjs
Luma
ResponderEliminarTem toda a razão: as drogas sintéticas são mais perigosas porque mais viciantes!
Eu só pretendi ilustrar o estado de alienação da vontade em que se cai com o uso das drogas, neste caso o ópio (ou qualquer opiácio).
Beijinho
Teresa
Mari e James.
ResponderEliminarObrigada pela visita. Já fui espreitar os vossos blogues e há uma coisa em comum: a face humana da droga, os casos concretos.
Obrigada e bjs
Teresa
Olá Astrid
ResponderEliminarObrigada pela visita e pelo comentário.
Beijinho