Portugal colorido
Um destes dias, fui à minha costureira buscar umas calças que lá tinha deixado a arranjar. É uma rapariga russa, que veio para Portugal há uns cinco anos. É uma mulher despachada, mostra sempre boa-vontade em resolver os problemas, cumpre os prazos combinados com as freguesas. Abriu uma lojinha com um balcão, de onde emerge o seu rabo de cavalo dourado como um feixe de trigo, sempre atenciosa e educada. Fala com um sotaque característico, embrulhando os verbos e os substantivos, mesmo quando fala com os dois filhos, que andam na escola e já falam português melhor do que ela.
Depois, passei pela lavandaria. Pertence a um casal argentino, que começou este negócio com muitas dificuldades. Prosperaram graças à simpatia e à competência, sempre prontos a tentar todas as estratégias para lutar contra alguma nódoa mais difícil. A filha mais velha já trabalha com eles, a mais nova ainda anda na escola. Nunca perderam o sotaque cantado e colorido e os olhos verdes da mulher ainda refletem com nostalgia os bosques de abetos da sua Patagónia natal.
À esquina da minha rua, há uma churrasqueira. São uns rapazes brasileiros que exploram o negócio, embrulhando os frangos assados num sorriso e numa palavra simpática. Ainda lá passo antes de voltar a casa.
De frango na mão, baloiçando no saco de plástico, não posso deixar de pensar neste Portugal colorido, tão diferente do Portugal monocromático da minha infância.
Os imigrantes não nos dão apenas os impostos que pagam e que ajudam as nossas deficitárias finanças públicas, ou os filhos que têm e que contrabalançam um pouco a nossa envelhecida demografia. Muitos regressaram aos seus países de origem, mas muitos outros continuam por cá, tentando ultrapassar a crise tal qual como todos nós. E além disso tudo, também nos trouxeram um Portugal menos sisudo, menos cinzento, mais descontraído e alegre.
Pintaram Portugal com cores diferentes.
(Multidão colorida - Imagem do Google Images)
É um Portugal multicolor e multicultural!
ResponderEliminarA senhora que me faz pequenos arranjos na roupa é ucraniana, linda, loira, de olhos azuis...
Uma simpatia!
Abraço
Novas cores e novas culturas. Temos de encarar isso como uma mais-valia.
EliminarBjs
Com a descolonização as cores e mentalidades do país começaram a mudar, mas, a paleta ainda pode ser mais enriquecida... (digo eu, que sou daltónico).
ResponderEliminar:)
Sim, começou com a descolonização, mas nessa altura o processo ainda era traumático. Hoje pode ser vivido com serenidade e abertura. Mesmo pelos daltónicos :)
EliminarTeresa, ainda bem que pensa assim! Conheço pessoas de Portugal e outros países que não enxergam a imigração com bons olhos. Pensam que estão sendo invadidos e que a cultura será corrompida. Um texto que nos leva à refletir. Na minha rua, temos italianos, argentinos e noruegueses. Na rua de baixo temos franceses e na de cima, ora! Portugueses... mas sabe, aqui o que mais tem são portugueses e a cidade, a sua arquitetura, tem muito de Portugal! Uma vez ao ano, temos a "Festa Portuguesa". Nos sentimos invadidos? Não, nos sentimos enriquecidos e somados. Boa semana!! Beijus,
ResponderEliminarTambém conheço pessoas assim, Luma. Mas a diversidade é sempre um fator de enriquecimento, não é?
EliminarBjs
Muito oportuno este post, Teresa. Devia ser de leitura obrigatória para todos os que continuam por cá a ser xenófobos e a a acusar os imigrantes de (quase) todos os males do nosso país. Pessoalmente, só me insurjo contra os imigrantes da troika que vêm para cá gozar o sol e sacar-nos o pouco que temos.
ResponderEliminarObrigada Carlos. É mesmo o que eu penso. Tomara que estivessemos a abarrotar de imigrantes, era sinal de que a nossa economia estava próspera e em crescimento. E acho mesmo que a diversidade cultural só nos abre os horizontes.
ResponderEliminarOs que acusam os imigrantes de serem ladrões, e mais não sei quantas coisas, esquecem-se da quantidade de portugueses que também não primam pela honestidade. Há gente boa e má em todo o lado. Não podemos tomar a nuvem por Juno.
Bjs
Concordo absolutamente contigo. Não consigo perceber gente que se insurge contra os estrangeiros que cá residem e trabalham, como se estivessem a roubar-lhes qualquer coisinha - na maior das vezes fazem trabalhos que ninguém quer ou arriscam em negócios que os portugueses não arriscam. Então para quê essa má-vontade, maledicente e com traços de inveja? E quando foi necessário aos portugueses serem eles a emigrar, por muito que também tenham deparado com umas quantas caras feias, que seria deles se tivessem sido todos mal recebidos?
ResponderEliminarHá que viver e deixar viver! Se com alegria, melhor ainda! :)
Beijocas!
E não reparas que aqueles que mais protestam, são os que menos fazem pelo país? Sempre fomos um país de emigrantes, mais uma razão para receber bem aqueles que para cá migram.
EliminarBjs
quem me dera todas as pessoas tivessem essa opinião,a minha esperiencia de estrangeira a viver em Portugal só me provou que as pessoas nos chamam de ladroes,prostitutas e bruxas.quando as pessoas não gostam que pessoas não portuguesas tenham uma vida melhor que elas,partem logo para chamar nomes e acusar, mas nunca lutar para ter uma vida melhor.
ResponderEliminarAs pessoas que pensam assim e dizem essas coisas só demonstram uma grande ignorância e uma insegurança ainda maior.
EliminarBjs
É bem-vindo quem vier por bem. E que procura o nosso país para obter uma vida honesta, baseada no trabalho, só merece o meu respeito e admiração. Beijoca!
ResponderEliminarÉ um texto exemplar para ser lido por tanta gente xenófoba que existe no nosso país.
ResponderEliminarAinda há dois dias vi numa reportagem televisiva, o caso de três médicos, um cubano, uma colombiana e um búlgaro que trabalham em centros de saúde da lezíria ribatejana, onde não haveria médico se eles não estivessem lá.
Ao contrário de certas mentes xenófobas, penso que o mosaico de culturas é enriquecedor para o nosso país. Gosto desta miscelânea cultural, do entrosamento, desde que cada cultura não se funda na outra, nem perca a sua identidade.
EliminarAo contrário de certas mentes xenófobas, penso que o mosaico de culturas é enriquecedor para o nosso país. Gosto desta miscelânea cultural, do entrosamento, desde que cada cultura não se funda na outra, nem perca a sua identidade.
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