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Os nossos vizinhos pássaros

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  Às vezes, a Natureza invade a cidade. Se lhe dermos tempo e sossego, a Natureza extravasa os jardins e baldios e traga tudo o que o Homem laboriosamente construiu.  Os pássaros, por exemplo, invadem constantemente o espaço da cidade, tomando-o como seu, tal como nós. Muitas vezes, nem reparamos neles. Ouvimos as suas restolhadas e chilreadas nas árvores e vemos os seus voos em bandos sincronizados, mas não lhes dedicamos mais um minuto dos nossos pensamentos. Outras vezes, damos conta das suas vidas, pouco privadas. Coexistimos. Há um casal de falcões que se habituou a vir todos os anos fazer o ninho numa floreira de um prédio de apartamentos. Os donos da casa tomam cuidados; não abrem a janela, para não incomodar o casal. Entretanto, os pequenos falcões nascem. Os vizinhos vão acompanhando os seus progressos. "Olha! Já se vêem os falcõezinhos! Já se ouvem, quando batem com os seus pequenos bicos na janela! Já ensaiam os seus primeiros voos!" Um casal de pardais, o mais com

A pandemia obscura

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Temos passado os últimos dois anos distraídos com a pandemia do Covid 19. Mas, entre ansiedades e confinamentos, tem crescido outra pandemia, subterrânea, obscura: a violência sobre as mulheres. Os números são tenebrosos. Todos os anos a PSP recebe milhares de queixas por violência doméstica. Destas queixas, algumas poderão refletir comportamentos ou descontrolos pontuais. Mas muitas delas vão acabar em situações graves, ou mesmo na morte das queixosas. Sabemos que, em cada mês que passa, uma mulher morre em consequência de uma agressão em situação de intimidade, isto é, perpetrada por um familiar próximo, geralmente o companheiro ou ex-companheiro. Nos últimos dois anos, estes números aumentaram, já que houve situações em que as vítimas ficaram fechadas em casa com o seu agressor. Mas nem só da violência doméstica se alimenta esta violência contra as mulheres. Há o assédio, a manipulação psicológica, a violência pontual, porque surgiu uma oportunidade... É assim que acontecem alguns c

As Palavras do Ano

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Quando tenho dúvidas na ortografia ou no significado de uma palavra, tenho o hábito de consultar online o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Eu e alguns outros milhares de portugueses. Com base nessas consultas, o site do Dicionário fez um levantamento das palavras mais pesquisadas pelos portugueses no ano que há dias terminou. Uma palavra por mês, a palavra mais procurada nesse mês... E o resultado é bem interessante. As palavras são as seguintes: Janeiro - Armão A urna com os restos mortais de Mário Soares foi transportada num armão militar durante o cortejo fúnebre. Fevereiro - Exoplaneta Uma equipa de astrónomos anunciou a descoberta de sete exoplanetas (fora do sistema solar). Março - Desfaçatez No debate quinzenal, o primeiro ministro acusa o seu antecessor de desfaçatez. Abril - Cartilha O Futebol Clube do Porto acusa o Benfica de fornecer uma cartilha aos comentadores desportivos. Maio - Preces Salvador Sobral pedia "ouve as minh

Ainda se caçam Pokemons?

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Escrevi num post anterior que, quando passei por França, no mês de agosto, só se falava de dois assuntos, nos telejornais: o problema do burkini e a polémica da caça aos Pokemons. Não que alguém quisesse impedir esse singular desporto da era digital. Falei com vários jovens sobre o assunto e todos me declaravam enfaticamente que era muito saudável caçar Pokemons porque os fazia caminhar quilómetros e interagir com outros caçadores. Aceito o argumento, embora me pareça que era a mesma coisa se corressem na marginal ou andassem de bicicleta... Nas noites quentes de verão, encontravam-se às centenas por Lisboa, desde Belém até ao Parque das Nações. Os caçadores de Pokemons eram facilmente reconhecíveis. Caminhavam geralmente em grupos, todos mais interessados nos seus telemóveis do que na conversa com o vizinho do lado. De vez em quando, agrupavam-se em certos locais: parece que aí havia mais pokemons à solta, ou ginásios para os ditos fazerem qualquer coisa que nunca percebi be

A minha liberdade condicional

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Eu não sabia, mas cometi um crime: estou doente. Desenvolvi uma tendinite no ombro direito que me tem dado muito que fazer! Depois de meses a tentar conciliar as aulas com os tratamentos, a correr para não deixar nada para trás, a dormir mal com as dores e com a ansiedade, a minha médica disse: Basta! E pôs-me de baixa. Veredito: braço em repouso e fisioterapia, de preferência, diária. A baixa médica transformou-me logo num suspeito, aos olhos do Estado. A nossa elite legisladora, que sabe bem como contorna a lei quando lhe dá jeito, julga-nos a todos pelo seu próprio exemplo. Daí a suspeição! Eu podia utilizar a pequena fortuna com que o Estado me remunera mensalmente (especialmente em situação de baixa) para, por exemplo, ir apanhar sol para a República Dominicana, ou, pelo menos, para deambular pelos centros comerciais, a comprar as prendas de Natal... Sendo suspeita de defraudar o meu empregador, sou sujeita a uma medida de coacção: termo de identificação e residência. Medida

A viagem de balão que eu (não) fiz...

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Terminou neste fim de semana o 20.º Festival de Balões de Ar Quente, que pôs, mais uma vez, dezenas de balões a colorir os céus do Alentejo. É sempre um espetáculo magnífico e eu lá rumei até terras alentejanas, para voar ou, simplesmente, apreciar as vistas... Os anúncios do festival declaravam " Para os mais destemidos, há viagens diárias e gratuitas em balões de ar quente, que permitem assistir ao brilho do nascer e pôr-do-sol e desfrutar das paisagens da planície alentejana. Só têm de estar nas tendas dos “meeting points” às 6h30 ou às 14h45, tendo em atenção que há vagas limitadas." Eu não me sentia com muita coragem para essas esperas, mas os anúncios falavam também de vouchers, com voos garantidos. Como tenho amigos no Alentejo, pedi para me comprarem os vouchers. E paguei-os de boa vontade, já que eram vendidos pelos bombeiros e o seu valor revertia para as suas corporações. E, no sábado, lá fomos para o Alentejo! Às 14h e 30, a fila já começava a formar-

O caos em Lisboa

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Este início do ano letivo, que corresponde também ao final das férias para muitos portugueses, tem sido especialmente penoso para os lisboetas. As obras em várias zonas da cidade, assim como a degradação do serviço público de transportes, tem trazido o desespero e uma fúria resignada a todos os que têm de se deslocar para trabalhar ou fazer qualquer outra coisa na capital. Já se tem ouvido falar dos problemas do metropolitano de Lisboa. Não os entendo bem. Nos últimos anos, havia greves dos trabalhadores do metro semana sim, semana não, alegadamente em defesa de um melhor serviço para os passageiros; e, no entanto, tudo parecia funcionar bastante bem. Agora, a situação é caótica mas não se ouvem protestos. Será que o serviço está melhor? Parece-me bem que não! Não me lembro de chegar à linha azul e ver que o próximo comboio só parte dali a vinte minutos. Esperas de quinze, dezassete minutos tornaram-se vulgares. O resultado é evidente: estações cheias e comboios apinhados.