Postal de Lisboa XVI – A Igreja de São Domingos

Não é das Igrejas mais visitadas de Lisboa. Não corremos o risco de andar por ali a tropeçar em grupos de espanhóis ou japoneses, como acontece nos Jerónimos. E, no entanto, situa-se em pleno centro de Lisboa e poucas igrejas reflectem tanto da nossa história nas suas pedras.


Fica por trás do Rossio, no Largo de São Domingos. A fachada não chama a atenção. Pelo contrário, a chusma de gente que por ali se reúne diariamente até nos afasta do local. E, se não a gente que se acotovela, afastam-nos os pedintes que, mostrando as suas chagas, estendem a mão ao espírito sensível dos que entram e saem da igreja.
Mas vale a pena fazer um esforço e entrar neste espaço. Aqui se edificou uma igreja logo no século XIII. Mas é a Igreja do século XVIII, projectada por Ludovice, que é quase totalmente destruída pelo Terramoto de 1755. É ela que nos aparece numa gravura célebre da época, que evoca a destruição, a desorientação, o terror, da população lisboeta.
É reconstruída por Manuel Caetano de Sousa, após o Terramoto, aproveitando o portal e a sacada da Capela Real do Paço da Ribeira, totalmente destruído pela catástrofe.

(Fotografia do Largo de São Domingos em 1915)

É ali que vão ser guardadas algumas das relíquias do chamado “milagre de Fátima”: o lenço de Lúcia e o terço de Jacinta. No entanto, em 1959, um incêndio destrói novamente o templo. É reconstruído, mas deixando à vista de todos as marcas da destruição. É dos aspectos mais interessantes, e ao mesmo tempo mais impressionantes, deste monumento. As paredes, as colunas, os altares, mostram bem essas marcas: há zonas queimadas, há pedaços partidos ou em falta. Não foi feita uma reconstrução, mas tudo o que não é original é bem visível, pela utilização de um cimento vermelho, que o destaca propositadamente, dando-nos uma dimensão palpável das tragédias que se abateram sobre esta igreja.


É um espaço de memórias sobrepostas. É também um espaço que evoca a nossa capacidade de recuperação e superação. E, porque está frio, nada melhor do que sair da Igreja e entrar na “Ginginha de Lisboa”. É a verdadeira, a genuína, diz-se nos cartazes pitorescos que emolduram a entrada. Vale a pena provar. Eu garanto.

(Imagens retiradas da Internet)

Comentários

  1. Entrei nessa Igreja, há muitos anos, quando ia fazer compras à baixa... Tenho de lá voltar. E de caminho provar a verdadeira ginjinha, que nos tempos áureos da ASAE também foi fechada à má fila, mas que foi reaberta uns tempos depois... :)

    E sim, a História da Igreja de São Domingos é recheada de catástrofes!

    Beijocas!

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  2. Conheço a igreja e já a fotografei varias vezes. Achei muta graça ao pano do lenço da Irmã Lúcia logo à entrada da igreja do lado direito e um terço usado pelos pastorinhos. Uma verdadeira relíquia!

    Nao conhecia muitos dos pormenores aqui deixados sobre a igreja, pelo que agradeço. Também conheci a igreja acidentalmente, e gostei muito do que li.

    Um beijinho amigo

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  3. Interesssante pensar no fato de não reformarem a igreja: um exemplo de resistência ao tempo talvez?

    Shisuii

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  4. Teresa

    Visitei esta igreja há tantos anos já...

    Um exemplo da preservação do tempo!

    Um beijinho e votos de um Feliz Natal

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  5. Amiga:
    Sou alfacinha conheço e aprecio muito bem esta igreja, mas fiquei agora a conhecê-la bem melhor.
    Mas hoje vim aqui com o propósito de lhe desejar um Natal e um Ano Novo para si e para os seus, cheios de Saúde, Amor e Paz.
    Muitos beijinhos

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  6. É curioso.
    Eu que não sou nada de actos religiosos, como manda a Santa Madre Igreja, por vezes, entro ao acaso numa igreja e ali permaneço a encontrar-me comigo próprio; e foi assim, que já por várias, entrei na Igreja de S.Domingos.
    Até está ali mesmo "à mão"...

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  7. Maria João, Fê
    Obrigada pelos votos. Um bom Natal também para todos os meus amigos que aqui me visitam.

    Shisuii
    Eu penso que é, antes, um exemplo de preservação de memórias.

    Bjs

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  8. adoro a igreja de sao domingos e linda

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