Mulheres e marionetas
Fui assistir, quase por acaso, a um espectáculo interessante e diferente: "Marioneta meu amor" junta a música de Amílcar Vasques-Dias a uma demonstração, feita pelo marionetista Manuel Dias, de como os bonecos podem ganhar expressão e quase mostrar sentimentos e emoções. O acompanhamento, ao piano, feito pelo próprio compositor, partiu do recente CD de Amílcar Vasques-Dias "Desnudo", baseado na poesia feminina hispano-árabe dos séculos XIII e XIV. Cada boneca ganha vida nas mãos do marionetista, criando momentos de grande intimidade onde temos um vislumbre de como eram essas mulheres. As poetisas que aqui são recordadas eram mulheres muçulmanas que viviam no Al-Andaluz. Eram cultas, interessantes, faziam poesia, falavam dos seus amigos e amantes. E não eram mortas por isso.
(O compositor, o marionetista, e uma das suas bonecas)
Aqui há dias, a Teté, no seu blogue Quiproquó, lembrava o drama da adolescente que foi atacada pelos talibãs por ter a coragem de reclamar para as raparigas o direito à educação. Lembrei-me dos poemas dessas mulheres que viviam no Al-Andaluz muçulmano, há tantos séculos atrás. Como é possível que a condição feminina tenha sido tão reprimida, tenha retrocedido tanto, como se a história tivesse andado para trás e não para a frente? A culpa não é com certeza da religião muçulmana, mas dos que a interpretam, com talas nos olhos e uma pedra no coração, como acontece com todos os fundamentalismos.
Como mulher, sofro por todas as mulheres que são obrigadas a esconder o seu corpo e a sua personalidade, por medo, atrás de uma qualquer burka. E temo que, para as mulheres muçulmanas, a chamada Primavera Árabe, que tantas esperanças levantou há um ano atrás, não venha a ser mais do que um outono. Ou mesmo um ocaso.
É, já houve um tempo em que os árabes se notabilizavam pela sua cultura. Mas parece que realmente retrocederam, ou melhor, que preferiram reinterpretar a religião de uma forma em que as mulheres são seres inferiores, sem direitos e às ordens dos homens para todos os serviços. Assim nasceram os novos tiranos fundamentalistas...
ResponderEliminarQuanto ao espetáculo, deve ter sido interessante. No mínimo, parece muito original... :)
Beijocas!
Teté
EliminarConfesso que embirro com todos os fundamentalismos, sem exceção! E então quando tornam as mulheres seres subalternizados, não suporto!
Bjs
Sem dúvida, Teresa, que o problema não é religioso, mas sim de mentalidade e pressão do meio, devido às erróneas leituras que se fazem, satisfazendo os desejos obscurantistas de muitas cabeças que ditam "leis". Mas também acredite que há mulheres que usam o véu porque querem - e na mesma família, duas irmãs podem ter conceções completamente diferentes acerca disso, uma usa e a outra não. Conheço alguma realidade árabe - tunisina - e acredite que há algumas mulheres que optam por usar. Não compreendo mas é assim.
ResponderEliminarFátima
EliminarProvavelmente, a razão dessa escolha tem a ver com a tal pressão do meio e com a mentalidade, que faz com que as mulheres assumam como voluntários os próprios comportamentos que as inferiorizam.
Parece que falamos de um outro planeta, quando o assunto é este... PArece que não é aqui ao pé, já do outro lado do Mediterrêneo, que esta história surreal é o pão nosso de cada dia para tanta gente oprimida... É medonho pensar nisto...
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