A alma é uma biblioteca


Escreveu Rubem Alves que a nossa alma é uma biblioteca, onde guardamos as nossas histórias. Gosto desta ideia. De facto, ao longo dos anos, vamos guardando dentro de nós as nossas histórias, bem arquivadas por temas, idades, graus de intensidade com que nos marcaram, ou simplesmente empilhadas por ali, sem grande critério, só porque nos apetece tê-las à mão. 
São as histórias da infância, que a mãe ou a tia velhota nos contava e recontava com infinita paciência. É a Abelha Maia e o Carrosel Mágico. São as séries da televisão, que víamos apaixonadamente, projectando-nos nos seus heróis. Lembro-me dos "Pequenos Vagabundos" e da ânsia com que via passar o tempo para os acompanhar nas suas aventuras. Os primeiros livros com as suas tristes heroínas, "A Princesinha", "As Mulherzinhas".
Depois, à medida que vamos crescendo, a nossa alma biblioteca tem de aumentar as suas instalações. Passamos a arquivar lá os nossos filmes de eleição, aqueles que nos marcaram por qualquer razão, sabe-se lá, às vezes, por que razão! Alguns foram importantes porque responderam a questões que trazíamos connosco. Outros, pela beleza das suas imagens ou da sua mensagem. Outros ainda, porque foram o cenário de algum beijo furtivo ou aperto de mãos envergonhado que, é claro, fazem parte de outra história.
Depois, lá estão os grandes livros da nossa vida, que nos prenderam até à última linha, que nos emocionaram, que nunca esquecemos. 

(A Anica, do Carrosel Mágico, sempre com o seu cão Franginhas)

Todas estas histórias ficam connosco, moldam-nos de alguma maneira e ajudam-nos a crescer.
Por fim, há a nossa própria história, composta de tantas outras pequenas histórias, das quais somos os heróis e as heroínas. É a mais complexa de todas, porque se cruza com todas as outras. Há excertos que nos fazem sorrir, outros que nos fazem chorar. Como em todas as histórias, ao fim e ao cabo. E como em todas elas, desejamos que tenha um final feliz.
Folhear estas histórias é apreender as nossas memórias e os nossos anseios, é compreender a nossa própria alma.

Comentários

  1. Teresa,
    Que em 2011 estejamos mais uma vez unidos pelo porder das palavras que nos impulsionam a sonhar e dão o espaço necessário para desabochar o que há de melhor em nós...
    Um lindo e especial ano novo!
    Jr.

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  2. Confesso que não gosto muito da palavra alma, que tem uma conotação meio religiosa. Mas no sentido de espírito concordo que é uma imensa biblioteca!

    Curioso também é que lemos muito dos mesmos livros na infância, actualmente nem tanto assim: dos que leste este ano (a lista deve estar incompleta), só li o do Zambujal. E vi "Expiação" no cinema, portanto conheço a história, já não gosto tanto de ler quando sei o final... :)

    Beijocas!

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  3. Mais um ano está chegando ao fim, e na beleza das noites iluminadas, os sonhos de muitos corações se preparam para a viagem à procura de suas realizações, que ocorrerá durante todo o ano vindouro.
    A mesma ocorreu no ano que por hora se finda.
    Sonhos saíram, alguns já voltaram sorrindo e outros, de mãos vazias, aguardam a chegada do novo ano, para seguir numa nova busca
    E quando a meia-noite trouxer o Novo Ano para o mundo e os fogos de artifício anunciarem a sua chegada, nossos sonhos sairão por aí...
    Que Deus tome a frente e que nas noites sem luar, as estrelas brilhem mais forte, iluminando o longo caminho.
    Que no próximo ano possamos continuar a ser amigos e esperarmos juntos a chegada dos nossos sonhos que partiram, comemorando com imensas taças de amizade verdadeira a vinda e a realização de cada um.
    FELIZ ANO NOVO.....FELIZ 2011

    Beijocas

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  4. Belíssimo texto, bem construido e quase doce. E é verdade o que encerra. A história pessoal constrói-se diariamente desejando sempre, de afcto, o final feliz. E, sim, é também a mais complexa. Boas analogias e ja agora os meus votos de um FEliz Ano Novo na continuidade de uma sconstruição que se quer verdadeira e feliz...

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  5. Gostei da imagem,mas há livros na minha história que preferia que nunca tivessem sido escritos.

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  6. Lindas recordações, essas vão ficar para sempre.
    Beijinhos

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  7. Também associo os livros ás minhas melhores recordações.
    Era fã do franjinhas, como eu gostava do carrossel mágico.
    Excelente texto minha amiga.
    Desejo-lhe tudo de bom para o próximo Ano.

    beijinhos

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  8. A leitura deste texto fez nascer em mim (por paradoxal que possa parecer)uma certa nostalgia do que nunca tive...
    Quando a correr passei pelo tempo de ser menino, o meu único contador de histórias foi o Mwata, um velho negro, empregado de servir em casa de meus pais. Não só me contava histórias como as desenhava no ar, com os seus dedos finos de artista, colorindo-as com palavras que só ele sabia. Histórias de encantar, que estão bem guardadas nas minhas memórias.
    Depois, a vida andou, e eu também.
    A meio da adolescência dei por mim a ler Dostoiévski, Pitigrilli, Eça, Pessoa e outros, que um primo me fazia chegar às mãos. Não mais parei, tornei-me um leitor compulsivo.
    Aproveito, Teresa, para lhe desejar, e aos seus, um Novo Ano com tudo de bom.
    Abraço

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  9. Teté

    Liamos, com certeza, os mesmos livros na infância. E se calhar agora também. Estou a ler Vargas Llosa, que já comentáste e elogiáste. Só que o nosso tempo não dá para tudo.

    Carlos Barbosa de Oliveira e Daniel Lobinho
    Todos temos historias que preferíamos não ter escrito. Mas vamos sempre tentando encontrar o nosso final feliz.


    Como esquecer o Franginhas da nossa infância?

    Carlos Albuquerque
    Que memórias as suas, lindas, ricas! E nós conseguimos entrevê-las nas histórias que vai partilhando connosco.

    Demo Gra Pia
    Mal ou bem arrumadas, as nossas histórias andam por lá empilhadas!

    A todos os amigos
    Um Ano Novo muito feliz!

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