(A Igreja de Santa Engrácia vista de São Vicente de Fora)
Diz o dicionário que o Panteão é o conjunto dos
deuses, ou o local onde se presta culto aos deuses, mas, atualmente, é o nome
dado ao edifício consagrado à memória dos homens ilustres e onde se depositam
os seus restos mortais.
Há em Portugal dois mausoléus aos quais foi dada a
designação de Panteão Nacional: o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, porque aí
se encontram os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso
Henriques e D. Sancho I; o outro é a Igreja de Santa Engrácia. Esta Igreja
começou a ser edificada em 1682, mas as obras só terminaram em 1966, dando
origem à expressão “obras de Santa Engrácia” para algo que nunca mais acaba. O
edifício é recuperado para Panteão Nacional em 1916, em plena Primeira
República, colocando aí os túmulos dos nossos presidentes da República e de
escritores portugueses. Aí estão sepultadas personagens tão diferentes como os
nossos primeiros presidentes, Teófilo Braga e Manuel Arriaga, mas também o
efémero e contraditório Sidónio Pais; o presidente do Estado Novo Óscar
Carmona, tal como o opositor ao regime, Humberto Delgado; os escritores Aquilino Ribeiro, João de
Deus, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, e até a fadista Amália Rodrigues. São
também aí evocados, através de cenotáfios, as personalidades de Luís de Camões,
Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Nuno Álvares Pereira, Vasco da
Gama e do Infante D. Henrique, ainda que os seus corpos não estejam presentes.

(O túmulo de D. João IV)
A Igreja de Santa Engrácia, a que
chamam então Panteão Nacional, fica situada na freguesia de São Vicente de
Fora, a mesma onde se situa o Panteão dos Braganças. Sem nada que o identifique
externamente, quase escondido no edifício do Patriarcado, ao lado da Igreja de
São Vicente, sem espaços grandiosos nem mármores coloridos, mas com muita
dignidade, encontramos o Panteão onde se encontram sepultados todos os nossos
reis da dinastia de Bragança. Desde D. João IV, o rei que restaurou a
independência de Portugal, até ao último, D. Manuel II, que morreu no exílio.
Aí estava D. Pedro IV, primeiro Imperador do Brasil, líder dos liberais na
guerra civil, que entretanto foi transladado para Ipiranga, no Brasil. Aí estão
ainda D. Pedro II, o rei da nossa primeira fase de industrialização; D. João V,
o nosso Rei-Sol; D. Pedro V, o criador do Curso Superior de Letras e
modernizador do país; D. Maria II, a educadora; e todos os outros, até D.
Carlos e o seu filho D. Luis Filipe, assassinados em 1908. Lá está também uma impressionante
figura de mulher (representando a rainha D. Amélia, ou a nação?) chorando pelo
marido e pelo filho mortos.

(A Nação chorando junto aos túmulos de D. Carlos e de D. Luis Filipe)
Compreendo que a República tivesse
medo da Monarquia. Mas hoje já não se justifica esta distinção tão injusta. O
Panteão Nacional, tal como o espaço onde se integra, uma igreja que nunca o
foi, é um panteão muito pouco nacional. Quanto muito, é o Panteão da República.
Porque, quanto à notoriedade dos que lá estão sepultados, o Panteão dos
Braganças é, claramente, um panteão mais nacional, representativo de três
séculos da nossa história. Não é considerado Panteão Nacional porquê? Era
interessante refletir sobre isso.